São Miguel do Oeste/SC: Mesmo sob ameaça de punição, organizações manifestam suas pautas

Por Claudia Weinman, para Desacato. info. 

“Não existe possibilidade de ir para rua sem gritar Fora Temer”

A 23ª edição do Grito dos/as Excluídos/as deste ano trouxe como lema: Vida em Primeiro Lugar: “Por direitos e democracia, a luta é todo dia”. Em São Miguel do Oeste/SC as organizações, movimentos e pastorais sociais, representantes sindicais, comunidades, participaram pela 19º vez desta atividade.  

Conforme uma das representantes do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Urbanas (MMTU), Maria Carmen Viero, desde 1998 o Grito dos/as Excluídos/as acontece no município e reúne a região do Extremo-oeste do estado. “Há 19 anos estamos nas ruas denunciando, reivindicando e gritando contra as injustiças. Sentimos que esse ano está pior que todos os outros porque estamos perdendo tudo. Nossos direitos, a Amazônia”. 

Organizações não concordaram com ata aprovada por entidades e Comissão do desfile 

A Comissão organizadora do desfile do 07 de setembro em São Miguel do Oeste, aprovou, durante uma das reuniões com as entidades, representantes das organizações, movimentos e pastorais sociais e sindicatos, uma ata contendo algumas proibições do tipo: “Manifestações político-partidárias, maus exemplos, apresentações e performances“, entre outros. Segundo Maria Carmen Viero, que acompanhou as reuniões em nome das organizações sociais, a aprovação não foi unânime, sendo que a Associação dos Afrodescendentes de São Miguel do Oeste (Afrodesmo) e as organizações sociais não aceitaram os termos.  

Maria Carmen disse que nesse ano o grito dos/as excluídos/as levou para às ruas as pautas como historicamente têm feito e inclusive, as juventudes mantiveram as pinturas nos rostos, a denúncia através da arte do Estêncil, com cartazes além de apresentações cênicas. “É impossível ir para às ruas sem gritar ‘Fora Temer’ por exemplo. Nós gritamos sim, recebemos ameaças de sermos punidos, mas não temos medo disso. A punição que nos apontaram é de ficarmos fora do desfile no próximo ano, no entanto, não vamos deixar de defender nossos direitos. Por isso, denunciamos sim, sem medo”.  

“Os sonhos da juventude não cabem nessa pátria” 

 Tayson Bedin, representante da Pastoral da Juventude Rural (PJR) falou sobre como a juventude percebe o dia 07 de setembro e a celebração da pátria. “Os sonhos da juventude não cabem nessa pátria, nessa falsa independência. O 23º “Grito” vem dentro de um contexto e espaço de luta contra o avanço e o retrocesso do fascismo no Brasil. A juventude é ousada e quer construir outro mundo”, disse.  

Segundo ele, a proibição imposta pela municipalidade quanto às manifestações representam uma forma de perseguição. “Querem calar os povos e dizer que o golpe não está acontecendo. Nós ocupamos esse espaço reacionário da Prefeitura para denunciar e dizer que esse “tipo” de desfile não representa o povo dessa região e por isso nos manifestamos mostrando as nossas diversidades e diferenças”. 

O representante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Charles Reginatto, também enfatizou que as pautas refletiram o momento vivenciado pelos camponeses e camponesas no Brasil. “Nós estamos vivendo as dificuldades desse golpe, não temos o que comemorar. Sabemos que o golpe não foi para tirar uma Presidenta e sim, para tirar os pobres do orçamento, das políticas públicas. Estamos vivendo um período que aponta para o maior desemprego histórico, com 15 milhões de famílias sem ter uma pessoa trabalhando, com duas milhões de pessoas excluídas do Bolsa Família”, enfatizou.  

 Denúncia às práticas de Vereadores e Deputados Federais Catarinenses  

A Assessora da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Jociani Pinheiro, disse que o Grito dos/as Excluídos/as mexeu com os ‘poderes’ de São Miguel do Oeste/SC. “Mexemos com São Miguel do Oeste como sempre. Vivemos em um município que faz parte de um contexto onde o fascismo têm crescido muito e fomos para às ruas para denunciar. Além disso, queremos romper com esse sistema capitalista, não desejamos nos incluir nele”, ressaltou. 

Jociani mencionou um cartaz onde as juventudes denunciaram as práticas de uma parcela de Vereadores de São Miguel do Oeste e também, dos Deputados Federais Catarinenses que votaram pelo arquivamento da denúncia contra o Presidente Michel Temer. “Não fomos para às ruas defender partidos e também não acreditamos que haverá salvador da pátria em 2018. Fomos sim denunciar o golpe e o capital. Não aceitamos essa política de acordos”, explicou.  

Padre Reneu Zortea da Paróquia de Anchieta/SC finalizou fazendo uma avaliação da atividade. Segundo ele, mais de 500 pessoas estavam nas ruas neste 07 de setembro. “O povo foi em massa para a rua, marcando esse dia com as nossas vidas, mostrando a nossa resistência. Estamos preparados/as para continuar nossa caminhada pelo projeto popular”, concluiu.

Acompanhe as entrevistas:

Fotos: Paulo Fortes.

Imagens em Vídeo: Eduarda Machado, Julia Saggioratto e Claudia Weinman.

 

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