Saúde como autogestão e resistência IV

Por Rodrigo Gagliano.

Vivo em Florianópolis. Isso mesmo, na cidade que homenageia em seu nome o assassino e estadista – isso, para mim, é apenas uma tautologia – Floriano Peixoto, o segundo presidente milico da republiqueta positivista brasileira. Essa excrescência é apenas corolário de um processo que começa com a colonização da ilha de Santa Catarina e partes próximas do continente, marcada por ser particularmente militarizada. A primeira leva de usurpadores é de militares, só depois começam a aparecer outros para garantir a propriedade do que foi conquistado a custa de muitas vidas. Não é à toa que o brasão da cidade, num orgulho imbecil, tem dois representantes militares, para usar uma expressão arcaica já, de antanho. Obviamente, essa é uma história marcada de violência e sem muitas alegrias, os nativos, como praticamente por quase toda América, foram massacrados.  Outro dado óbvio é que a presença de qualquer grupo de nativos desse continente é marginal, não participam propriamente da vida dessa cidade e praticamente desse país forjado na marra.

Quando ando pelo centro comercial dessa cidade, porque posso andar com calma e observar, afinal, meu tempo não é marcado pelo relógio das fábricas, das repartições, pelas cornetas da estúpida caserna, vejo as índias guarani e seus lindos filhos. São um povo de pequena estatura, de uma pele bonita de cor morena-terra e um semblante muito bonito. Estão sempre pelos calçadões da cidade, com seus artesanatos e suas crianças. Aquilo sim artesanato – como são bem feitos! – e não essas manufaturas a que nos habituamos a chamar de artesanatos e que encontramos em todos os lugares iguaiszinhas. Pelo que soube, uma mãe guarani fica com seus filhos, isto é, nunca sai de perto deles, até que completem pelo menos 3 anos. Estão sempre juntinhos, as crianças são sorridentes e brincalhonas, ainda que tímidas, e as mães solícitas com elas. Nunca vejo os homens. As mulheres, antes livres e perambulantes pelas terras sul deste continente, transformadas em um misto de trabalhadoras e pedintes: passam, todos os dias, sol, chuva, frio, calor todos os dias da semana dita útil. Nunca, em minhas andanças, vi um só comprador de sua arte transformada em mercadoria, não parece ser valorizada pelos transeuntes, sempre tão apressados, desligados, cansados, agressivos… Digressões à parte, vejo essas dedicadas mães, enquanto expõem seus produtos, alimentar seus filhos: vejo coca-cola, vejo salgados como coxinhas, salgadinhos de isopor com aroma e gostos acrescidos… e com que confiança essas mães dão aos seus vulneráveis filhos esse lixo todo, que faz as pessoas doentes pelo mundo. Dão essas coisas, não chamaria sequer de alimento, confiante e ingenuamente, como se tivessem colhido uma nutritiva fruta de uma árvore, ou pescado um peixe[1] num rio limpo e alimentassem assim seus rebentos. É possível entender essas pobres mães com sua confiança, são de uma cultura em relativo isolamento, de uma cultura que, felizmente, ainda conseguiu preservar sua própria língua, em que as informações sobre os outros grupos humanos devem ser assistemáticas e limitadas. Devem olhar os grupos não-guarani, de ascendência impositivamente europeia, e pensar: “se eles comem, deve ser seguro”. E pouco a pouco vão sendo viciados nesses produtos da mortífera indústria de alimentos, e seus filhos começam a ser uma geração de gente doente, uma geração em que os filhos morrerão antes de seus pais. Doenças que seus sábios curandeiros não conseguem curar.

Se é possível entender a ingenuidade delas, como é possível ainda entender a nossa? Ainda que tenhamos um excesso de informações circulando, não será possível se guiar minimamente nesse turbilhão? Nunca o mundo humano esteve tão doente e ao mesmo tempo nunca a doença pareceu tão normal e a saúde excepcional… Seremos sempre expectadores com toda essa passividade de morte?

Vejamos um exemplo só para encerrar. Temos uma informação circulando amplamente: “açúcar faz mal para a saúde”. Ninguém se pergunta por que é assim? Quais são as informações todas de que dispomos? Elas parecem aceitáveis? Como me sinto, corporalmente, em relação esse produto? E se eu ficar sem, como me sinto? E meus filhos? Se alguém sair da passividade de morte, achará o que busca, e entre os achados está o que descreve que o açúcar é uma droga e que a princípio cria um pico artificial de energia, depois deprime e para se evitar a depressão, que, no final das contas, nunca se evita de fato, é preciso consumir mais e mais e mais. Se você é um consumidor de açúcar, você pode verificar isso em você mesmo, todos os dias. E, nesse caso, para se ter um contraste dos estados físicos, é preciso uma abstinência de uns 20 dias (nesse tempo suas papilas gustativas voltarão à ativa e seu paladar será modificado, seu organismo estará, então, atento). Observe-se. Mas o que é abster-se de açúcar? É apenas não acrescentar açúcar aos seus alimentos? Se você quiser ir mesmo a fundo, verá que abstinência do açúcar não é só não acrescentá-lo, mas deixar de consumir os alimentos que já vem com açúcar (não penso aqui no natural açúcar das frutas). E sabe o que vai acontecer? Você ficará perplexo: O AÇÚCAR É ELEMENTO QUASE UNIVERSAL NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS!!!!

Hoje, a maioria das pessoas come um número muito grande de alimentos processados pela indústria de alimentos. A maior parte das pessoas, principalmente as de zona urbana, come mais alimentos processados pela indústria de alimentos que alimentos naturais. Aliás, nesse país, o famoso e nutritivo arroz-com-feijão está em baixa no prato das pessoas. Não é intrigante esse quadro: em que as pessoas estão consumindo os produtos de uma indústria que coloca um depressor no alimento delas (sem falar de outros venenos)? Será só uma incrível coincidência? Não parece… O que é uma substância depressora? Basicamente, ela deprime sua volição, isto é, sua vontade. A sua vontade em vários níveis, e sim e principalmente, sua vontade política, sua vontade de se mexer e mudar as coisas desse mundo! Imagine a equação: trabalho compulsório de 8h ou mais + açúcar em dose maciças + televisão, qual o resultado disso? Completa inação, entorpecimento, inatividade, apatia!!!

Uma coisa grave assim, ajuda a quem? A você? É claro que não!!!!

Vamos descobrindo juntos, aos poucos. Ou você pode ser mais rapidinho e ir atrás.Quer mais informações sobre que veneno é o açúcar? Pesquise! Comece a se apropriar de sua saúde, de sua volição, a mudar seu próprio mundo…

Na próxima continuaremos esse assunto!!!


[1] Não entendo um animal como alimento, mas não sou estúpido em dizer que são coisas equipáveis para alimentação humana um salgadinho de isopor e uma coca-cola e um peixe pescado artesanalmente de um rio limpo (se é que essas coisas ainda existem nesse planeta que poluímos). Claramente esse pobre animal é mais nutritivo que aquele lixo.

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