ruído/mm segue trilha magistral em ‘A é Côncavo, B é Convexo’

Imagem: Lucas Costa/Divulgação.

ruído/mm é certamente a maior banda de post-rock brasileira – quiçá, latina. Para pensar o trabalho do sexteto curitibano é preciso trabalhar com progressões geométricas. A avaliação da qualidade e da representatividade do grupo precisa ter como parâmetro que a vertente musical em que trafegam (e sobre a qual sempre rejeitam a delimitação) é de nicho.

Sim, a ruído/mm faz música de gênero, e isso impacta profundamente na repercussão do trabalho, um dos produtos mais bem esquematizados da música local – e certamente da nacional. Não é bobagem dizer que estão para o gênero no país como a Explosions in the Sky para o mundo – guardadas, obviamente, as devidas proporções.

Sucessor do aclamado Rasura (2014), A é Côncavo, B é Convexo finalmente rompe com as bolhas do post-rock, se permite experimentar mais e chega a um resultado que ecoa de maneira grandiosa, mas através de sensações e concatenações distintas do que vimos nos quatro registros anteriores. A é Côncavo, B é Convexo marcha em diferentes direções, sinalizando que o sexteto pretende colher mais deste vasto horizonte que a música instrumental tem a sua disposição. Os clímax e as contemplações, que são assinatura da ruído/mm, seguem presentes, mas estruturados sob uma concisão (estética e musical) que uma única audição não é suficiente para que se note.

A é Côncavo, B é Convexo marcha em diferentes direções, sinalizando que o sexteto pretende colher mais deste vasto horizonte que a música instrumental tem a sua disposição.

A sensação é de que procuravam novos caminhos sem a obrigatoriedade de chegar a um lugar específico. Desta maneira, A é Côncavo, B é Convexosurge como um mergulho interno, uma pausa em que se permitiram ouvir os detalhes, os ruídos e os silêncios que os circundam. Não por outra razão, pormenores emergem das oito faixas que compõem o álbum, crescem e ressoam de maneira singular.

Suas guitarras cristalinas e precisas encontram pontos de cruzamento com as texturas dos pianos, do baixo e dos efeitos eletrônicos, enquanto há uma bateria que deságua para um desmoronamento completo, mesmo que optem por inserir sons cortados ou pela ruptura quando tudo leva a crer estarmos longe de seu fim.

Desse abraço em si evocado pela arte do disco, evidencia-se que a música da ruído/mm raramente se dirige ao acolhimento de seus próprios anseios artísticos. Ela busca uma vivência meditativa e reflexiva, às vezes até mesmo se move em câmera lenta, num ritmo límpido, sereno, sem obrigar-se a rompantes histriônicos, ciente de que seu efeito catártico é impressionante por ser intrínseco à paisagem sonora que constroem.

Ainda que saibamos que são, sem sombra de dúvida, composições pessoais, a maneira como conseguem fazer mesmo da calma uma experiência emocionalmente rica e magistral, mesmo que estejamos observando e ouvindo tudo à distância, mesmo que a esquizofrenia da vida, por vezes, nos impeça de entender que somos imagem e reflexo.

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