Sol e sombras no Itacorubi: Desocupação repressiva na UDESC

Por Carmen Susana Fava Tornquist, para Desacato.info.

O sol já tinha mostrado que viria com toda sua luz iluminar o dia 18 de novembro, mas a  sombria tropa de Choque da Polícia Militar desceu as escadas internas do Prédio Central da UDESC e rendeu estudantes que ocupavam a reitoria da Universidade há mais de 20 dias. Ela anunciou, do lado de dentro  da Reitoria, a oficial de justiça que estava do lado de fora, acompanhada de outros membros da força policial, com o mandato de reintegração de posse solicitado pelo reitor, Marcos Tomasi, um dos signatários do documento oficial do Conselho de Universidades contrários à PEC 241.

Na verdade, desde sexta-feira passada, após a divulgação do novo pedido de reintegração de posse por parte da reitoria na página eletrônica da UDESC, contrariando o recurso que a própria reitoria havia feito no inicio do movimento, quando, apos sucessivas tentativas de diálogo, acabou retirando o pedido de reintegração de posse. Os estudantes ocuparam a sede da Universidade para protestar contra as medidas do Governo Federal referentes ao congelamento de gastos sociais por vinte anos, expressas nas PEC 241 e 55, e contra a MP que prevê a reforma de ensino. Alem disto, pautas especificas referentes à Udesc foram incluídas, entre elas a efetivação de políticas de permanência. Desde o inicio da ocupação, notas e posicionamentos de departamentos, centros e associações sindicais, entre as quais a APRUDESC e o SINTUDESC, favoráveis ao movimento e contrários as medidas restritivas do Governo Federal foram emitidas; apoiadores de outras instituições, estudantes e cidadãos visitaram a ocupação e dela participaram. Aulas abertas e seminários foram realizados na Ocupação ao longo do mês de novembro. Aulões para os estudantes que prestaram o ENEM foram realizados pelos ocupantes.

Na sexta-feira antes do feriado, ocorreu uma reunião com representantes dos técnicos, a partir de um abaixo- assinado em que funcionários da reitoria solicitavam “ajustes de conduta” por parte dos ocupantes, referentes ao uso de gás na cozinha instalada no hall, ruídos, limpeza e arrumação do espaço. Ainda naquele dia, professores e técnicos presentes no local, em função da paralisação nacional contra as mesmas medidas que mobilizam estudantes, tentaram o contato para mediar um novo encontro, mas novamente a reitoria negou-se a dialogar com estudantes e o final de semana prolongado foi já vivido sob a ameaça da reintegração de posse. Na quarta feira, dia 16/11, a reitoria decidiu suspender os Jogos Interuniversitários, reuniões de órgãos colegiados e expedientes do prédio central, atribuindo tal decisão a existência  do movimento de Ocupação, a exemplo do que havia sido feito em de novembro, quando o 12º Encontro de Extensão e o exame TOEFL foram suspensos, sob a mesma justificativa, gerando criticas e reações adversas por parte de vários setores da comunidade acadêmica.

A empresa terceirizada, contratada pela Universidade para fazer a vigilância patrimonial, atou juntamente com a Polícia, dificultando a entrada de professores, funcionários e familiares que vieram prestar solidariedade. As portas dianteiras do Centro de Artes, vizinho à reitoria, foram fechadas.

Os estudantes saíram do prédio um a um, após registro fotográfico e de documentação por parte da polícia.

A desocupação forçada na UDESC é a primeira a acontecer no estado de Santa Catarina e ocorre alguns meses após a posse da nova reitoria.  A perplexidade e a indignação ocuparam o vazio deixado pela ocupação, que encheu de vida e de esperança uma Universidade que muitas vezes não parece mais pulsar.

A imprensa foi barrada no lado de fora da Universidade, sem poder registrar o acontecimento.

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