Salários atrasados no RS: ‘Além de poder perder a vida, tem a insegurança de não saber quando irá receber’

O Estado irá divulgar na quarta-feira (23) a data de do pagamento para os servidores que recebem acima de R$ 4.500 líquido. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Por Annie Castro. 

Nesta terça-feira, 23 de julho, os servidores estaduais do Rio Grande do Sul que ganham até  R$ 4.500 devem receber a última parcela dos salários de junho. Já quem ganha acima desse montante só saberá hoje quando terá o salário quitado. A situação faz com que parte do funcionalismo público do RS, que já enfrenta quase cinco anos de atrasos nos vencimentos, possa receber os salários de julho só em setembro.

Para a vice-presidente do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS-Sindicato) Solange da Silva Carvalho, a medida adotada pelo governo do Estado para a folha de pagamento de junho é uma maneira de disfarçar o atraso salarial. “Nós entendemos que é um absurdo que o governo do Estado está fazendo, ele está disfarçando o atraso dos salários com essa forma híbrida de pagar atrasado”, diz. Ela reforça que os servidores estaduais já enfrentam quase cinco anos de atraso salarial e que isso tem gerado empobrecimento e adoecimento à categoria. “Para nós, o atraso do salário é uma grande falta de respeito e um descaso com a educação. Além de colegas sofrerem assédios, da demissão dos trabalhadores que estão em licença saúde, de ainda faltarem professores em algumas escolas, o governo continua colocando como último item o pagamento dos educadores”, diz.

Ainda, Solange afirma que a categoria está com medo de que o salário de junho não seja integralmente quitado em julho e que o salário deste mês também seja atrasado. “Todas as informações divulgadas indicam que o governo não tenha ainda dentro do mês de julho o valor para pagar o salário de junho, então a nossa espera está se transformando em uma certa agonia porque, com isso, pressupõe-se que vai atrasar bastante o salário de julho também, mais do que das outras vezes”, afirma.

O mesmo medo é compartilhado por integrantes da Ugeirm, sindicato que representa os agentes da polícia civil do Rio Grande do Sul. Em nota, a entidade afirma que, de acordo com uma análise das contas do Estado, “se nenhuma receita extraordinária entrar no caixa do governo, os salários só devem começar a ser pagos em 12 de agosto”. Ao Sul21, o vice-presidente da Ugeirm, Fábio Castro, disse que a entidade calcula que, se isso ocorrer, a salário de julho será pago somente em setembro. Questionada sobre essa possibilidade, a Secretaria da Fazenda afirmou que ainda não há nenhuma projeção do governo a respeito.

A Ugeirm também pontua que, caso ultrapassados os 30 dias de atraso salarial, é possível que o Banrisalário, uma linha de crédito concedido pelo Banrisul para antecipar os salários dos servidores públicos, deixe de ser concedido, uma vez que “o empréstimo referente ao mês de junho ainda não terá sido quitado”. De acordo com Castro, esse “mecanismo de empréstimo mascara um pouco” os prejuízos com o atraso dos salários. “Eu diria que 80% da categoria não teria recebido ainda se não houvesse esse empréstimo”, diz.

De acordo com Castro, o atraso salarial tem afetado o estado psicológico dos policiais civis e é mais uma das dificuldades que a categoria enfrenta há algum tempo. “Nós trabalhamos com 50% do efetivo, então cada policial civil hoje trabalha por dois, tem o excesso de trabalho que isso ocasiona, a violência crescente no Estado, o próprio atentado contra a vida dos policiais, isso tudo afeta. Fora a questão da profissão que tu tem que ter muita atenção porque tu pode perder a vida, ainda soma-se com a insegurança de não saber quando tu irá receber o salário, tem gente que está pensando como vai pagar o financiamento da casa, o aluguel, a gasolina, a comida. Isso abala muito fortemente”, diz.

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