Retrospectiva: O dia do abraço fraterno

O abraço emocionante entre Santa Catarina, Paraná e Argentina. Foto: Claudia Weinman, para Desacato. info.

Por Claudia Weinman, para Desacato. info.

A mobilização do dia 14 de junho, no Extremo-oeste Catarinense foi organizada pela Frente Brasil Popular, onde integram os movimentos do campo, também sindicatos, Igreja, Pastorais Sociais e organizações urbanas. A concentração aconteceu em Dionísio Cerqueira, reunindo além de Santa Catarina, o estado do Paraná e o país vizinho, a Argentina, em um emocionante abraço coletivo.

Na pauta de reivindicações somaram-se as questões nacionais, como a luta contra a reforma da previdência, que representa uma grande violência especialmente para as mulheres camponesas, que passariam a ter idade mínima igual a do homem para solicitar aposentadoria, aos 60 anos.

Uma das pautas de reivindicação foi pelas melhorarias na BR 163, importante trecho de escoamento da produção no interior de SC. Foto: Claudia Weinman, para Desacato. info.
Organizações prepararam cartazes explicativos sobre a reforma da previdência e o posicionamento de camponeses/as contrários a essa medida. Foto: Claudia Weinman, para Desacato. info.

Também se abordou a pauta contra os cortes na educação, reunindo alguns estudantes mobilizados dos Institutos Federais de Santa Catarina e do Paraná e ainda as pautas específicas que são as reivindicações pelas melhorias na BR 163, um dos principais trechos de acesso da região, por onde escoa a produção.

Os agricultores e agricultoras ainda levaram para a greve os elementos contrários a normativa 76 e 77 do  Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAP) que estipulam regras para a produção e comercialização do leite exigindo investimentos altíssimos que só beneficiam os grandes produtores e excluem a agricultura familiar de toda possibilidade de sobrevivência a partir da produção do leite.

Acampamento da Agricultura Familiar

Um dos representantes da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar de Santa Catarina (Fetraf), Jonas Ansolin, falou sobre a atividade realizada ainda na quinta-feira, dia 13 de junho. “Chamamos a atividade de acampamento da agricultura familiar, onde realizamos um diálogo para relembrar as pessoas sobre qual parlamentar à pessoa votou. Temos 16 deputados federais de Santa Catarina e três senadores que votam contra o povo. Então montamos um material com a foto e o partido dos deputados e senadores para que a população reconheça quem vota contrário ao povo”.

Seguranças impedem atropelamento

Carro com adesivo de Jair Bolsonaro tenta atropelas o povo que se manifestava contrário a reforma da previdência. Foto: Claudia Weinman, para Desacato. info.

Durante o dia de greve geral também conversamos com uma das pessoas que integraram a equipe de segurança da mobilização. Maicon Reginatto falou sobre a tentativa de uma pessoa passar com o carro na via onde as pessoas transitavam em marcha. “Estávamos em uma manifestação unitária, trabalhadores da educação, do campo, de todas as áreas e de forma triste uma pessoa tentou atravessar no meio do povo com o carro, gerou um conflito, o pessoal da segurança rapidamente se fez presente”, disse ele, comentando ainda que essas atitudes fazem parte do discurso de ódio favorecido pelo governo brasileiro no último período.

Importante dizer: 

Ainda, durante as transmissões ao vivo, apontavam comentários sobre os/as “vagabundos”, os “idosos que não tinham o que fazer” e estavam na greve. E são esses/as, os cabelos brancos, os homens e mulheres que seguem entre o povo buscando um braço para se apoiar, que ao longo da história foram garantindo as pautas. Tantos/as camponeses/as que ainda sentem o peso da jornada e sabem que se a reforma da previdência for aprovada, tal qual o Ministro Guedes coloca, isso representará um grande retrocesso para camponeses e camponesas e também para a cidade. É assim mesmo como dizem nas marchas: “Se o campo não planta a cidade não janta”.

Para além disso, é importante se pensar que no interior foram ao longo da história os/as camponeses e camponesas que garantiram as pautas nas ruas. Também muitos trabalhadores e trabalhadoras urbanas, no entanto, o campesinato nunca abandonou a bandeira e isso se dá também pelo histórico do Oeste Catarinense, por ser o berço de movimentos camponeses importantes, mas também, existem momentos que a gente fica observando as pessoas que perdemos para burocracia nesses anos todos. Quanta gente se conformou com as salas equipadas de ar condicionado, com um dinheiro bom no final do mês e com a vida mais tranquila, mas, só a sua.

Enquanto a burocracia mata, a gente segue a luta e nela encontramos cabelos brancos que nunca abandonaram a bandeira, o cartaz, a rua. Mais uma vez, no Oeste Catarinense, quem garantiu a pauta da greve foram camponeses e camponesas, o povo da roça, o “sol a sol”, a vida dura. E com esses e essas a gente se somará sempre para informar e lutar pela vida.

Quando tivermos construído melhor a compreensão da vida, algumas coisas farão mais sentido.

Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).

 

A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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