Tenda da Democracia da Capital Catarinense traz cultura e debate sobre o futuro do País

Por Márcio Papa, Florianópolis, para Desacato.info.

A Tenda Cultural tem por objetivo apresentar a população -através do debate- o instante que vivemos de golpe de Estado, protagonizado pelo Congresso nacional e acobertado acintosamente pelo judiciário brasileiro, o que tem reflexos diretos no nosso cotidiano.

Através de clara avaliação da conjuntura política, a Tenda quer demonstrar o envolvimento de interesses financeiros, e o ocultamento de práticas corrupção de parlamentares. A interrupção do governo de Dilma Rousseff está sendo orquestrado por uma parcela do próprio Estado, com apoio da mídia comercial, do capital financeiro nacional e internacional.

A educadora Izide Fregnani reflete o pensamento de segmentos da sociedade organizada, que prevê um agravamento no atendimento em serviços essenciais, previstos em leis e na Constituição, que são conquistas históricas dos trabalhadores e sendo obrigações do estado para com todos os brasileiros.

No raciocínio  dos organizadores da Tenda da Democracia, com entendimento da realidade vivida, a participação popular generalizada tornará possível a reversão desta situação de mudança perigosa no cenário da democracia brasileira.

A Tenda da Democracia é provocada pelas elites dominantes, que se impõem, por meio do fisiologismo de suas bancadas ruralistas , evangélicas e  através de mudanças na Constituição, sem a anuência da maioria da população.

O processo de impeachment,  que julga a Presidenta Dilma Rousseff como culpada por crime de responsabilidade, e gera o efeito  da perda de seu mandato, em síntese, é uma eleição indireta ilegítima de um vice-presidente sem o seu consentimento do povo, e fere o princípio democrático da representatividade  popular.

O governo interino de Temer utiliza-se de artimanhas, que revelam um grande esquema ilegal de geração de mais dívida pública estadual e municipal. E, com o a alegação do cumprimento de metas do superavit primário, para pagamento dos juros das dívidas públicas interna e externa, vem cortando investimentos. Isso, porque os consideram despesas, o que transgride o dispositivo constitucional que determina a realização da auditoria da dívida (previsto com a participação de entidades da sociedade civil , no Plano Plurianual 2016/19,  essa  vetada pela Presidenta Dilma em 14 de janeiro deste ano).

O grande desafio, da Tenda, segundo Izide Fregnani é possibilitar uma conversa entre os movimentos sociais e a população, que possa traduzir  a complexidade conjuntural em uma linguagem simples e acessível, sobre o que acontece politicamente neste momento, em nosso País.

A Tenda da Democracia preparou uma ampla programação cultural, iniciada nesta quinta, quando exibiu, com o filme “Osvaldão”, que apresenta a vida de Osvaldo Orlando da Costa. Mineiro de Passa Quatro, negro  de família de ex-escravos, que estudou no Rio de Janeiro e na Tchecoslováquia, teve treinamento de guerrilha na China, e no retorno  ao Brasil, no Sul do Pará, durante a ditadura militar, tornou-se comandante da Guerrilha do Araguaia. Foi assassinado pelos militares no período da ditadura e  é considerado como desaparecido. Foi um guerrilheiro negro, herói nacional, de quase dois metros de estatura.

Com a trilha sonora é de Daniel Altman, o filme conta a caçada aos militantes que defenderam os direitos, que hoje í, em Altamira , Sul do Pará.

O cineasta Vandré Fernades, um dos três diretores do filme, esteve em Florianópolis para acompanhar a exibição, no Largo da Alfândega. A película, teve nela inseridas cenas de um documentário tcheco, que retratou o cotidiano de alunos estrangeiros. Osvaldo Orlando foi seu protagonista enquanto estudante daquele país.

