Sem igualdade de gênero, não há sociedade justa

IMG_3012

Por Marcela Cornelli para Desacato.info

Em uma parceria entre o Sindes e o Grupo Acontece Arte e Política LGBT foi realizado no dia 26 de novembro, em Florianópolis, o debate Diversidade e Gênero no Mundo do Trabalho. O evento contou com o apoio do Sindprevs/SC, Sinte e Sinergia e trouxe como palestrantes Clair Castilhos, Secretaria Executiva da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, e Heliana Hemetério, do Candance (Coletivo de Mulheres Negras) e Diretora de Direitos Humanos ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).

O debate fez parte das atividades dos 16 dias de ativismo de combate à violência contra as mulheres e lembrou o Dia Internacional de Luta pelo Fim da Violência contra as Mulheres – dia 25 de novembro.

A palestrante Clair Castilhos fez um resgate histórico da luta das mulheres por direitos no Brasil e no mundo. Lembrou que foi na Constituição de 88 que a igualdade entre homens e mulheres foi posta como direito fundamental. Porém, ela lembrou que hoje ainda há muitos desafios a ser vencidos como a busca da equidade de direitos, a luta pela inclusão de mulheres lésbicas, jovens, prostitutas, negras, agricultoras, parteiras tradicionais, indígenas entre outras, a luta pela descriminalização do aborto, pela implementação efetiva da lei Maria da Penha, a produção da pobreza e o acesso ao trabalho, a ampliação de direitos previdenciários, etc.

“O pensamento patriarcal alimenta-se dos preconceitos, realiza-se na opressão cultural e concretiza-se no silencio, na submissão e na dominação das mulheres”, disse Clair.

Dupla Jornada

A palestrante apresentou dados de que mostram que as mulheres entre 25 a 49 anos, 94% se ocupam do trabalho doméstico, além do emprego. Cerca de 83% das meninas, entre 10 a 17 anos de idade, realizaram tais afazeres, enquanto que, entre os meninos, nesta mesma faixa etária a proporção foi de 47,4%.

“Mesmo com ensino superior completo – ou formação profissional – as mulheres não atingem os mesmos ganhos dos homens na mesma condição, apenas é reduzida a desigualdade”.

Já no campo, a situação ainda é pior. “A agricultora é uma mera empregada sem salário. Todas as mulheres têm jornada dupla, mas a rural levanta cedo, tira o leite das vacas, prepara o café, vai pra roça, cuida dos filhos, faz almoço, prepara o café da tarde. O homem até pára um pouco porque não precisa lavar louça e preparar o café da tarde. Isso é a mulher que faz”, explicitou Clair.

Mulher e negra

“Ainda há a discriminação maior no caso da mulher ser negra. As mulheres negras são discriminadas entre os homens e entre as mulheres brancas. Em qualquer situação olham para as mulheres negras perguntando o que elas estão fazendo aí”.

Violência

Para finalizar, Clair citou a fala do Juiz Edilson Rodrigues (MG) que considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha, contra a violência doméstica, e afirmou que o mundo e masculino, Deus é homem, Jesus foi homem e a mulher é a origem de toda a desgraça humana.

A mulher negra na TV

Heliana Hemetério, do Candance (Coletivo de Mulheres Negras) e Diretora de Direitos Humanos ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), falou um pouco sobre a mulher negra e como ela é vista culturalmente. Ela citou personagens da literatura brasileira, a exemplo de Gabriela de Jorge Amado, onde a sensualidade era o ponto mais marcante das personagens. No imaginário cria-se a cultura de que “a mulher negra tem o papel de lavar, cozinhar e transar”, disse Heliana. “As mulheres negras ajudaram a construir este país e estão hoje na base da pirâmide social. Quanto mais a pele for negra, mais cai na pirâmide. Ser branco é um privilégio em uma sociedade racista”.

“Quando uma mulher negra liga a TV, ela vê uma mulher de cabelos lisos e esvoaçantes e o homem parando para olhá-la. A mensagem que fica é que para a mulher o problema da solidão é a falta da chapina. E que os cabelos alisados resolvem a vida social da pessoa”, citou Heliana, como exemplo dos estereótipos passados pela TV brasileira.

Questão cultural

“A criança não nasce racista. É transformada pelos valores que adquire na escola e na família. Culturalmente, as crianças já são ensinadas a ter medo do boi da cara preta. Os sistema já é constituído para implementar o racismo. A mulher negra está cuidado dos filhos das brancas para que ela, inclusive, seja militante feminista”, enfatizou Heliana.

Machismo

“Os homens negros também oprimem as mulheres negras. A legitimidade da sociedade está no branco. Nossa autonomia de mulher negra é subalternizada. No mercado de trabalho, a mulher negra, todos os dias, tem que afirmar que é tão boa quanto a mulher branca. Vão te promover, uma, duas três vezes, mas quando chegar à gerência, bom aí já é demais promover uma mulher negra à gerência”, disse Heliana.

Heliana também citou o preconceito que sofrem as mulheres lésbicas e os gays nos locais de trabalho. “É preciso construir no cotidiano, no lugar de trabalho, uma política mais solidária. Este sistema é racista, machista e homofóbico. É preciso trabalhar nossa lesbofobia, nosso racismo, nosso machismo, para construirmos ambientes melhores”, finalizou.

Ao final do debate os participantes aprovaram as seguintes propostas para que este tema não seja esquecido no meio sindical:

– Levar e ampliar o debate para as bases dos sindicatos, para as trabalhadoras e trabalhadores;
– Fazer debates sobre as trabalhadoras lesionadas;
– Debater a mulher e a maternidade o mundo do trabalho – preconceito e machismo;
– Debater o assédio moral e sexual;
– Criar e/ou fortalecer núcleos de gênero e raça nos sindicatos; e
– Fazer o enfrentamento ao machismo e ao sexismo no meio sindical.

Foto: Marcela Cornelli

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.