Sou professor, não herói

Por Delmar Bertuol.

É cômodo e oportuno o discurso político de valorização do magistério, afinal, quem discorda de que professores devem ganhar mais? O problema é justamente que os discursos nunca são colocados em prática.

Pra compensar a desvalorização financeira, os governos e até mesmo a sociedade elogiam a classe com hipérboles equivocadas. Fala-se em missão, em heroísmo, em dom, entre outros. Ora, não sou professor por dom. O sou porque estudei – e muito! – uma licenciatura. É claro que alguma simpatia prévia pela profissão eu senti, mas isso ocorre com qualquer outro profissional de qualquer ofício.

Acordo cedo todos os dias não pra cumprir uma missão, mas pra fazer o meu trabalho que, também como em qualquer outro emprego, tem suas peculiaridades e diários desafios, inclusive envolvendo outras pessoas muitas vezes jovens e/ou crianças.

Menos ainda sou um herói. Faltam-me os superpoderes. Além disso, heróis são anônimos, não recebem salários e arriscam as suas vidas pra salvar a sociedade. Professores, além de não ficarem pulando dum prédio a outro atrás de malfeitores, também não são anônimos – o que, inclusive, pode causar algumas situações de desrespeito às suas privacidades -. Aliás, eles respondem civil, administrativa e, se for o caso, mesmo criminalmente pelo o que falam e acontece em suas salas de aula.

Apesar de pouco, ao contrário do Batman, os professores recebem salários. Quando optei por cursar História, sim sabia da situação de desvalorização da profissão, como são cobrados muitas vezes professores que ousam reivindicar. Mas utopicamente acreditava – utopias não morrem, por isso, ainda acredito – que um dia a classe iria ser reconhecida financeiramente.

A alegação antiga – e ultrapassada! – dos governantes é sempre a mesma, faltam verbas públicas. Não! O que falta é vontade política. Coragem de quebrar o status quo há décadas estabelecido. Até porque, historicamente, o magistério é uma área dominada pelas mulheres, logo, é uma profissão que não precisa reconhecimento financeiro. “O marido sim é que precisa ganhar decentemente.” Aliás, tão cômodo como a defesa da valorização dos professores é esse batido discurso da austeridade fiscal. Ouvi um político governista defender que os professores deveriam ganhar como as carreiras da magistratura. Porém – sempre há um entretanto quando se fala disso -, não há dinheiro. Quem dera ganhássemos como os juízes. Só o valor do auxílio-moradia deles já é maior que o salário da maioria dos professores mesmo em final de carreira!

Aos professores, colegas, que tanto sofrem não só com baixos salários como, por último, com perseguições políticas.

Que não deixem morrerem suas utopias.

Fonte: Pragmatismo Político

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