Subjetividades estão sob ataque, dizem profissionais da psicologia. Por Marcos Ferreira

 

“Arco Íris” (1917), de Paul Klee. (Foto: Wikimédia)

Por Marcos Ferreira.

“O conhecimento psicológico está sendo usado de uma maneira que coloca em risco tanto a saúde mental da população, quanto a própria convivência democrática”, diz o manifesto intitulado ALERTA À SOCIDEDADE BRASILEIRA, assinado por mais de trinta organizações de Psicologia de todo o país (confira em https://www.compromissosocial.org.br/manifesto).

A sobreposição de vários mecanismos que incluem 1) a captura da atenção e de informações sobre as emoções das pessoas, 2) a transformação dessas informações em dados sobre populações inteiras, 3) a identificação de nichos de audiência e de receptividade a diferentes tipos de orientação, 4) a informação dirigida e customizada a cada um desses nichos e, ainda, 5) o advento de aparatos de comunicação que permitem um nível extremo de individualização e velocidade no acesso a ela; criou uma situação de grave risco para a convivência social e para o desenvolvimento de cada cidadão.


O que nos chamou a atenção de profissionais da Psicologia ao tema é o nível de sofisticação dos processos e a dificuldade generalizada de reconhecer que eles estejam acontecendo. Essas tecnologias são potentes, penetrantes e eficientes. Isso leva a uma naturalização de processos inaceitáveis do ponto de vista humano e uma prostração da sociedade diante de suas prováveis consequências deletérias.

No médio e no longo prazos, essa produção e coleta de dados é apontada por estudiosos como arma capaz de estabelecer um novo processo de colonização do planeta, por parte daqueles que detenham essas tecnologias. E nós da Psicologia, por tudo o que estamos conseguindo compreender, estamos vendo que essa ameaça seja algo real e iminente.

Não se trata de rejeitar algum desenvolvimento tecnológico, que tem resultados positivos inegáveis na vida humana, mas de apontar que essas tecnologias não completaram ainda seu processo de humanização. De fato, é perceptível que elas seriam altamente eficazes para apoiar a sociedade em diversas dimensões de sua integração e auto-reconhecimento.

No dias 2 a 4 de dezembro, centenas de profissionais e trinta e uma organizações da Psicologia participaram do III Simpósio Nacional promovido pelo Instituto Silvia Lane, onde foi elaborado o manifesto. Dentre as entidades encontram-se Sindicatos e Conselhos Regionais de Psicologia de doze estados brasileiros, Institutos de Psicologia, além da União Latino-americana de entidades de Psicologia. O tema do evento foi “Estamos sob ataque: disputa das subjetividades pelas tecnologias da comunicação”.

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