Shampoos naturais: cosméticos do Enga (parte 3)

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Por Eliane Barros.

Já faz algum tempo que venho pesquisando sobre novos produtos e receitas caseiras que me permitam uma cosmética mais natural no dia a dia. Algumas dessas receitas, inclusive, já estão aqui no blog, como as do sabonete e do pó dental e enxaguante bucal preparados pelo Yaye –  Cosmética Natural e Aromaterapia e pelo Grupo Timbó de Agroecologia, para o Enga (Encontro Nacional dos Grupos de Agroecologia), que aconteceu na Ecovila Tiba, em São Carlos (SP).

E nessa busca, há alguns meses me deparei com aquele que talvez tenha sido o mais difícil de substituir: o xampu. Digo o mais difícil porque, só depois de iniciar um processo de “desintoxicação capilar”, dizemos assim, é que realmente me dei conta do quão somos influenciadas pela indústria da beleza. Afinal, há anos, décadas, melhor dizendo, essa indústria vende em suas propagandas um ideal de cabelo que, convenhamos, só existe no fantástico mundo do Photoshop…

Mas, afinal, por que evitar os cosméticos convencionais em nosso cotidiano? Os motivos são vários, mas destaco aqui três:

  • a quantidade de componentes químicos suspeitos como tóxicos para nossa saúde e para o meio ambiente, segundo pesquisas científicas;
  • a quantidade de lixo que se descarta toda vez que se troca de xampu, de condicionador, desodorante, pasta de dente, etc;
  • a maioria desses produtos são testados em animais.

Muitos desses componentes químicos, como os diferentes tipos de sulfatos, silicones, parabenos, derivados de petróleo, entre outros, foram relacionados neste post aqui, do blog Looakholic, da Nyle Ferrari. E pra não dizer que isso é assunto de blogs lunáticos, é importante dizer que o texto traz todas as fontes das informações contidas nele.

MOVIMENTO NO-POO

E na busca por alternativas para lavar o cabelo, encontrei um movimento que vem ganhando força no mundo todo: o no-poo. O processo consiste em eliminar o uso do xampu e, para conhecer um pouco mais, recomendo a leitura dos textos “Como parar de usar xampu” e “Os índios não usam xampu: constatações sobre a necessidade inexistente”, dessa vez do blog “Pensando ao Contrário”. Neles, Camila Gomes Victorino relata sua experiência no no-poo, e conta um pouco sobre como a indústria criou essa necessidade do uso do xampu. Além disso, traz informações sobre alguns dos componentes existentes nas fórmulas desses produtos industrializados.

Uma das precursoras do movimento no-poo, a norte-americana Lorraine Massey e seu best seller “Curly Girl”. Foto: Reprodução.
Uma das precursoras do movimento no-poo, a norte-americana Lorraine Massey e seu best seller “Curly Girl”. Foto: Reprodução.

O XAMPU DO ENGA

Minha relação com o no-poo começou há alguns meses, quando comecei a lavar o cabelo apenas com alguns sabonetes naturais que compro em feiras agroecológicas e em comunidades sustentáveis. São sabonetes feitos a partir de uma base glicerinada 100% vegetal, isenta de Lauril e de propilenoglicol, como a da marca Régia, a qual foi utilizada no preparo dos cosméticos da última edição do Enga, na Ecovila Tibá. Lá, além do sabonete, foi feito um xampu com essa mesma base, e tamanho foi o sucesso de público que, quando começamos a publicar a série “Cosméticos naturais do Enga”, chegamos a receber mensagens perguntando sobre a receita do xampu. Então aí vai!

Ingredientes:

  • 1,5 Kg de base glicerinada de coco de babaçu
  • 50 g de camomila seca
  • 50 g de alfazema seca
  • 50 g de erva doce seca
  • 50 g de sálvia branca seca
  • 150 g de bicarbonato de sódio
  • 50 g de manteiga de karité
  • 5 litros de água.

Modo de preparo: ferva 5 litros de água e, quando entrar em ebulição, desligue o fogo e coloque as ervas. Tampe e deixe em infusão por 1 hora para que absorva bem as propriedades. Coe a infusão e coloque em fogo baixo novamente junto à base glicerinada, misturando até que derreta por completo. Acrescente a manteiga de karité e misture até ficar homogêneo. Em seguida, despeje o bicarbonato de sódio e misture bem. Deixe esfriar e armazene em frascos.

Atualização: como a base glicerinada tende a endurecer, é necessário agitar bastante o líquido dentro do frasco. Por isso, nunca encha o frasco por completo.

Enquanto o silicone atua na cutícula do pelo, que é sua porção mais externa, o óleo de coco de babaçu promove uma nutrição interna, mais profunda. Funciona como um ótimo reparador de pontas. Foto: Reprodução.
Enquanto o silicone atua na cutícula do pelo, que é sua porção mais externa, o óleo de coco de babaçu promove uma nutrição interna, mais profunda. Funciona como um ótimo reparador de pontas. Foto: Reprodução.

SOLUÇÕES MAIS CASEIRAS

Pesquisando ainda mais sobre o no-poo, comecei a encontrar também algumas soluções mais caseiras. Uma delas (e uma das que mais uso) é lavar com uma solução de água com bicarbonato de sódio e outra de água com vinagre de maçã. O bicarbonato age na remoção de gorduras, porém, como seu pH é alcalino, ele acaba abrindo as escamas dos fios. E é aí que entra o vinagre, com ph ácido, para ajudar a fechar as cutículas e manter os fios saudáveis e mais brilhantes.

No início foi um pouco estranho me desapegar da espuma, a qual nosso subconsciente entende como sinônimo de limpeza. Mas o fato é que o líquido, quando aplicado no couro cabeludo, limpa. E não há uma receita única, pois vai depender do tipo de cabelo de cada um: se oleoso, mais bicarbonato de sódio, se seco, menos. No meu caso, que é oleoso na raiz e seco nas pontas, depois de algumas lavagens, cheguei a uma receita: em um frasco de 500mL com água, adiciono uma colher de sopa de bicarbonato, e em outro frasco de 500mL, adiciono uma colher de sopa de vinagre. Tal quantidade me rende umas quatro lavagens.

A babosa, conhecida também como aloe vera, é um ótimo hidratante natural para o cabelo. Basta raspar sua polpa e aplicar em todo o cabelo. Deixe agir por 30 minutos e enxague apenas com água. Foto: Reprodução.
A babosa, conhecida também como aloe vera, é um ótimo hidratante natural para o cabelo. Basta raspar sua polpa e aplicar em todo o cabelo. Deixe agir por 30 minutos e enxague apenas com água. Foto: Reprodução.

No início dessa fase de transição, algumas vezes meu cabelo ficou mais oleoso, outras mais seco, mas aos poucos foi se equilibrando. Deixar de usar xampu e condicionador, enfim, é um processo que exige tempo, observação, persistência e um pouco de paciência para entender como o cabelo vai se adaptar ao novo processo. Sigo contente com os resultados já alcançados e espero futuramente chegar a última fase do no-poo, que seria lavar apenas com água.

O que sinto é que, quanto mais o no-poo se espalhar, mais as pessoas conhecerão os próprios cabelos e questionarão essa indústria da beleza. E talvez, assim, possamos compartilhar cada vez mais alternativas naturais.

Fonte: As Sementeiras

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