Tempo para repensar arquiteturas mentais e pegadas ecológicas no Planeta

Imagem: ecodhome.files.wordpress.com

Por Elissandro Santana, para Desacato.info.

As pegadas ecológicas oriundas dos modelos societário-econômico-financeiros de produção em todo o mundo extrapolaram os limites possíveis de recuperação biológica do planeta. Para manter o atual padrão de consumo, o ser humano, através de seus sistemas de produzir alicerçados no capitalismo que a tudo destrói, em nome do lucro, levou a Terra a viver a crédito.

No ritmo atual, com a poupança ecobiológica esgotada, o bicho racional voltado para o capital inaugurou a terrível era geológica dos homens, o antropoceno, período no qual a ordem é a aética biocêntrica.Na sede do e por viver melhor, o homo economicus aniquilou a própria capacidade de ser humano e deu voz aos anseios desmensurados do capitalismo selvagem (indultem-me a redundância) que se alimenta e se retroalimenta da miséria dos pobres. O pior nisso tudo é que dos ricos, à classe média, aos próprios pobres, todos compraram e vendem o discurso desse sistema como referência a ser seguida. Essa arquitetura mental-social-político-econômica, evidentemente, gera taxas ecológicas que serão cobradas a juros altíssimos, aliás, já estão, mas que a humanidade teima, no âmago da alienação por meio do consumo, arrancar esperança onde não existe sob o manto da ilusão de que amanhã será possível consertar os erros.

Frente a tal quadro, ambientalistas, alguns cientistas ambientais e estudiosos em geral, que discutem as questões ecológicas, já afirmam que diante da cultura do consumo e dos parâmetros equivocados de “desenvolvimento” que adotamos são necessários bem mais que um planeta para suprir os sonhos de consumo.

Essa ideia do consumo que sempre esteve e está atrelada à noção de poder e da acumulação recebe fomento de campos diversos das culturas humanas. Da religião à mídia. Do dia que nasce até a velhice, o bicho homem é adestrado para o imaginário de posse e de consumo como sinônimos de vida plena, de realização pessoal e de aceitação social.

A partir da produção em série de bens e serviços, da Primeira Revolução Industrial até chegar à Revolução Tecnológica na qual nós estamos na atualidade, sociedades ocidentais, e até de alguns países do mundo oriental, colocaram em prática ações que ultrapassam o campo do viver bem e alcançam o desejo do viver melhor.

A partir do documento andino do viver bem, produzido no governo ecológico de Evo, na Bolívia, tem-se que o grande e grave problema é que no viver melhor reside algo egoísta, pois viver melhor implica que alguém não viverá tão bem quanto você e isto se configura como egoísmo no mais profundo grau. Tal egoísmo possui muitas explicações e, dentre elas, a principal é o sentimento de posse, de poder e de consumo.

No reino do consumo, vende-se de tudo, desde a promessa do paraíso nos templos de adoração ao divino a partir dos sequazes da fartura em nome de um deus, às bênçãos financeiras, à liquidez do “amor” e das amizades. Hoje, seguindo uma linha analítica complexa moriniana, pode-se dizer que, de fato, vivemos de morte e morremos de vida, tendo em vista que no grande comércio da existência e da não existência, barganha-se da vida à morte.

Os tempos nos quais estamos, a partir de Lipovetsky, são de sociedades da decepção em eras do vazio. Nesse contexto de decepções, vazios e esvaziamentos em todos os campos, os sonhos humanos se resumem à posse como realização pessoal, mecanismo para afugentar os fantasmas da consciência de que a vida é curta e, por isso, é preciso torná-la prazerosa até o limite do impossível, por meio do comprar, do acumular, do bel-prazer em consumir a tudo e a todos, inclusive autoconsumir-se.

Não bastasse tudo o que foi mencionado, temos o insustentável crescimento da população mundial, ainda que alguns pensem que estamos em tempos de equilíbrio demográfico. Com mais pessoas, mais consumo e, consequentemente, mais demandas por recursos naturais e, com nosso capital biológico esgotado, retornaremos, sem dúvida, à barbárie.

O triste nisso tudo é o fato de que mesmo sabendo que estamos em um poço em queda livre tudo segue normalmente no grande teatro de horrores que construímos e com o qual nos acostumamos.

Elissandro Santana é professor da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.

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