São Miguel do Oeste/SC: Mobilização do 08 de março reúne mais de 1500 pessoas

Por Claudia Weinman, para Desacato. info.

No último dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, foram realizados diversos atos de mobilização nos municípios do Oeste Catarinense. Em São Miguel do Oeste/SC, organizações camponesas, urbanas, sindicatos, associações, pastorais sociais, Igreja, movimentos sociais ocuparam às ruas tendo como principal pauta a luta contra a Reforma da Previdência PEC-287/2016. Aproximadamente 1500 pessoas vindas de 20 municípios da região realizaram atos pela cidade e trancaram o trevo por pelo menos três horas e meia.

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Conforme a militante do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), Noeli Taborda, o governo de Michel Temer estipula dentro da proposta da Reforma da Previdência uma idade mínima de 65 anos para homens e mulheres conseguirem acessar a aposentadoria. Além de igualar a idade para ambos, Noeli menciona que o projeto prevê uma contribuição de 49 anos para que o trabalhador no futuro venha a receber uma aposentadoria integral.

Noeli também mencionou que a Reforma da Previdência aponta que todos os trabalhadores brasileiros precisarão fazer contribuições mensais por, no mínimo, 25 anos consecutivos, e não 15 como são feitas hoje. Ela salienta que para os/as trabalhadores/as do campo, a Reforma prevê a contribuição individual de todos os membros da família e exclui o bloco de produtor/a como um comprovante de tempo de contribuição. O Governo prevê, segundo Noeli, que até o mês de junho o projeto da Reforma da Previdência tenha a votação finalizada. “Se isso acontecer e ela for aprovada, direitos conquistados historicamente devem ser retirados e muitos/as trabalhadores/as não vão conseguir acessar a sua aposentadoria”, comenta. Segundo Noeli, a Reforma ainda retira diversas modalidades de aposentadorias e outros benefícios.

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Intervenções

O Oeste Catarinense teve um 08 de março histórico. Por toda a região trabalhadores/as foram às ruas para denunciar a retirada de direitos. Uma das pautas principais foi a questão da Reforma da Previdência, a violência contra as mulheres que é histórica, mas que nos últimos tempos têm atingido a nossa região de uma forma brutal. De janeiro até agora, seis mulheres foram assassinadas em municípios aqui da região, outras tantas foram violentadas e muitas ainda sofrem diariamente com a violência.

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Em São Miguel do Oeste/SC, o ato iniciou pela manhã com falas políticas e em seguida, as juventudes deram início as intervenções. Gritos contra a violência, contra o golpe no Brasil conduziram a marcha. Mais de 30 mulheres deitaram nas ruas do centro da cidade como símbolo de resistência, de denúncia à violência, exigindo um BASTA.

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No “desbravador” da cidade, homens e mulheres cobriram a estátua com cartazes e denunciaram a falsa história contada sobre a formação da cidade. O “desbravador” segundo os/as militantes representa o extermínio de povos indígenas, caboclos e negros que viviam na região Oeste muito antes da chegada dos Europeus. A história contada a partir do “colonizador” retrata apenas o desenvolvimento a partir do viés capitalista, mas não leva em consideração que para o desenvolvimento acontecer, povos inteiros foram extintos, com o que Zygmunt Bauman denominava de “O sonho da Pureza”, a cidade limpa. Essa intervenção realizada em São Miguel do Oeste está diretamente ligada a toda história que envolve o Oeste Catarinense. A chegada dos Europeus não ocorreu de forma tranquila.

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Além desta intervenção, mais ao centro da cidade, os militantes encenaram como o Governo de Michel Temer trata os/as trabalhadores/as. Um dos militantes vestiu-se com roupas que lembram o ilegítimo presidente e em sua fala expôs que a Reforma da Previdência era necessária pois as pessoas vivem mais, salientando entre tantos dizeres que a reforma é importante pois a previdência está falida.

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Os demais militantes reagiram e leram documentos em defesa dos/as trabalhadores/as. Outras intervenções foram feitas em frente do INSS onde os/as trabalhadores/as colocaram faixas em protesto ao golpe e a retirada de direitos. Um caixão foi deixado no local e cruzes foram erguidas como símbolo de que a Reforma da Previdência representa a morte dos/as trabalhadores/as.

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Depois deste ato, o trevo de São Miguel do Oeste foi trancado pelos militantes por pelo menos três horas e meia. Falas políticas foram feitas por trabalhadores/as, Deputados, Prefeitos, Vereadores/as. O 08 de março é sempre uma data histórica para nós mulheres e homens. As mulheres queimadas dentro de uma fábrica de tecidos e que deram origem a este dia, é que alimentam a nossa força de luta por um mundo digno. Nossa sede de justiça não tem fim, não enquanto um companheiro ou uma companheira estiver sofrendo, passando dificuldade, sendo violentada/o. Quando estamos nas ruas e somos chamadas de putas, vagabundas, baderneiras, desajeitadas é que sentimos a presença ainda mais forte das bruxas da história, que foram assassinadas em nome do poder que não permitia e ainda não permite que mulheres e homens tenham vida e dignidade, que sonhem e lutem pela liberdade. Mas enquanto tivermos uma pessoa fazendo resistência, é nesse espaço que vamos nos somar, seja no 08 de março, ou em qualquer momento de necessidade, a gente vai estar na rua lutando pelos direitos inclusive de quem nos nega um olhar, um cumprimento, um sorriso quando estamos na rua.

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Denúncia

A militância denunciou durante este ato a intimidação feita por algumas autoridades das polícias que estavam no local, salientando que a luta é pelos direitos dos/as trabalhadores/as, que o ato é legítimo e que este será apenas um dos muitos atos que devem acontecer caso a retirada de direitos tenha continuidade.

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Greve Geral dia 15

O Portal Desacato conversou com a presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Anna Julia Rodrigues, que falou a respeito do decreto de Greve Geral a partir do dia 15. Conforme Anna, ainda em janeiro durante o 33º Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), foi aprovado o indicativo de Greve Geral para o dia 15 de março.

Anna explicou que todas as centrais sindicais estão mobilizadas para paralisar as atividades no próximo dia 15. “Os trabalhadores da Educação que fazem parte do Sinte farão assembleia Estadual nessa data e vão decidir pela greve. Os trabalhadores dos serviços públicos municipais estão paralisando as atividades nesse dia também e com os trabalhadores da iniciativa privada estamos buscando fazer um diálogo para que as empresas paralisem pelo menos um período para que possamos dialogar com as pessoas e explicar os motivos da Greve Geral no país”.

Segundo Anna, o objetivo é sensibilizar a sociedade diante da perda de direitos com a Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista e outras. “Nessa semana estará sendo votada a questão da terceirização que é um dos grandes ataques a classe trabalhadora. Os trabalhadores precisam se mobilizar e cobrar dos deputados para que não permitam a retirada dos nossos direitos”, finalizou.

A nível regional, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública de Ensino do Estado de Santa Catarina (Sinte), regional de São Miguel do Oeste, também está organizando-se para a Greve Geral. Conforme a Coordenadora regional, Sandra Denise Zawaski, estão sendo realizadas visitas nas escolas e assembleias para convocar toda a categoria.

Fotos de Pedro Pinheiro, para Desacato. info.

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