Surtos de microcefalia já ocorriam antes da epidemia de Zika vírus, mostra estudo

Um grande número de bebês nasceram com microcefalia no Brasil, já em 2012, três anos antes do surto de Zika vírus, se forem levados em conta os critérios usados pelo Ministério da Saúde, segundo pesquisa da cardiologista pediatra Dra. Sandra Mattos. Em sua pesquisa, ela avalia 16,208 nascimentos entre 2012 e 2015 no estado da Paraíba.

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A coleta dos dados contou com a ajuda da ONG Círculo do Coração que registrou os dados cardiovasculares de mais de 100 mil de recém-nascidos na Paraíba. A pesquisa explica que a circunferência da cabeça dos recém-nascidos não era levada em conta e que devido aos 500 casos – aproximadamente – de microcefalia relatados na Paraíba nos últimos meses, uma força tarefa foi realizada para resgatar os dados relacionados a circunferência da cabeça de 16,208 recém-nascidos que correspondem a 10% dos mais de 100 mil nascimentos já documentados pela ONG.

Três critérios foram usados para detectar os casos de microcefalia:

  1. O critério do Ministério da Saúde do Brasil que estipula como microcefalia a circunferência da cabeça igual ou menor a 32 centímetros para os bebês nascidos não prematuramente.
  2. Curvas de Fenton, onde a microcefalia corresponde a uma circunferência de cabeça inferior a -3 em relação ao desvio padrão para idade e sexo.
  3. Critérios de proporcionalidade, onde microcefalia é igual a uma circunferência de cabeça inferior a metade da altura.

O estudo documentou sobre a microcefalia:

“Dependendo dos critérios utilizados, neste exemplo, de 4 a 8% de crianças nascidas entre 2012 e 2015 tinham microcefalia. Os recém-nascidos que preenchem todos os três critérios representaram cerca de 2% da amostra. Se, no entanto, apenas os casos extremos são considerados, os neonatais que preenchem todos os três critérios estão dentro dos intervalos esperados reportados para microcefalia em todo o mundo. A Tabela 2 resume estes resultados.”

tabela 2

Outro detalhe interessante aparece em um gráfico da pesquisa que mostra o enorme crescimento nos casos de microcefalia no primeiro semestre de 2014 (primeiro e segundo trimestres) que coincidem exatamente com o período pré Copa do Mundo, em gestações que obviamente se iniciaram em 2013. Novamente os casos de microcefalia na Paraíba ocorrem antes do surto de Zika vírus. O gráfico mostra dois saltos nos casos de microcefalia, ambos no período pré Zika vírus.

figura 1

Para a CBC – rede de TV canadense – a Dra. Sandra Mattos se dizia surpresa. “Nós temos que lidar com um inimigo desconhecido.”, declarou a cardiologista pediatra.

A mídia canadense também levantou questões que ainda estão muito mal explicadas como do porque mais de 80% das suspeitas de casos de microcefalia ocorrerem no Nordeste do Brasil, sendo que em nenhum outro lugar da America Latina, que tenha clima similar, surtos de microcefalia ocorreram, como na Colômbia, por exemplo.

Epidemiologista alemão acredita que o Brasil não registra seus casos de microcefalia totalmente

O epidemiologista Dr. Christoph Zink, de Berlim, vem mapeando dados disponíveis publicamente, a partir do surto de  Zika vírus em termos de quando apareceram os casos, a distribuição geográfica e a epidemia contínua de microcefalia. Zink suspeita que trata-se de uma enorme falha na coleta de dados de microcefalia no Brasil, nos últimos cinco anos. O doutor propõe uma outra explicação possível para a recente concentração de casos de microcefalia no Nordeste.

“Eu logo tive a ideia de que culpar o vírus da Zika para esta epidemia realmente não nos levará ao ponto. Gostaria de pedir aos meus colegas toxicológicos no Brasil que por favor olhem muito de perto para a aplicação prática de agroquímicos em seu país”,  alertou o Dr. Zink.

Está claro que o Zika vírus colocou luz sobre um problema da saúde pública brasileira que andava sendo jogado para debaixo do tapete, revelando um fracasso dos órgãos de saúde em fazer algo elementar: registrar e criar um banco de dados para realmente poder entender e combater as enfermidades que assolam milhões de cidadãos.

Referências:

Microcefalia no Nordeste do Brasil: uma revisão de 16 208
nascimentos entre 2012 e 2015 (Microcephaly in northeastern Brazil: a review of 16 208
births between 2012 and 2015)

CBC

Fonte: Panorama Livre.

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