Roda de conversa sobre Ecologia Mental no Coletivo GENI LGBT

Foto: Jasmin Zucotti
Foto: Jasmin Zucotti

Por Elissandro dos Santos Santana, Bahia, para Desacato.info.

O movimento sócio-homo-bi-feminista-trans-ecoambiental está ganhando força e corpo em Porto Seguro e Eunápolis, duas importantes cidades do Extremo Sul da Bahia, por meio do Coletivo GENI LGBT.

O referido Coletivo alicerça-se nos seguintes princípios e valores: promover ações de visibilidade e de empoderamento da comunidade LGBT e de outras minorias da região. Direciona-se à luta pelo fim do preconceito dos diversos seguimentos societários no que tange às identidades étnicas, de gênero e de sexualidade, reconhecendo a importância da união, da coragem e da liberdade no processo de mudança de consciência, de sensibilidade e, principalmente, de atuação em sociedade.

O GENI busca a desconstrução e a superação de todas as formas de estigmas, dentro e fora do coletivo, via promoção de atividades de apoio mútuo e de conscientização das minorias, valendo-se do compartilhamento de informações e de vivências como estratégias de formação, enxergando nas diversas formas de conhecimento fortes aliadas para a integração social.

O Coletivo busca apontar soluções que garantam o direito ao afeto e à autonomia dos corpos-cidadãos, compreendendo a expressão das identidades sexuais como direito que precisa ser garantido pelo Estado e por todos os aparelhos ideológicos, em especial, por aqueles institucionalizados. Nesse percurso de luta, desenvolve políticas educativas e promove a integração da população LGBT na sociedade por meio da luta por direitos básicos como trabalho, dignidade, moradia, saúde e educação.

Também faz parte dos objetivos do GENI estabelecer diálogos com as diferentes formas de expressão e de identidades sexuais. Por fim, o Coletivo visa a alcançar o respeito, o reconhecimento e a visibilidade da sociedade, garantindo a igualdade de direitos, de oportunidades, da expressão das identidades e a realização dos afetos.

Feita a apresentação do Coletivo, cabe destacar que nos dias 16 e 17 do corrente mês e ano, ele realizou o evento “I Limonada” no qual apresentou os seguintes eixos de discussão: relações entre LGBT com a Democracia, o Socioambiental, a Saúde, a Teoria Queer e o Movimento Feminista.

Segundo os/as elaboradores/as do evento, Limonada possui relação discursiva, histórica e política direta com o período escravocrata, no qual as populações negras escravizadas acreditavam que a limonada possibilitava o clareamento da pele. A escolha do nome do evento deu-se a partir da sugestão de Douglas, sendo acatada por todos/as os/as elaboradores/as do evento, Cíntia Glória Lima, Ian Lopes de Jesus, Caroline Souza e Edilson de Jesus Santos. Para tanto, partiram de indagações como: na identidade sexual e sua diversidade, qual pessoa do universo LGBT nunca buscou sua limonada materializada nas promessas da cura gay? Ademais, eles levaram em consideração fatos como: a violência contra a comunidade LGBT é tão cruel e tão cínica que se ramificou na sociedade e se dogmatizou. Também se arvoraram nas seguintes hipóteses: se a sexualidade já é marginalizada, destruidora da “moral e dos bons costumes”, assumir qualquer outro “desvio de conduta” é tomar para si o estigma do não humano.

Cada temática discutida no Coletivo provocou inquietação em cada participante e a minha ida ao movimento para tecer considerações acerca do artigo publicado em parceria com Denys Henrique Rodrigues Câmara e Rosana dos Santos Santana na Revista Ecodebate e republicado no Jornal Desacato e em outros meios de comunicação na rede, “Ecologia Mental: uma arma sustentável contra a homofobia e contra a intolerância.”, mostrando a relação direta entre ecologia, movimento socioambiental e comunidade LGBT provocou aquilo que se chama catarse.

Para a compreensão apurada das intersecções possíveis entre Meio-Ambiente, Sociedade, Ecologia e Movimento LGBT foram elencados os seguintes pontos:

  1. É tempo de ecologizar nossa arquitetura mental para uma ecologia da mente, pois somente assim será possível atingir a ecologia integral.
  2. É preciso desconstruir a cultura do machismo para aniquilar a cultura da destruição ambiental.
  3. Faz-se imprescindível discutir a relação destruição ambiental versus machismo, em suas bases e origens.
  4. Necessidade de discorrer sobre a relação do homem com a natureza antes e depois do nascimento da ciência.
  5. O machismo é não ecológico e desencadeia direta e indiretamente males como o racismo, a homofobia e todas as formas de intolerância.

À medida que aprofundava as discussões, houve a oportunidade de apresentar teóricos como Leonardo Boff, James Lovelock, Fritjof Capra, Rachel Carson, entre outros, com vistas a possibilitar o entendimento de que somos parte da terra e com ela interagimos na grande teia da vida.

