Rodovia Ilhéus-Itabuna: A quem servem as ruínas?

Por Rafa SG.

Eu viajo cotidianamente pela Rodovia Ilhéus-Itabuna, a BA 001. Uma estrada bonita, no meio da Mata Atlântica, um pouco menos de 40 kilômetros entre as duas cidades. Cada dia descubro um lugar diferente, um jeito de olhar diferente para cada cantinho dela, adoro essas viagens.

No caminho, distritos, pequenas aglomerações bastante abandonadas pelo poder público, a entrada para ainda outros distritos, duas fazendas “revigoradas” para o Turismo ecológico, uma Universidade Estadual, a CEPLAC.

O que gostaria, sobretudo, de falar aqui, é sobre ruínas. Nesse caminho, há muitas construções abandonadas. As antigas fazendas, das quais faziam parte estas construções, foram abandonadas pelos fazendeiros, deixaram-nas para trás. Uma amiga arquiteta me contou que o material utilizado na maioria dessas casas é de altíssima qualidade, o que denota o quanto a elite cacaueira tinha posses.

Essas ruínas marcam a região, ao longo do já tão poluído Rio Cachoeira. Simbolicamente, essas ruínas constroem um significado sobre os modos de organização política atualmente, em especial para mim, que chego aqui há três anos.

Para mim, o ciclo abandono-heroísmo marca esta região. São inúmeros prefeitos com inúmeros mandatos, vereadores, gestores de um modo geral. Do mesmo modo que há o abandono, há um sentimento de que, em algum momento, haverá de aparecer um novo alguém para salvar a região.

Do mesmo modo, tudo fica na mesma. E espera-se o cacau voltar, sem refletir sobre o que ele significou para a manutenção de uma elite, para o desemprego de muita gente, para as ruínas da estrada, para as péssimas condições das cidades. E há sempre, de novo, a construção de novos supostos heróis, filhos dessa mesma elite, a única que poderá nos manter a salvo.

Eu gosto de pensar que só será possível mudar essa situação desde que possamos não mais reproduzir esse ciclo. Este ciclo do cacau acabou por aqui. Há que se começar outros modos, mas para isso é preciso lidar com essa herança maldita, lidar com essas ruínas, reconstruir, desde outras sensibilidades, essa região.

Disso me pergunto: a quem serve o discurso de que estamos sempre entrando em ruínas? Aos heróis, por óbvio.

Imagem: Google Maps.

Fonte: Medium.

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