Restrições à noite e em finais de semana são insuficientes para conter a pandemia

Diante do colapso no sistema de saúde, coordenador da Rede Análise Covid-19 aponta que medidas restritivas devem durar pelo menos 15 dias para ter impacto significativo na redução da transmissão da covid-19

Foto: John Moore/Getty Images

Pelo menos 17 estados estão com mais de 80% de ocupação dos leitos de UTI reservados para o tratamento de doentes com a covid-19. Em diversos locais, já há fila à espera de tratamento intensivo, o que revela o descontrole da pandemia no Brasil. No Paraná, por exemplo, 164 aguardavam uma vaga em UTIs. Em São Paulo, hospitais da rede privada atingiram mais de 100% da capacidade.

Diante desse quadro, cidades e municípios têm adotado medidas de restrição de circulação. Em São Paulo, por exemplo, está em vigor, desde a última sexta-feira (26), o “toque de restrições“, que impõe o recolhimento das 23h às 5h. Outros estados do Nordeste impuseram o fechamento dos serviços não essenciais durante o final de semana.

Entretanto, para o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, essas medidas restritivas chegam atrasadas e são insuficientes para conter o avanço da transmissão.

“Digamos que a pessoa pegue o vírus na sexta-feira, por exemplo. Talvez ainda promova aglomeração, sem querer indo ao mercado, ou algo do tipo, já que não vai poder ir no final de semana. A partir do terceiro dia, que é quando começa a fase infecciosa, esse fechamento já vai ter acabado. Ela volta ao contato natural, aumentando a transmissão. Então essas medidas não fazem a diferença necessária”, explicou Schrarstzhaupt, em entrevista a Glauco Faria no Jornal Brasil Atual desta segunda-feira (1º).

Se as medidas restritivas durante o final de semana são pouco eficazes, segundo ele, as que vigoram apenas à noite são “menos ainda”, acrescentou. Segundo ele, o mínimo adequado seria uma restrição de mobilidade por pelo menos 15 dias. Ainda assim, haveria riscos, por que nem todos os ciclos de contágio começariam no início desse período. O ideal seria adotar tais medidas por 21 dias consecutivos.

Pandemia, sincronização e novas variantes

Diferentemente da primeira onda, quando regiões do interior do país registravam menor número de casos em relação às cidades grandes e capitais, atualmente há a chamada “sincronização”. É quando diferentes regiões registram simultaneamente o agravamento do contágio. Com isso, fica mais difícil, ou se torna inviável a remoção de pacientes para locais que ainda não colapsaram, alerta o especialista.

Outro complicador, de acordo com Schrarstzhaupt, são as chamadas novas variantes, que aparentam ter capacidade transmissão ainda maior. O próprio aparecimento dessas formas mutantes do vírus ocorrem em áreas onde a transmissão é mais disseminada. Regiões como Amazonas, África do Sul e Reino Unido, por exemplo, registraram surtos ainda antes de serem registrados o surgimento das novas variantes. Por outro lado, não se ouve falar em variantes da Nova Zelândia ou Coreia do Sul, países que tiveram maior sucesso no controle da doença.

Por outro lado, o especialista de dados aponta para a recorrente falta de testes no Brasil. Além da subnotificação, há o “represamento” no registro dos casos. Essa situação se dá, segundo ele, por algum descuido ou problema burocrático. Ou, ainda, pode ser o próprio represamento um sinal de colapso. Mas sem uma continuidade dos dados, é impossível realizar previsões confiáveis, o que dificulta ainda mais o combate à doença.

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