Retrospectiva: Lava Jato dizimou parte da construção civil brasileira

Crimes de lesa-pátria, praticados em série

Por José Álvaro Cardoso.

Já está bem documentado (teremos muito mais detalhes em algum momento no futuro, quando toda a verdade vir à tona) que a operação Lava Jato esteve sempre em articulação com o Departamento de Justiça americano e com as agências de espionagem estadunidenses (NSA, a CIA, o FBI). Para atingir seus intentos a operação usou todos os procedimentos ilegais possíveis: prisões arbitrárias, vazamento seletivo de delações de criminosos, desrespeito à presunção de inocência, escuta telefônica ilegal da presidenta da República. Incendiaram a opinião púbica contra pessoas delatadas, espalhando o ódio na classe média manipulada, com a conivência do STF. Todos esses fatos, sobre os quais haviam muito indícios, estão agora ficando evidentes pelas conversas do juiz e dos procuradores da Lava Jato, reveladas pelo The Intercept. E muito mais está por vir.

O site Wikileaks, já tinha divulgado, em outubro de 2009, que o Departamento de Estado dos EUA havia realizado um seminário de cooperação, que contou com a presença de membros da Polícia Federal, Judiciário, Ministério Público, no Rio de Janeiro. Deste seminário (“Projeto Pontes: construindo pontes para a aplicação da lei no Brasil”) participaram promotores e juízes federais dos 26 estados brasileiros, além de 50 policiais federais de todo o país. A delegação do Brasil era a maior do grupo, que tinha membros de vários países latino americanos. Segundo o material divulgado pelo Wikileaks, os policiais americanos ensinaram aos aprendizes do Brasil e demais países, técnicas de investigação nos casos de lavagem de dinheiro, confisco de bens, métodos para extrair provas dos acusados, negociação de delações premiadas, uso de exame como ferramenta, etc.

Em fevereiro de 2015, o então procurador geral da República, Rodrigo Janot, e um grupo de procuradores da força-tarefa responsável pela Operação Lava Jato foram aos Estados Unidos trocar informações com autoridades estadunidenses sobre as investigações das fraudes na Petrobrás. Os procuradores realizaram reuniões com o Departamento de Justiça, o FBI, o Banco Mundial e na OEA (Organização dos Estados Americanos). Todas estruturas de controle da informação e dominação utilizadas pelo imperialismo. Essas são informações oficiais, possivelmente uma série de encontros foram realizados de forma sigilosa.

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Se o golpe não fosse uma tragédia gigantesca, teríamos aqui uma piada pronta.

Autoridades brasileiras, fartamente remuneradas com dinheiro do povo, irem trocar informações com a ave de rapina mais agressiva do mundo, justamente sobre os alvos da rapinagem, a riqueza do Pré-sal e a Petrobrás. Os procuradores foram tratar do problema de corrupção na Petrobrás com representantes do país que é, de longe, o mais corrupto do mundo. Como está fartamente documentado, os EUA usam todos (TODOS) os recursos possíveis e imagináveis, financiando golpes e comprando governantes no mundo todo, para acessar riquezas e matérias primas e conservar sua hegemonia econômica e militar. Que, aliás, se encontra em crise. Não se fala do assunto mas, entre 1846 e 1848, os EUA ampliaram seu território em 25%, tomando terras do México, que perdeu cerca de 50% do seu território. A guerra entre os dois países foi iniciada pelos EUA, com base no cínico pretexto de que Deus tinha concedido o direito ao Império do Norte expandir suas fronteiras.

Desde 1945, no fim da 2ª Guerra Mundial, Washington já tentou derrubar mais de 50 governos, a maior parte dos quais plenamente democráticos, bombardeou populações civis de mais de 30 nações e tentou assassinar mais de 50 líderes estrangeiros. Não pode haver operações mais corruptas, no sentido amplo, do que essas. Entre 1898 e 1994, os Estados Unidos patrocinaram 41 golpes de Estado somente na América Latina, o que corresponde à derrubada de um governo a cada 28 meses, no espaço de um século. Um país com essa folha corrida pode dar conselhos para autoridades brasileiras sobre como combater a corrupção?

A corrupção é uma característica fundamental do modus operandi não apenas dos Estados Unidos, mas dos países imperialistas em geral. Quem tiver dúvidas disso é só estudar o caso da MP 795, aprovada em 2017, que ficou conhecida como a MP da Shell. Através da referida, rapidamente, e sem debate, o governo Temer mudou as regras da tributação, a regulação ambiental e liquidou com as regras de conteúdo local para a indústria de gás e petróleo. Segundo estudos da assessoria econômica da Câmara dos Deputados, somente as isenções fiscais para as petroleiras irão representar, no longo prazo, perda de receita na casa de R$ 1 trilhão e, já significou em 2018, uma perda de R$ 16,4 bilhões. Este é um caso típico de corrupção, que torna os “chutados” R$ 6 bilhões desviados da Petrobrás verdadeiro “dinheiro trocado”.

A Shell é uma velha conhecida no setor de petróleo, como corrupta ao extremo, tendo extensa lista de denúncias e processos. A denúncia mais recente em relação à empresa anglo holandesa é de que desviou recursos públicos e pagou propinas durante a compra de um dos maiores campos de petróleo da Nigéria, que foi vendido por US$ 1,3 bilhão, mas apenas US$ 210 milhões chegaram até os cofres públicos daquele país. A lista de acusações contra a Shell é longa. Mas na verdade este é o modus operandi não apenas da Shell, mas de todas as grandes petrolíferas do mundo. O lobby feito para cima do governo golpista de Michell Temer, e ao Congresso Nacional, visando desmontar as regras de exploração e produção do Pré-sal seguiu a mesma lógica observada no mundo todo. Afinal, o que são alguns milhões de dólares em propina, em face do acesso aos recursos do Pré-sal, que conter riqueza que pode chegar ao equivalente a dez PIB do Brasil?

A operação Lava Jato dizimou parte da construção civil brasileira, fechando empresas e prendendo seus executivos em nome do combate à corrupção. Calcula-se que as ações da Lava Jata e da Carne Fraca, em conjunto, possam ter gerado de cinco a sete milhões de desempregados, sem contar os efeitos da depressão econômica e da entrega do Pré-sal ao imperialismo. O envolvimento dos juízes da Lava Jato com falcatruas e recebimentos indevidos, que agora ficam comprovados pelas denúncias do The Intercept, acabam sendo crimes menores, quando comparados com o brutal preço do golpe no Brasil e com os crimes de lesa-pátria, cometidos em série contra a esmagadora maioria da população brasileira.

José Álvaro CardosoJosé Álvaro Cardoso é economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina

 

 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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