Sobre Mulher Maravilha, feminismo e a questão palestina

Por Isabelle Simões.

É importante trazer alguns apontamentos iniciais neste artigo opinativo antes de discorrer sobre o assunto. Por mais que eu ame a Mulher Maravilha e a importância do que ela representa para gerações atuais e futuras, esse artigo não tem como objetivo desqualificar ou boicotar um dos filmes mais aguardados esse ano, dirigido pela cineasta Patty Jenkins, mas fazer algumas observações sobre uma declaração que a atriz Gal Gadot, que interpreta a guerreira amazona de Themiscyra, deu há alguns anos. Como feminista interseccional, me vejo na responsabilidade de comentar sobre esse assunto, por acreditar ser algo sério demais para simplesmente ignorar.

Perambulando pela internet afora em busca de entrevistas e fotos sobre o longa da Mulher Maravilha, que estreia dia 1º de junho, deparo-me com um depoimento antigo, de 2014, onde a atriz israelense Gal Gadot (declaradamente sionista) publicou em seu perfil oficial do Facebook o seguinte: “Mando meu amor e orações para os cidadãos de Israel, especialmente para todos os meninos e meninas que estão arriscando sua vida protegendo meu país contra os terríveis atos do Hamas, que estão se escondendo como covardes atrás de mulheres e crianças… Vamos superar!!! Shabbat Shalom!”. (#nósestamoscertos #libertegazadohamas #pareoterror #coexista #amoIDF (IDF: exército israelense) Tradução por Omelete).

Gal-Gadot-Facebook

Definição de Sionismo: Um movimento judaico radical e mundial que se refletiu no estabelecimento e desenvolvimento do estado de Israel. Esse desenvolvimento de Israel envolve a invasão e ocupação do país da Palestina e os assassinatos de palestinos inocentes. Um sionista é alguém que apoia a ocupação de terras palestinas por parte de Israel, que inclui os crimes de guerra cometidos pelos militares israelitas.

Por ser feminista e analisar as obras através de um recorte de gênero, assim como criticar declarações machistas ou misóginas de celebridades masculinas, ver um depoimento como esse, declarado pela atriz Gal Gadot, fez com que eu exercitasse minha responsabilidade enquanto feminista interseccional e apreciadora da cultura pop, e sobretudo, como ela pode influenciar nossas vidas. Por mais que um filme não seja “apenas um filme”, pois somos bombardeadas constantemente do “ideal de beleza”, da definição do “amor romântico” e por aí vai – os filmes que consumimos acabam influenciando nossas expectativas e desejos de alguma forma –  o que uma celebridade representa – por mais que sejam pessoas passíveis de defeitos e erros como qualquer outra – também exercem uma influência enorme com seus posicionamentos sobre  determinados assuntos.

O que esta declaração de Gal Gadot representa é algo muito sério, pois foi publicada na mesma época em que mais de 2.000 palestinos foram executados pelo exército, sob ordens do Estado de Israel (na maioria, civis, mais de 11 mil feridos e cerca de 100 mil deslocados) – incluindo centenas de mulheres e crianças (550 crianças, exatamente – só em 2014). E apesar de saber que a atriz israelense serviu ao exército israelense (IDF) antes da escolha para interpretar a Mulher Maravilha, isso me fez questionar sobre a responsabilidade e o impacto que tal depoimento tem na vida real. Será que ao declarar tais dizeres ela não pensou nas inúmeras crianças, que provavelmente adorariam a personagem da Mulher Maravilha, e que morreram decorrentes de uma ideal fascista que Israel prega e ela apoia?

A intenção aqui não é refletir sobre o cerne dessa “guerra” (que na verdade é um genocídio, uma política higienista e fascista), que existe por décadas e já executou milhares de inocentes palestinos (sem falar nas vítimas de outros países), numa tentativa de expulsá-los de seu próprio território, mas pensar no poder que tais palavras têm no mundo real, onde as verdadeiras mulheres maravilhas são todas nós que lutamos a cada dia por um mundo mais igualitário, tentando enfrentar inúmeras situações machistas e dificuldades pelo simples fato de sermos mulheres, sem contar as mulheres negras em nosso país que sofrem mais dificuldades que uma mulher branca jamais poderia vivenciar.

Será que nós, feministas, não quereremos enxergar o quanto o sionismo de Gal Gadot afeta inúmeras mulheres, ainda mais vindo de alguém que interpreta uma personagem declaradamente feminista, que prega a igualdade econômica, social e racial entre homens e mulheres? Dizemos sempre que o feminismo inclui todas as mulheres, mas será que nossa definição de feminismo reconhece a sororidade apenas para mulheres do ocidente?

Será que devemos apoiar declarações de mulheres como Gal Gadot, pelo simples fato de serem mulheres? Devemos ignorar e apaziguar tais declarações por vir de uma mulher branca do ocidente que está interpretando uma das heroínas mais famosas mundialmente? Que definição de justiça, igualdade e feminismo é esta, em que Gal Gadot apoia e delimita quais são as mulheres e crianças que “merecem” morrer decorrentes de um militarismo fascista? Ela está adotando o mesmo discurso de culpabilização que tantos homens nos jogam na cara todos os dias para justificarem seus atos misóginos? Essas mulheres e crianças do oriente médio, que são os grupos mais vulneráveis em tempos de guerra, não merecem a justiça e a igualdade que a personagem da Mulher Maravilha tanto defende?

