Santa Catarina na Greve Internacional de Mulheres

(Manifesto aprovado em Assembleia no dia 8 de março, durante as atividades do 8M em Florianópolis).
Texto construído coletivamente a partir da convocatória feita pelo 8M Brasil e do movimento argentino #NiUnaMenos
O dia 8 de março é conhecido mundialmente como o Dia Internacional da Mulher, data que lembra as várias lutas de mulheres por melhores condições de trabalho e por direitos sociais e políticos. Neste 8 de março de 2017, as mulheres em Santa Catarina também vão parar! Cansadas dos silenciamentos, das opressões e das violências provocadas pelo patriarcado, pelo machismo, pelo capitalismo, pela discriminação racial, de classe e de gênero, nós nos organizamos e construímos juntas a Greve Internacional de Mulheres em Santa Catarina, nos juntando ao movimento global. Colocamos em prática o mundo no qual queremos e podemos viver.
Paramos para denunciar:
As múltiplas violências, opressões e assédios, físicos e psicológicos, que sofremos diariamente nas ruas, nos ônibus, nas escolas, nos espaços de lazer, na mídia e até dentro de nossas casas, no campo e na cidade.
As violações das nossas vidas provocadas por um modelo de Estado patriarcal e capitalista, que faz do Brasil o 5º país que mais mata mulheres no mundo.
Os ataques aos direitos das mulheres promovido pelo governo golpista e ilegítimo de Michel Temer, principalmente as Reformas da Previdência e Trabalhista.
A omissão do estado de Santa Catarina, a falta de políticas públicas e de estrutura para o enfrentamento das violências contra as mulheres no estado.
A cultura do estupro, que culpabiliza as vítimas, naturaliza a violência sexual contra as mulheres e mantém os estupradores impunes.
A discriminação racial que violenta e genocida as mulheres negras e indígenas com as armas do Estado e do capital.
A expropriação violenta de terras, sementes e recursos ambientais das mulheres do campo e das florestas pelo agronegócio.
A exploração de nossas economias informais e dos nossos corpos pelo capital e pelo mercado e a criminalização de nossos movimentos migratórios pelos Estados nacionais.
As guerras, desastres e crimes ambientais que nos obrigam a abandonar nossas casas sem qualquer perspectiva de vida digna para nossas famílias em outros lugares.
A desigualdade salarial que faz com que as mulheres recebam, em média, 26% a menos do que os homens na América Latina e 32% a menos no Brasil.
As violências econômicas que aumentam nossa dependência financeira e, consequentemente, nossa vulnerabilidade diante da opressão machista, cujo extremo mais brutal são os feminicídios.
A invisibilização e a não remuneração das tarefas domésticas e de cuidado e o não reconhecimento da função social das mães. A naturalização da responsabilidade das tarefas domésticas e de cuidado como algo exclusivo das mulheres nos obriga a reproduzir a exploração classista e colonial entre nós. Para ir ao trabalho, dependemos de outras mulheres. Para migrar, dependemos de outras mulheres.
A nova “caça às bruxas” da Lei da Mordaça, que persegue a luta pela igualdade de gênero e cala as vozes de educadoras e educadores com o que chamam de “Escola Sem Partido” e “ideologia de gênero”, sendo o único objetivo combater e neutralizar nossa força, nossa vontade e as existências afetivas e identitárias não hegemônicas.
Paramos para reivindicar o direito ao aborto livre e seguro, e para que nenhuma menina ou mulher seja obrigada a assumir uma maternidade indesejada.
Paramos porque estão ausentes as vítimas de feminicídio, mulheres assassinadas violentamente ao ritmo assustador de treze (13) por dia no Brasil.
Estão ausentes lésbicas, bissexuais, travestis e pessoas trans assassinadas por crimes de ódio, sendo o Brasil o país que mais mata transgêneros no mundo; as presas políticas; as perseguidas e as assassinadas em nosso território para defender a terra e seus recursos; as mulheres presas por delitos menores, criminalizando as formas de sobrevivência, enquanto crimes corporativos e o tráfico de drogas permanecem impunes porque beneficiam o capital.
Estão ausentes as trabalhadoras do sexo, as refugiadas, as pescadoras, ribeirinhas e quilombolas, cuja existência e resistência é invisibilizada.
Estão ausentes as mortas e as presas por realizar abortos inseguros.
Diante de lares que se tornam um verdadeiro inferno, nós nos organizamos para nos defendermos e cuidarmos umas das outras. Diante do crime machista e da pedagogia da crueldade, diante da tentativa dos meios de comunicação de nos vitimizar e de nos aterrorizar, fazemos do luto individual um consolo coletivo e da raiva, uma luta compartilhada.
Contra a crueldade, mais feminismo!
Nós usamos a estratégia da greve porque nossas demandas são urgentes. Fazemos da greve de mulheres uma medida ampla e atualizada, capaz de abrigar as empregadas e desempregadas, as assalariadas e as que recebem subsídios, as autônomas e estudantes, porque todas somos trabalhadoras. Nós paramos.
Nos organizamos contra o confinamento doméstico, contra a maternidade compulsória e contra a competição entre as mulheres, práticas impulsionadas pelo mercado e pelo modelo de família patriarcal. Nos organizamos por mais participação das mulheres nas atividades políticas e sociais e pela defesa de nossas pautas nos espaços de decisão. Nos organizamos nas casas, nas ruas, no trabalho, nas escolas, nas feiras, nos bairros. A força do nosso movimento está nos laços que criamos entre nós, para transformar tudo isso.
Convocamos as mulheres e toda a sociedade a ocupar os espaços públicos, o Estado, a rua, as instituições, escolas e empresas, que todas e todos lutem pela construção de uma sociedade mais justa, menos racista e violenta para todas as mulheres.
Nós tecemos um novo internacionalismo. A partir das situações concretas em que vivemos, interpretamos a conjuntura e vemos que, diante do avanço neo-conservador na região e no mundo, o movimento das mulheres emerge como potência de alternativa.
Diante das múltiplas desapropriações, das expropriações e das guerras contemporâneas que têm a terra e os corpos das mulheres como territórios favoritos de conquista, nós nos incorporamos política e espiritualmente.
Porque #VivasELivresNosQueremos, nos arriscamos em alianças incomuns. Nos apropriamos do tempo e construímos juntas a disponibilidade. Fazemos da nossa reunião um alívio e uma conversa entre aliadas; das assembleias, manifestações; das manifestações, uma festa; e da festa, um futuro em comum.
Porque #EstamosJuntas e este 8 de março é o primeiro dia de nossa nova vida.
Porque #ODesejoNosMove, 2017 é o momento da nossa revolução.

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