Para provar a relação de causa-feito entre a degradação ambiental com arquiteturas mentais sociais insustentáveis de pensar as relações com a terra, recorreu-se a Boff 2015, quando ele pontua o seguinte: o estado do mundo está ligado ao estado de nossa mente. Se o mundo está doente é indício de que nossa psique também está doente. Há agressões contra a natureza e vontade de dominação porque dentro do ser humano funcionam visões, arquétipos, emoções que levam a exclusões e à violência. Existe uma ecologia interior, bem como uma ecologia exterior que se condicionam mutuamente.

A partir desse ponto, corroborou-se que é impossível haver sustentabilidade se não houver a sustentabilidade da mente, pois somente diante disso viabilizar-se-á a concretização da ecologia da mente para a ecologização de todas as práticas e saberes. Que com a ecologização dos saberes haverá a derrota do machismo que concebe a Terra como a grande fêmea a ser vilipendiada e sugada em todos os aspectos.

O encontro com o Coletivo encerrou-se a partir das seguintes considerações feitas por Santana et al (2016):

  • A Ecologia Mental é um instrumento que possibilita a higiene mental e, diante disso, viabiliza-se a quebra de preconceitos.
  • A partir da higiene mental, um dos matizes da Ecologia Mental, o novo ser humano empodera-se e coloca em prática o que pontua Torán (2014):aceita o desafio de ser consciente das diferentes formações mentais (pensamentos, emoções, imagens e sons mentais, e sensações físicas associadas, que normalmente se cruzam e atuam sem serem reconhecidas, e sem que seja capaz de separá-las em seus diversos componentes). Permanece alerta antes de pensamentos e emoções tóxicas que possam danificar às outras pessoas e a si mesmos. Adquire consciência de que o ego se esconde atrás de todos os conteúdos tóxicos que a própria mente é capaz de gerar e trabalha arduamente para ser consciente disso e não se deixar levar pelas armadilhas. Aceita a oportunidade de responder em vez de reacionar. Ante um estímulo, não se permite responder automaticamente, como se fosse um robô. Torna-se cônscio de que reacionar pode gerar vários danos. Torna-se responsável por responder de uma forma mental e emocionalmente ecológica, com a consciência de que as próprias ações beneficiarão a todos e não somente aos próprios interesses. Assegura-se de que as próprias ações não causarão danos nem a si mesmo nem a ninguém, no presente e no futuro. Aceita a tarefa de trabalhar para o crescimento pessoal, eliminar hábitos negativos e adquirir qualidades que possam beneficiar a todos. Por fim, toma a responsabilidade de dirigir a própria vida, dando-lhe sentido, rumo e valores, criando caminhos que permitam chegar aos objetivos.
  • A Ecologia Mental, por meio da higiene da mente, contribuirá para que o ser humano faça a reforma do pensamento e desconstrua a arquitetura de desrespeito à diferença. Acerca da necessidade da reforma do pensamento, é profícuo apoiar-se no que afirma Morin (2003) quando ele diz que todo conhecimento constitui, ao mesmo tempo, uma tradução e uma reconstrução, a partir de sinais, signos, símbolos, sob a forma de representações, idéias (sic), teorias, discursos. A organização dos conhecimentos é realizada em função de princípios e regras que não cabe analisar aqui; comporta operações de ligação (conjunção, inclusão, implicação) e de separação (diferenciação, oposição, seleção, exclusão). O processo é circular, passando da separação à ligação, da ligação à separação, e, além disso, da análise à síntese, da síntese à análise. Ou seja: o conhecimento comporta, ao mesmo tempo, separação e ligação, análise e síntese.
  • Diante da nova arquitetura mental que se reforma e se renova, arvorada nas necessidades sociais, sustentável nas bases, fatos como o de Orlando ficarão, somente, na memória e, dessa forma, a história despontará como campo de reflexão para orbitar o passado com vistas à construção de futuros de esperança, com a destituição da cultura da homofobia-machismo-racismo-intolerância.

Para finalizar a discussão, discorri sobre as dez características do paradigma emergente para o novo mundo apresentado por Boff no livro “Ecologia, grito da Terra, grito dos pobres, dignidade e direitos da Mãe Terra” e mostrei a importância do movimento ecofeminista para um Planeta mais sustentável. Ademais, indaguei a todos/as os/as presentes se nunca haviam pensado na hipótese de que todas as minorias são uma resposta da própria terra em busca da sustentabilidade da existência, pois a revolução, ao que tudo indica, será, de fato, colorida.

Referência bibliográfica

 

BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres: dignidade e direitos da Mãe Terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

SANTANA, Elissandro dos Santos et alEcologia Mental: uma arma sustentável contra a homofobia e contra a intolerância, Revista Ecodebate, Rio de Janeiro, ISSN 2446-9394, nº 2.547, 14/06/2016.

TORÁN, Félix. Ecologia Mental para Dummies. Barcelona: Grupo Planeta, 2014.

 

* Eissandro Santana é especialista em sustentabilidade, desenvolvimento e gestão de projetos sociais e Membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, ISSN 2317-0735.

 

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