Rifkin, Klein, Friedman e media-lunas

Rifkin

Por Efraim Rodrigues.*

Escrevo de Buenos Aires, onde vai haver um Simpósio Latino Americano de Restauração Ecológica.

Graças a um desencontro de vôos, ganhei o maior presente que existe. Um dia quase inteiro em uma cidade estrangeira, longe do celular e das coisas que criamos e que terminam por nos ocupar inteiramente. Ou seja; folga absoluta.

Perdido por Buenos Aires tive toda sorte de pensamentos desconexos, o ócio é delicioso.

Quando aterrei ontem, vi aqueles 10 km de largura de rio e fiquei pensando em todo caminho que faz, e quanto daquela água é esgoto das cidades ao longo do Tibagi, que vai para o Paranapanema, Paraná e afinal para este Rio da Prata. Quantos dias levará esta viagem excretora? Haverá wikipedia que saiba isto?

Logo de manhã encontrei em uma livraria ao acaso, a tradução do recente livro de Jeremy Rifkin, A sociedade do custo marginal zero.

Talvez ele tenha sido hermético na escolha do titulo. Custo marginal é o custo da cópia. Quanto custa para comprar uma segunda casa? O mesmo que a primeira, o custo marginal é alto. E quanto custa para fazer uma cópia da música que você gravou? Quase nada, o custo marginal é baixo. O argumento dele, que ainda estou começando a digerir, entre espressos e croissants, é que com as novas tecnologias quase tudo vai ter custo marginal muito baixo e isto será o fim do domínio do capitalismo de mercado como o conhecemos.

Sua previsão de futuro é otimista e envolve a idéia que a própria riqueza deixará de fazer sentido. As pessoas quererão mesmo é viver vidas sustentáveis. Sempre conto que nos anos 90 conheci a primeira pessoa que abdicou de comprar um objeto não porque não o quisesse, tampouco porque não pudesse. Abdicou pelo impacto ambiental que causaria. Se isto ainda não é comum, ao menos hoje é menos raro.

A idéia de Rifkin faz coro com Naomi Klein. Ela diz em seu livro recente, que o aquecimento global representa uma mudança nas regras do jogo econômico, e que as mudanças climáticas são muito mais acerca de lucros que de carbono.

Este segundo lerei em ebook depois de terminar este, para não cair na vala comum da acumulação de esquilo que termina nem comendo as nozes. Ao contrário delas, livros não lidos não germinam e tornam-se árvores. Livros não lidos não são coisa alguma, mas fica a dica: This changes everything, ainda sem tradução.

Estes dois, percebi hoje, formam uma trilogia com Quente, Plano e Lotado, de Tom Friedman. Menos otimista, mas que acertou várias previsões em seus cinco anos de vida

*Efraim Rodrigues, Ph.D. ([email protected]), Articulista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, JICA e Vale, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores e Ecologia da Restauração, finalista do 56º Prêmio Jabuti 2014. Nos fins de semana ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico.

Fonte: Portal EcoDebate

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