Repensar o jornalismo, seus conceitos, formas, limitações e tentativas

Dia de lembranças profissionais, pessoais e análises. Muito mais profundo que apenas ter o salário, é a realização de sonhos

Por Ana Carolina Peplau Madeira, para Desacato.info (texto e fotos).

A última mesa da 14ª Semana do Jornalismo na UFSC recebeu representantes do Portal Desacato, do Coletivo Catarse e da Agência Pública, na sexta-feira, dia 06/11, no auditório do Centro de Comunicação e Expressão, às 16h. O Portal Desacato já havia participado da 12ª, onde Raul Fitipaldi foi acompanhado da jornalista, à época do veículo, Larissa Cabral, formada no Curso de Jornalismo da UFSC. Uma das organizadoras da 13ª é atualmente uma de nossas companheiras, Fernanda Pessoa, também formada nessa casa de estudos, assim como também a atual presidente da Cooperativa, Rosângela Bion de Assis se formou lá.

Foi uma boa ideia dos organizadores do evento, deu oportunidade aos alunos conhecerem três modelos diferentes de mídia. Desacato, Catarse e Pública demonstraram uma coisa apenas em comum: São apaixonados pelo jornalismo que realizam com persistência para manter suas identidades comunicacionais. Alternativa viável e sustentável para se manter na profissão e ter liberdade para escolher temas e abordagens, o jornalismo independente é de luta, ato político e aberto a qualquer assunto (não precisa ser apenas sobre política).

Desta vez, o coordenador do Núcleo de Análise e Projetos da Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura (CpCC), e jornalista uruguaio Raul Fitipaldi, foi o porta-voz do coletivo e o primeiro a explanar sobre o tema. Logo questionou se pode existir jornalismo independente e respondeu que sim, desde que os profissionais tenham controle sobre os meios de produção. Salientou que acontece, porém de forma precária. Declarou que a dependência piorou com o advento da tecnologia, “no jornalismo sindical, conseguiam mobilizar uma quantia enorme de pessoas sem usar tantas mensagens antes dessa parafernália toda. Até nas redações, havia mais jornalistas”. “Um jornalista hoje faz de tudo quando é empregado e concorre com as redes e a deturpação que elas possam criar”, agregou.

Semana 2

Segundo o jornalista, o jornalismo independente só será possível tendo uma clara percepção da linha editorial e da política comunicacional para fora e para dentro do veículo . A CpCC é uma empresa de distribuição socialista dos ganhos, com 90% do quadro formado por mulheres. Ao todo, 24 cooperados, em quase quatro anos de muito trabalho. Concordou que até é interessante criar fundações, Organizações Não Governamentais (ONGs), Cooperativas, enquanto sejam afirmados os conceitos de soberania comunicacional. Os financiadores vão querer interferir nas pautas. “A pauta é nossa e não abrimos mão. Não acreditamos em jornalismo imparcial. Para ser independente precisa conquistar quatro questões: meios de produção para cobrir, informar para educar, educar para formar e formar para mobilização de transformação social”, acrescenta o jornalista mais experiente da cooperativa que produz o Portal Desacato.

De acordo com a Lei de Imprensa, apoiada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), jornalistas estrangeiros não podem ser proprietários de veículos de comunicação, mas as empresas internacionais e transnacionais sim podem ter oficinas no país, como ESPN, FOX, El País da Espanha.  “Sou um marginal dentro da cooperativa que ajudei a fundar”, comenta Raul Fitipaldi.

Catarse

“Depois de dias percorrendo o interior do Rio Grande do Sul, conhecendo pessoas e lugares legais, olhou para o céu. Viu uma noite estrelada e com lua cheia. Maravilhado e agradecido de fazer o que gosta, pensou: “e eu ainda por cima sou pago para fazer isso?” Sentindo-se privilegiado, o jornalista gaúcho Gustavo Türck contou aos alunos como estava orgulhoso em chegar ao patamar de reconhecimento do Catarse. São 11 anos de militância, formação e mobilização no coletivo. A cooperativa Catarse foi fundada por sete profissionais. “Não somos apenas tarefeiros, prestadores de serviço. Somos diferentes de empresas comuns. Atualmente a Catarse conta com 13 cooperados, sendo 70% homens. Os estudantes são formados para serem funcionários e não patrões, o que resulta nas dificuldades encontradas pelos empreendedores”, salienta Türck. Assim como aconteceu no Portal Desacato, começaram sem aporte financeiro, tiveram dificuldades em entender como funciona, se administra e atualmente produzem conteúdo próprio com recursos obtidos em licitações, mas sem interferências editoriais. Foram estabelecendo redes de contatos para realizar projetos.

Pública

O jornalista paulista Ciro Barros, da Agência Pública, resumiu o momento dos três modelos como sonho de todo jornalista, ser dono do próprio jornal. “Na Pública, a comunicação é um bem público inalienável, tanto que não colocamos anúncios. Foi difícil, era quase um sacerdócio, houve tentativas de produção própria”, conta o jornalista paulista. A solução foi buscar formas de financiamento para manter água, luz, telefone com produção de conteúdos próprios. A agência é uma ONG. “Recebemos recursos da Fundação Ford, entre outras. Nunca vi interferência nos conteúdos. Quem financia faz parte do conselho que decide as pautas. Nossa meta é depender cada vez menos dos financiamentos”, afirmou Barros.

 PS: A autora desta matéria é apaixonada por lead (primeiro parágrafo dos textos jornalístico, apresenta as principais informações), reconhece que precisa evoluir e ainda tem vícios de trabalho. (Eu, sobre mim – Ana Carolina Peplau Madeira)

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