Retrospectiva Semanal: A vida ou o dinheiro?

Imagem: Minh Nguy?n Hoàng por Pixabay.
Os donos do poder não descansam

Por Douglas F. Kovaleski, para Desacato. info.

A vida ou o dinheiro? Veja que dilema interessante o capitalismo se depara? Como o capitalismo pode dar conta de um monstro criado nas entranhas do seu próprio afã expansionista? Afinal, de onde veio o vírus? De um laboratório norte-americano, segundo a teoria da guerra biológica (Escobar link https://www.brasildefato.com.br/2020/03/18/artigo-como-o-exercito-dos-eua-pode-ter-levado-o-virus-a-china-por-pepe-escobar), ou como resultado da invasão que a espécie humana fez ao habitat de um vírus que vivia tranquilamente em morcegos sem maiores constrangimentos. É fundamental localizar o processo de degradação global que o planeta vem sofrendo em prol da expansão irrefreável, ilimitada e irresponsável do capitalismo, pois estamos vivendo um novo sobressalto para a humanidade, o coronavírus, justo em um período de agravamento da crise estrutural do capitalismo que está estreitamente associada à crise ambiental vivenciada cotidianamente.

Agora a nação vive um dilema, pois se parar de trabalhar a burguesia fica furiosa e ameaça demitir, cortar salários e ferrar ainda mais a nossa vida, dos trabalhadores, tão degradada nesses últimos anos. Se continuarmos a trabalhar podemos morrer de covid. Mas espere, enquanto as pessoas pensam nas mortes apenas no campo das estatísticas, dos percentuais e dos perfis de quem mais morre (idoso, com problemas cardíacos,…), ainda resta a chance de eu, euzinho não ser atingido e isso parece ser um fator de desmobilização decisivo. O individualismo reina até mesmo no caos, o salve-se quem puder é a regra, os laços de solidariedade estão muito débeis e precisam mais do que nunca de um reforço.

Essas orientações contraditórias entre mundo acadêmico (fique em casa) e os setores empresariais (voltem ao trabalho), os quais são diretamente representados pelo governo Bolsonaro expõe os verdadeiros interesses do capital, afinal de contas, para a burguesia, de uma maneira geral não faltam trabalhadores, do contrário, sobram aos milhares, o número de desempregados é enorme. Por isso as mortes não atingem o capital

Entendo essa pandemia mundial combinada com este ciclo recessivo da crise estrutural do capitalismo como uma grande possibilidade de reorientação da humanidade, ainda não sei se esses eventos são coincidentes ou não, afinal essas certezas só aparecem alguns anos depois. Como Florestan Fernandes denominou essa pode ser uma “brecha” no sistema onde apenas a solidariedade de classe e clareza do momento histórico que vivemos pode auxiliar na tarefa revolucionária.

Com relação à crise do capital, segue trecho do Manifesto Comunista, para deixar claro que não há novidade nenhuma no momento vivido. Trata-se de uma crise do capital, talvez uma das mais poderosas, mas mais uma crise.

“Há muitas décadas a história da indústria e do comércio se apresenta como a revolta das forças produtivas modernas contra as relações de produção modernas, contra o sistema de propriedade que é a condição de existência da burguesia e do seu regime. Basta lembrar as crises econômicas periódicas que ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Nestas crises são destruídas não só uma grande parte dos produtos já criados mas também das forças produtivas instaladas. Explode uma epidemia social que em qualquer outra época pareceria um absurdo: a epidemia da superprodução. Bruscamente, a sociedade se encontra novamente relançada em um estado de barbárie momentâneo: é como se uma fome, uma guerra de destruição universal tivesse cortado seus alimentos; a indústria, o comércio, parecem aniquilados. E por que? Porque a sociedade tem muita civilização, muitos alimentos, muita indústria, muito comércio. As forças produtivas que ela dispõe já não agem mais a favor da propriedade burguesa. Ao contrário, elas se tornaram, muito potentes para as instituições burguesas, que não lhe são mais do que entraves; e quando elas superam esses entraves precipitam toda a sociedade burguesa na desordem e colocam em perigo a existência da propriedade burguesa. As instituições burguesas tornaram-se muito estreitas para conter a riqueza que elas criaram”.

Outra possibilidade de consequência dessa pandemia, e essa muito forte, pois já está em prática, é o controle dos corpos, nada mais atual do que o conceito de biopoder em Foucault e a prisão em forma de panóptico. A intensificação do controle das pessoas pode se tornar norma. Por isso engulo seco o fiquem em casa, apesar de apoiar essa orientação.

Assim, é tarefa dos revolucionários, manter-se incansáveis no esclarecimento da classe para a superação desse modo de vida que deve acontecer evidenciando os limites do capital e, acima de tudo, sobrevivendo. Por isso, fiquem em casa e estudem, a revolução se aproxima.

Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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