Roma pede prisão perpétua de 27 ex-agentes de ditaduras no Cone Sul

Por Janaina Cesar.

Após 15 anos de investigação tentando encontrar culpados, fazer justiça e dar um nome aos carrascos, o Processo Condor, que tramita na justiça italiana, caminha para sua reta final. Na audiência que aconteceu na sexta-feira (14) o Ministério Público de Roma pediu a prisão perpétua de 27 ex-agentes de ditaduras da Bolívia, Chile, Peru e Uruguai acusados de sequestro e homicídio múltiplo agravado de 25 cidadãos italianos durante a Operação Condor.

Dos 27 pedidos de prisão, apenas um tem chances reais de ser efetivadoDos 27 pedidos de prisão, apenas um tem chances reais de ser efetivado Durante a audiência de acusação, que começou na quinta-feira (13) e terminou na sexta-feira (14=), os procuradores Giancarlo Capaldo – responsável pelo caso – e Tiziana Cugini leram todos os casos de tortura e homicídio dos quais os réus são acusados. A sentença deve ser proferida no dia 13 de janeiro de 2017.

No total, 33 agentes militares foram processados, destes 5 faleceram e a 1 foi feito o pedido de absolvição. Na lista dos 27, se encontra o ex-tenente uruguaio José Fernandes Nestor Troccoli, de 68 anos. Militar responsável pelos interrogatórios da Fusna (Serviço de Inteligência da Marinha do Uruguai), Troccoli é o único entre os acusados que tem chances reais de ser preso, pois reside na Itália, em Battipaglia, uma pequena cidade no sul do país dominada pela máfia.

Para Jorge Ithurburu, presidente da Associação 24 de Marzo, o fato de ter sido pedido a absolvição de outro uruguaio inicialmente investigado, Ricardo Eliseo Chavez Dominguez, ex-militar da Fusna, pode significar que “realmente Troccoli seja condenado”, diz. Para ele, o pedido de prisão perpétua deve ser visto como um “passo em direção da verdade.” Para a próxima semana estão previstas audiências com advogados e dia 21 será a vez do advogado do Estado italiano se pronunciar.

A história

O procurador italiano Carlos Capaldo investigou por mais de 15 anos os crimes cometidos contra cidadãos de origem italiana durante a época de atuação da Operação Condor, uma rede de combate ao comunismo, repressão política e troca de prisioneiros formada pelos serviços de inteligência das ditaduras do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai). Ao todo foram investigados 146 ex-militares: 61 argentinos, 32 uruguaios, 22 chilenos, 7 bolivianos, 7 paraguaios e 4 peruanos, além de 13 brasileiros — entre os quais estão os dois últimos presidentes do período militar, Ernesto Geisel (1974-1979) e João Baptista Figueiredo (1980-1985). Por vários motivos – mortes e falta de colaboração de alguns países, sobretudo – somente 33 foram processados.

Operação Condor Brasil

Se em um primeiro momento os brasileiros não constavam entre os réus, em abril de 2015, o procurador Capaldo apresentou denuncia contra João Osvaldo Leivas Job, Carlos Alberto Ponzi, Átila Rorsetzer e Marco Aurélio da Silva pelo assassinato do ítalo-argentino Lorenzo Viñas Gigli durante os anos da Operação Condor. Como o processo principal já estava em fase adiantada, a Corte decidiu, em uma audiência de fevereiro deste ano, julgar os brasileiros num processo a parte. A próxima audiência do caso brasileiro está prevista para dia 5 de dezembro, na I Corte de Assis, em Roma. Marco Aurélio da Silva morreu no último dia 2 de junho. Abaixo, a lista de acusados para os quais o MP de Roma pediu prisão perpétua:

Chilenos

  1. Pedro Octavio Espinoza Bravo
  2. Daniel Aguirre Mora
  3. Carlos Luco Astroza
  4. Orlando Moreno Vásquez
  5. Hernán Jerónimo Ramírez Ramírez
  6. Rafael Ahumada Valderrama
  7. Manuel Abraham Vásquez Chauan

Uruguaios

  1. Gregorio Conrado Alvarez Armellino
  2. José Ricardo Arab Fernández
  3. Juan Carlos Blanco
  4. José Horacio “Nino”Gavazzo Pereira
  5. Juan Carlos Larcebeau Aguirregaray
  6. Pedro Antonio Mato Narbondo
  7. Luis Alfredo Maurente Mata
  8. Ricardo José Medina Blanco
  9. Ernesto Avelino Ramas Pereira
  10. José Sande Lima
  11. Jorge Alberto Silveira Quesada
  12. Ernesto Soca
  13. Jorge Néstor Troccoli Fernández
  14. Gilberto Vázquez Bissio

Bolivianos

  1. Luis García Meza Tejada
  2. Luis Arce Gómez

Peruanos

  1. Martín Martínez Garay
  2. Francisco Morales-Bermúdez Cerruti
  3. Pedro Richter Prada
  4. Germán Ruiz Figueroa

Mortos

  1. Sergio Víctor Arellano Stark
  2. Juan Manuel Guillermo Contreras Sepúlveda
  3. Luis Joaquín Ramirez Pineda
  4. Marcelo Luis Manuel Moren Brito
  5. Iván Paulós

Pedido de absolvição

  1. Ricardo Eliseo Chávez Dominguez

Vítimas italianas da Operação Condor

Argentinos

Sequestrados na Bolívia: Luis Stamponi

Sequestrados no Paraguai: Alejandro José Logoluso Di Martino e Dora Marta Landi

Sequestrados no Brasil: Lorenzo Ismael Viñas Gigli e Horacio Domingo Campiglia

Chilenos

Sequestrados no Chile: Juan Bosco Maino Canales, Juan José Montiglio Murúa, Jaime Patricio Donato Avendaño e Omar Venturelli Leonelli

Uruguaios

Sequestrados na Argentina: Daniel Alvaro Banfi Baranzano, Andrés Humberto Bellizzi Bellizzi, Héctor Orlando Giordano Cortazzo, Gerardo Francisco Gatti Antuña, Armando Bernardo Arnone Hernández, Edmundo Sabino Dossetti Techeira, Ileana Sara María García Ramos de Dosetti, Yolanda Iris Casco Ghelpi de D’Elia, Julio César D’Elia Pallares, Raúl Edgardo Borrelli Cattaneo, Raúl Gambaro Nuñez, María Emilia Islas Gatti de Zaffaroni, Juan Pablo Recagno Ibarburu

Uruguaios (casos somente contra Troccoli)

Sequestrados na Argentina: Alberto Corchs Laviña, Elena Paulina Lerena Costa de Corchs, Alfredo Fernando Bosco Muñoz, Guillermo Manuel Sobrino Berardi, Gustavo Alejandro Goycochea Camacho, Graciela Noemi Basualdo Noguera de Goycochea, María Antonia Castro Huerga de Martínez, José Mario Martínez Suárez, Aída Celia Sanz Fernández, Elsa Haydee Fernández Lanzani de Sanz, Atalivas Castillo Lima, Miguel Ángel Río Casas, Eduardo Gallo Castro, Gustavo Raúl Arce Viera, Juvelino Andrés Carneiro Da Fontoura Gularte, Carolina Barrientos Sagastibelza de Carneiro, Carlos Federico Cabezudo Pérez, María Asunción Artigas Nilo de Moyano, Alfredo Moyano Santander e Célica Élida Gómez Rosano.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia/288340-1.

 

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