Seminário discute com jornalistas a violência contra meninas e mulheres

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Por Clarissa Peixoto.

A violência contra mulheres e meninas é um problema de grande proporção na América Latina. No entanto, suas causas são complexas e estão diretamente relacionadas a aspectos socioculturais, constituídos e disseminados em nossa sociedade.

Procurando discutir com formadores de opinião sobre o tema, a Casa da Mulher Catarina e a Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos desenvolveram a Campanha “Jornalistas dão um Ponto final na Violência contra Mulheres e Meninas”.

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A iniciativa é um desdobramento da campanha latioamericana “Ponto Final na Violência contra Mulheres e Meninas”, desenvolvida em outros países da América Latina e Caribe, incluindo o Brasil. De acordo com Clair Castilhos, secretária executiva da Rede Feminista de Saúde, a proposta da campanha é contribuir para que jornalistas possam olhar para o tema da violência de gênero com sensibilidade. “O objetivo da campanha é dialogar com jornalistas, de maneira que o tema não seja somente pautado nos meios de comunicação, mas que quando tratado, considere as relações de gênero, os aspectos culturais que estão ligados a todos os atos de violência contra meninas e mulheres”, destaca.

Nessa etapa, a campanha propôs incentivar boas práticas jornalísticas e instrumentalizar profissionais de jornalismo sobre o tema, realizando duas ações principais.  A primeira, diz respeito ao Prêmio Nacional de Jornalismo e Violência de Gênero. A ação premiou jornalistas inscritos em quatro categorias: jornalismo impresso, rádio, TV e outras mídias, além de oferecer menções honrosas a outras reportagens que trataram da violência de gênero contra mulheres e meninas, observando com sensibilidade o tema e sua apresentação para a sociedade.

Para a jornalista Kamila Silva de Almeida, vencedora do prêmio na categoria jornalismo impresso com a reportagem “Órfão da Violência”, publicada pelo Jornal Zero Hora do Rio Grande do Sul, o prêmio vem reconhecer o trabalho e criar estímulo para a produção de matérias sobre o tema. “Fico muito feliz com o reconhecimento do trabalho que fizemos. Quando entrei em contato com a pauta percebi que não era só um caso, mas que a violência contra mulheres tem causas que ultrapassam aquele momento e deixam marcas profundas, como as histórias dos órfãos que conto na minha matéria”, diz.

Foram 82 reportagens inscritas. Vale ressaltar que desse número, 67 matérias são de autoria de jornalistas mulheres. A premiação aconteceu em Florianópolis, no dia 16 de maio, em solenidade que compôs a programação do Seminário Internacional sobre Mídia e Violência de Gênero.

 Encontro debate mídia e violência de gênero

Sensibilizar jornalistas para discutir as questões de gênero com a sociedade e lhes dar subsídios para que possam olhar a complexidade da temática. Com essa perspectiva, a Casa da Mulher Catarina, em parceria com a Rede Feminista de Saúde, realizou entre os dias 16 e 17 de maio, na cidade de Florianópolis, a segunda ação da Campanha Jornalistas dão um Ponto Final na Violência contra Mulheres e Meninas: o Seminário Internacional sobre Mídia e Violência de Gênero.

Na primeira noite do seminário, a palestra “Panorama geral da violência de gênero na América Latina, Caribe e no Brasil” trouxe Sandra Castañeda, secretária executiva da Red de Salud de las Mujeres Lationamericanas y Del Caribe, que apresentou um raio-X da situação latino-americana d a violência contra mulheres e meninas, assim como apontou caminhos para enfrentamento da situação.

Na mesma palestra, Isabel Villar, jornalista e editora de La República de las Mujeres, suplemento Del Diario La República, tratou da relação entre mídia e violência de gênero na América Latina e Caribe, dando um panorama sobre a atuação de jornalistas para o enfrentamento da violência e perspectivas. Daniela Luciana da Silva, da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres da Presidência da República também tratou do tema, com foco no cenário brasileiro.

A manhã do dia 17 de maio foi de reflexão sobre Feminismo, mídia e violência de gênero, atentando para os desafios e perspectivas contemporâneas. A mesa de debates foi composta pelas professoras Carmen Rosa Caldas, da Universidade Federal de Santa Catarina, que tratou da linguagem inclusiva de gênero e a formação de discursos sociais que se consolidam com a atuação dos meios de comunicação. Também participou da mesa a professora da Udesc, Marlene de Fáveri, que apresentou uma pesquisa sobre meios de comunicação e a constituição de estereótipos sobre a mulher.

Carmen Caldas trouxe para a discussão a construção do texto e suas entrelinhas, reforçando o poder simbólico das palavras e como o seu uso promove a formação de ideias sobre determinados temas. “Quando escolhemos as palavras constituímos conceitos sobre determinados temas e determinados atores. O jornalismo, pela sua capacidade de diálogo com a sociedade, pode consolidar ideias ou transformá-las”.

Na parte da tarde, a mesa “Jornalismo e violência de gênero: entre a denúncia e a vivência”, contou com a participação da jornalista e professora da UnB, Isabel Clavelin, que apresentou sua pesquisa acerca de experiências de jornalistas que cobrem pautas de risco.

A mesa foi composta também pelo conjunto de jornalistas que receberam o prêmio, contando a experiência profissional e o processo de produção das reportagens premiadas, além da participação da presidenta do Comitê Gestor da Campanha, a jornalista Vera Daisy Barcellos, a presidenta do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, Valdice Gomes da Silva e do presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, Milton Simas Júnior.

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O Seminário encerrou com a produção da Carta de Florianópolis, onde participantes expuseram a necessidade de dar continuidade à iniciativa do prêmio e da etapa de formação na qual se propôs o seminário. Para Vera Fermiano, presidenta da Casa da Mulher Catarina, a perspectiva é que a campanha possa ter continuidade. “Nosso objetivo é garantir que a Casa da Mulher Catarina e a Rede Feminista de Saúde possam dar continuidade a esse projeto, mantendo o diálogo com essa categoria de profissionais que pode contribuir decisivamente para o enfrentamento a violência contra mulheres e meninas”, observa.

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