A greve dos professores

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Por Elaine Tavares, jornalista

Em Santa Catarina, a categoria dos professores decidiu entrar em greve. Nas emissoras de Tv e nos jornalões comerciais, a mesma lenga-lenga: estão atrasando os alunos, são uns irresponsáveis, não se importam com as crianças. Nenhuma simpatia por quem luta por direitos ou melhor qualidade de vida. Bem diferente do discurso “contra a corrupção” que /chamou as pessoas para manifestação em 15 de março. São os dois pesos, duas medidas de empresas que servem ao poder, não importa o que esse poder peça.

Os professores em Santa Catarina vivem o drama da superexploração do seu trabalho e do completo desrespeito aos direitos que conquistaram. De um total de 44 mil trabalhadores na ativa, mais de 19 mil não são concursados. São os famosos ACT, os que tem contrato temporário. Esses, além de não terem os mesmos direitos que os concursados, agora foram completamente desvinculados da tabela salarial, com retirada de direitos, pelo Plano de Educação aprovado pela Assembleia Legislativa. Não receberão mais por jornada de trabalho, mas por horas. Eles que tinham seus contratos suspensos em dezembro, sem décimo terceiro ou férias, e com a incerteza sobre se voltavam ou não a ter emprego em fevereiro, agora vão ter de batalhar por horas-aula. Só ganharão por isso. O contracheque do mês de março já mostrou uma diminuição significativa dos salários. Eles não têm direito a hora-atividade e nada mais. São a mão de obra mais explorada do sistema educacional. E são eles os que ensinam as crianças da rede estadual.

Já os concursados, que precisam fazer greve para ter garantido o piso nacional – que deveria ser um direito – precisam também lutar por qualidade de vida no trabalho, uma vez que as escolas não oferecem estrutura para o ensino mínimo. Basta lembrar a greve de 2011 que acabou com violência, com professores feridos, um verdadeiro massacre físico e psicológico. O governo insiste em também desvincular os trabalhadores com Nível Médio e Licenciatura Curta da tabela de vencimentos, “enxugando” a folha de pagamento, mas jogando os profissionais na vala da superexploração e da incerteza. O governo também retirou a regência de classe do contracheque e substituiu por um “prêmio” de incentivo à sala de aula. Agora pensem. Quem serão os premiados? E quem não será premiado? Não dá para esquecer que o governador Raimundo Colombo pune com a criminalização os professores que ousam lutar por melhorias nas escolas. Foi o caso do professor Eduardo Perondi, da escola do Rio Tavares, que acabou exonerado por apoiar a decisão dos pais e alunos em não realizar as aulas numa escola que caia aos pedaços.

Diante desse quadro de destruição da educação, como esperar por um ensino de qualidade? Não que os professores ensinem mal por “vingança”, mas porque é humanamente impossível ensinar com qualidade nessas condições. A luta pelo piso nacional – que é uma lei – já vem desde o ano de 2008, sem avanços. Pelo contrário, o que há é um governo insensível às questões da educação. Não há o menor interesse em garantir educação de qualidade para os alunos da rede pública. E tampouco há o interesse em dialogar com a categoria. As decisões vem de cima para baixo.

Não é sem razão que os próprios estudantes estão se mobilizando dentro da greve dos professores. Muitas turmas têm se recusado a entrar nas salas dos professores que ainda não aderiram ao movimento, mostrando que eles estão alertas para o descaso governamental. Sabem que só terão educação de qualidade se tiverem professores bem remunerados, com tempo suficiente para preparar boas aulas, sem que precisem correr de escola em escola para garantir um meio-salário.

O ataque do governo de Raimundo Colombo tem objetivos claros. Na medida em que desvincula boa parte dos trabalhadores da educação da folha de vencimentos, ele também provoca uma quebra na força do sindicato. Com a categoria dividida, as lutas também precisam ser segmentadas, o que enfraquece o movimento e dá grande vantagem ao governo para que imponha suas regras. O resultado é a superexploração dos trabalhadores e um ensino que se esboroa.

Resta saber como os sindicatos, movimentos sociais e as forças que ainda estão vivas vão se comportar em mais esse momento de luta. A educação diz respeito a todos, não pode ficar só vinculada aos professores. Eles fazem a luta corporativa,e nós, a sociedade que ainda vibra e se organiza, temos de fazer nossa parte, apoiando o movimento e também alavancando a luta pela educação de qualidade. Isso pressupõe trabalhadores valorizados, bem pagos, estruturas seguras e políticas de emancipação. Isso é bandeira de todos os que querem transformação de verdade.

Fonte: Blog Palavras Insurgentes

Foto: Ilustração

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