Retrospectiva Semanal: “A paciência da classe trabalhadora é sábia e tem limites.”

Foto: Pixabay
Organizar a classe trabalhadora

Por Douglas F. Kovaleski para Desacato. info.

A vida deve ficar muito mais dura para o povo do Brasil nesse próximo período: com o sistema de saúde entrando em colapso, com a economia em bancarrota e com um governo inimigo declarado da classe trabalhadora e da vida, não há perspectivas positivas no curto prazo para a classe trabalhadora. No entanto, é momento de preparar a classe, aproveitar o momento e redirecionar a luta de classes para uma intensificação até chegar à revolução socialista. Uma vez que a pandemia, mais do que em qualquer outro momento da história, desmascara os simulacros do capital e deixa bem claro de que o capitalismo é incompatível com vida.

A mensagem do parágrafo acima parece muito distante do entendimento da maioria da classe trabalhadora no Brasil. Note-se o número de apoiadores do governo genocida de Bolsonaro, algo em torno de 1/3 da população e a baixa capacidade de reação dos movimentos e partidos progressistas no país frente aos ataques cotidianos aos direitos e à vida dos trabalhadores e trabalhadoras do país. Cabe à militância de esquerda, trazer à tona as contradições do capitalismo e deixar cada vez mais clara a sua incompatibilidade com vida e com o meio ambiente. Constatação que se confirma dia após dia com as ações e declarações irresponsáveis do presidente Bolsonaro, o representante da burguesia colocado no poder. Dessa forma, abordar criticamente a conjuntura é tarefa fundamental.

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No Brasil, centenas de pessoas aguardam por um leito público de UTI, três estados já atingiram o limite da sua capacidade de internação graças à pandemia do novo coronavírus. O primeiro estado foi o Ceará, depois o Amazonas e na quarta-feira, 29 de abril foi a vez de Pernambuco. A ação mais efetiva realizada pelos governantes desses estados é viabilizar a abertura de covas coletivas para livrar-se dos cadáveres, antes que comecem a cheirar mal. Muitas pessoas morrem em casa à espera de assistência pública. Mas há uma informação pouquíssimo comentada nos meios de comunicação: há leitos de UTI e de internação geral disponíveis na rede privada em todos os estados do Brasil.

As vidas têm valores de acordo com sua classe social no Brasil. Espanha, Irlanda do Norte, França, Itália e Austrália unificaram as filas do sistema público e privado. O pressuposto é que todos os recursos disponíveis devem ser esgotados para salvar o maior número de vidas. Apesar de a constituição brasileira prever isso claramente com o Sistema Único de Saúde, ainda mais quando o país vive em estado de calamidade pública. O SUS é único justamente porque regula todo o sistema público e privado de saúde na defesa da vida da população, não contra ela. O SUS é feito de ideologia, políticas, financiamento e ações.

Essa solução de unificação das filas vem sendo proposta desde o início da pandemia por meio da campanha “Leitos para todos”, tem o apoio do Conselho Nacional de Saúde e outras entidades e sindicatos que lutam pela vida. Mas o capital mostra seus objetivos mais explícitos: o lucro em detrimento da vida. Enquanto isso a classe trabalhadora que não está trabalhando para manter supermercados, postos de combustíveis e serviços de saúde deve fazer quarentena, enquanto os apoiadores de Bolsonaro fazem protestos nas ruas em apoio à ignorância. Aviso à burguesia: a paciência da classe trabalhadora é sábia e tem limites. 

Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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