“Tinha era que matar mais”: Temer escolhe assessores entre haters da rede?

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Complexo Prisional Anísio Jobim, em Manaus. Foto: Reprodução.

Por Leonardo Sakamoto. 

”Tinha era que matar mais. Tinha que fazer uma chacina por semana.”

Na sua opinião, essa declaração sobre os presos mortos no Massacre de Manaus foi dada por:

a) Um hater da internet que, na opinião dos vizinhos, é um ”homem de bem”, ”pai carinhoso”, ”trabalhador exemplar”, ”pagador de impostos”, ”pessoa tranquila”, mas que, na frente do computador, torna-se capaz de matar com as próprias mãos com requintes de crueldade;

b) Um perfil falso de rede social criado para apoiar políticos ou movimentos que querem se vender como novos salvadores da pátria, mas defendem a tradição, a família e a propriedade, tentando mostrar que o problema do mundo é a defesa dos direitos humanos;

c) Um miliciano de um grupo que tomou uma área na periferia de uma grande cidade das mãos dos traficantes e obriga, com base em muita violência, o comércio e a população a pagarem por proteção (proteção contra ele próprio, no caso);

d) Um apresentador de TV ou um locutor de rádio que ganha dinheiro explorando a história de assassinatos e agressões, difundindo a narrativa de que a solução para a violência é mais violência e criando uma sociedade do medo sob a justificativa de ”mostrar a realidade”;

e) O secretário nacional de Juventude, responsável por elaborar, monitorar e implantar políticas de promoção da dignidade dos mais jovens, um cargo que, por natureza, deve trabalhar ideias novas e transpirar esperança.

A resposta é a alternativa ”e”.

A declaração foi dada por Bruno Júlio (PMDB), secretário nacional de Juventude. Aliás, ex-secretário, pois as declarações dadas ao blog Panorama Político, do jornal O Globo, nesta sexta (6), tornaram insustentável a sua permanência no cargo, que foi entregue a Michel Temer.

É inacreditável, mas não passa um dia sem que alguma autoridade dê uma opinião estapafúrdia sobre o caso. Como José Melo, governador do Amazonas justificando as mortes, dizendo que ”não tinha nenhum santo”. Ou Michel Temer, presidente da República afirmando que foi um ”acidente pavoroso”.

Isso não é engano. Na prática, todos sabem que, ao dizer essas aberrações, externam o que uma boa parcela da população realmente pensa sobre isso. Alguns, como Bruno, até parecem acreditar realmente nisso.

O ponto é que quem ocupa um cargo público deve defender a lei e não fazer proselitismo com quem não dá a mínima para ela. O Estado não deve agir com os mesmos métodos de bandidos, mas também seus representantes não podem adotar discursos que insultem a dignidade humana.

Abrir uma exceção a isso é decretar a falência do Estado de direito. E, repito, isso não é defesa de bandido, mas de nós mesmos. Porque, sem isso, será a regra do mais forte.

Parte da população, em momentos de comoção, feito uma horda desgovernada, pede sangue. Afinal de contas, ”aquele bando de bandidos não são seres humanos porque desrespeitaram a lei”. E mesmo ”os que não mataram ou estupraram, matariam se pudessem”, não é mesmo? ”Devem apodrecer por lá”.

Tenho medo desse ponto de vista. Ele está presente em turbas ensandecidas que ignoram a lei e fazem Justiça por conta própria, não raro matando inocentes. Mas também em uma população com tanto medo de si mesma que acaba por ignorar as leis e se guiar por discursos que prometem o impossível: garantir a paz promovendo a guerra. Pois, no final das contas, essa guerra com ares de inquisição se estenderá a todos, sem exceção. Daí, ou você está do lado deles ou contra eles.

O que me lembra sempre de Oscar Wilde: ”Há três tipos de déspotas. Aquele que tiraniza o corpo, aquele que tiraniza a alma e o que tiraniza, ao mesmo tempo, o corpo e a alma. O primeiro é chamado de príncipe. O segundo de papa. O terceiro de povo”.

Em tempo, se você chutou ”a”, ”b”, ”c” ou ”d” no teste, não duvido que também tenha acertado. O que é desesperador.

Fonte: Blog do Sakamoto.

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