Vandré Fernandes Diretor filme Osvaldão Foto Márcio Papa Desacato. 2jpg

O diretor Vandré Fernandes, conversou com a reportagem do Portal Desacato e disse:

“ Há uma mística em torno do Comandante “Osvaldão”. Ele é uma figura de importante liderança, que enfrentou militares fortemente armados, que lutou pela democracia em nosso país, há menos de cinquenta anos atrás…”

“Os negativos do documentário “tcheco” foram cedidos por Marcelo Pomar… A família emocionou-se, pois não havia visto estas imagens de Osvaldo até então…”

Com argumento e roteiro de Vandré, que exigiu da produção dois anos de intensas pesquisas, é dedicado aos guerrilheiros que tombaram no Araguaia.

O filme foi realizado inteiramente por quatro coletivos, com financiamento de diversos sindicatos e a Fundação Maurício Grabois.

Lançado inicialmente em parceria com o “Catarse”, que é responsável por hospedar projetos em plataforma online, pelo desenvolvimento tecnológico da mesma, o atendimento de dúvidas e problemas, (tanto de apoiadores quanto de realizadores) e garantir a segurança das transações financeiras, possibilitou o filme, concorrer em festivais em algumas capitais.

Vandré Fernandes Diretor filme Osvaldão Foto Márcio Papa Desacato

Segundo a visão do diretor, este trabalho coletivo, reflete novamente, o contexto que se desenrola na atualidade; Verificando-se a intenção maliciosa da classe dominante, em ver consumada a perda dos direitos civis e da criminalização de movimentos sociais . E ainda, o enquadramento idêntico de manifestantes como terroristas.

“Durante a pré-ditadura militar, o forte setor reacionário agiu igualmente de maneira brutal às reivindicações de direitos.- Hoje, Você pode ser até agredido nas ruas se dizer que á comunista comunista, muito parecidamente a 1964.  É uma volta ao passado, um atraso político e social, que não serve para o Brasil, nem daquele tempo nem ao de agora…”

Florianópolis é a única “praça” – o filme esteve sento exibido apenas em circuito comercial- no Sul do país onde não foi exibido nos cinemas.

Vandré interagiu com os espectadores no fim da exibição, e comentou sobre os relatórios de Ângelo Arroyo, onde descreve a morte da  professora primária, Maria Lúcia Petit. Considera-os como verdadeiros, porém revelou que suas pesquisas indicaram que vasta documentação foi queimada pelos militares (inclusive há relatos de que foi lançada uma bomba de napalm na região).

A Guerra do Araguaia permanece envolta em um profundo mistério. O cenário dos crimes de guerra nunca foram inteiramente apurados:  “ …Irá custar caro às forças armadas. Isso impede até hoje a abertura de muitos documentos oficiais”, completou.

Um detalhe interessante é que José Genoíno, (acusado por militantes da resistência armada de que teria delatado companheiros durante torturas) foi sub-comandante durante a guerrilha, estando subordinado à Osvaldão. Durante as filmagens, ele fora preso, impedindo a apuração de maiores detalhes.

O grande o carisma e o importante papel exercido pelas mulheres guerrilheiras, -que geralmente atuavam na comunidade e dentro de um ambiente verdadeiramente familiar- revela que a maioria dos guerrilheiros era deslocada em casais . Entre essas mulheres estavam a professora Áurea, e a companheira Diná, muito admiradas entre os cidadãos locais. 

Osvaldão1

É público o fato de que no ano de 1976, o exército retornou à região e desenterrou corpos, que segundo relatos, foram “desovados” em rios e /ou queimados. Tiveram negado o direito a um sepultamento digno, e sem a certeza de sua morte.  A avó de Osvaldão, enquanto viva, o aguardou -como muitos parentes o fazem- com um prato preparado na mesa de Natal para seu querido neto herói.

Agenda da Tenda da Democracia

Hoje sábado são esperados os “Palhaços em Rebeldia”, a presença do MST, a presença de povos indígenas, músicos de maracatú e uma banda de choro.

No domingo é aguardado o grupo “ Samba pela democracia”, seguida de uma grande assembléia popular, para que todos os brasileiros residentes em Florianópolis tragam consigo suas afirmações, dúvidas e questionamentos,  garantindo a participação de todos para demonstrar que a democracia brasileira está viva, e ela, de fato, é sim, o mais puro desejo de sua população.

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