Talvez o fato do filme ter sido banido no Líbano recentemente possa impulsionar um exercício de reflexão para Gal Gadot sobre seu conceito de feminismo e a importância de crianças terem uma figura feminina forte nos cinemas, o que ela tanto prega em suas declarações na imprensa.

Não é fácil ver que um dos filmes mais aguardados e o primeiro filme solo de uma heroína nos cinemas em 10 anos, que estreia amanhã, é interpretado por alguém que têm definições tão distorcidas do conceito de feminismo, ainda mais devido a importância que a personagem da Mulher Maravilha representa para o movimento feminista, mesmo sendo uma personagem fictícia, mas que possibilita a discussão da igualdade entre homens e mulheres dentro da cultura nerd. Vou assistir a Mulher Maravilha no cinema amanhã, pois é uma das minhas heroínas favoritas e é um dos filmes que mais aguardei este ano, mas jamais posso admirar ou vangloriar uma pessoa como Gal Gadot.

Fonte: OperaMundi

7 COMENTÁRIOS

  1. Negar algum direito aos judeus na região de Israel é negar que eles tem alguma coisa a haver com Jerusalem e a resolução da O.N.U. lhes assegurava parte do territorio que era uma fina faina de terra no litoral e a parte sul que é um deserto enquanto os arabes ficaram com a melhores terras da região ao lado do rio Jordão. Foi só declarar a criação do estado de Israel, 5 paises vizinhos mandaram os palestinos sairem com a promessa de poderem voltar depois como donos da terra contrariando a resolução da O.N.U. que lhes tinha garantido parte do territorio para criar um lar judeu.
    Talvez os direitos de judeus brancos vindo da europa de seculos seja uma coisa discutivel, mas haviam tambem 1 milhão de judeus que viviam á seculos nos paises arabes e eram tão morenos quanto os arabes, pior, são judeus arabes nunca aceitos como tal pelos seus vizinhos por acreditar em Moisés em vez daquele sujeito, e já falei demais nele. Esses judeus como parte do mundo arabe tinham direito á essa parte do territorio da palestina, e talvez eles nem fosse para lá por terem propriedades onde estavam vivendo, mas foi só surgir o estado de Israel veio uma onda de violencia que empurrou uns 300 mil para outros paises e 600 mil para o recem-criado estado judeu, deslocados deixando para tras tudo o que tinham, propriedades que não cabiam no estado de Israel. Houve uma troca de população tipo como aconteceu na Grecia, quando 1 milhão de gregos na turquia com medo fugiram para a grecia devido a derrota do exercito grego que tentava anexar a região em que havia gregos, uma fuga que limpou a etnia grega da Turquia e no caso limpou a etnia judaica nos paises arabes onde hoje tem pouquissima população judaica, conhecidos como quardiões de tumulos, por que só sobrou cemiterios, mas duvido que não tenham construido ruas e casas nos locais. Foram os arabes que trocaram palestinos por judeus dos paises arabe, troca em numero muito proximos. Esses judeus expulsos dos paises arabes deviam ter direito de pedir a parte das terras que a resolução da O.N.U. davam aos arabes palestinos, como compensação de seus bens que extrapolavam todo o territorio atual de Israel.

  2. Muito bem colocado, mas não vejo nenhuma menção aos judeus expulsos dos paises arabes, pessoas que viviam á seculos nesses paises e estavam muito longe da guerra começada por 5 paises que fingiam agir em nome dos palestinos. Os palestinos segundo uma das versões mais aceitas sairam á mando desses atacantes com a promessa de vitoria. Os palestinos ficaram protegidos na fronteira de um grande territorio arabes enquanto esperavam o genocidio judeu. Enquanto começou a violencia patrocinadas pelos governos arabes contra 1 milhão de judeus espalhados nesses paises muçulmanos, desmentindo qualquer afirmação que não havia judeus nos paises arabes que tinham o mesmo direito direito que os judeus europeus á um estado judeu. Um numero de mais de 600 mil desses judeus expulsos pelos arabes foram acolhidos pelo estado judeu depois de terem sido deslocados e roubados em propriedades que mediam 4 vezes o atual estado de Israel, provando que os arabes roubaram muito mais do que dizem ter roubado os sionistas, ou será que foi as Nações Unidas, porque a resolução é da O.N.U. . Foram os arabes que comandaram o deslocamento palestino com promessas de vitoria, e foram os arabes que expulsaram de seus paises judeus cujos descendentes são a metade do povo de Israel hoje. Está ai uma troca de população e territorio nunca mencionada, e a maioria dos palestinos estão do seu lado da fronteira juntos com os arabes que os empurram de volta á Israel. Os judeus não devem mais nada á ninguem devido as perdas de vida e de propriedades, e a O.N.U. emitiu muitas resoluções sobre os palestinos e nada sobre o 1 milhão de judeus expulsos dos paises arabes. Vi uma foto de uma familia expulsa do Iemen notei que eram tão morenos quanto seus compatriosas do Iemen, discriminados por sua religião judaica.

  3. Crítica boba e vazia, fundamentada no post que uma mulher fez em seu facebook a 3 anos atrás desejando força para seu povo… meh, agora diante de uma visibilidade internacional com a chegada de mulher-maravilha aparecem pessoas caçando pêlo em ovo. As usual.

  4. Sorry, não vejo motivos para chama la de sionista só orque ela enviou uma.mensagem de ” coragem” ao seu povo, é como chamar de yanke fascista quem sentiu terrivelmente o terror das torres gêmeas. Nao confundam as coisas….. Esim, terrorista muçulmano se esconde sim atrás de sua família inocente.

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