Reitor cubano defende a formação humana para a prática de esportes

Antonio Becali GarridoProfessor da UNB aborda investimento privado e ausência de debate com os movimentos sociais para a realização de megaeventos

Por Gustavo Siqueira, para Desacato.info

A manhã do segundo dia da 9ª edição das Jornadas Bolivarianas teve como conferencistas o cubano Antonio Becali Garrido, reitor da Universidade de Ciências da Cultura Física e Esporte, e o brasileiro Fernando Mascarenhas, professor de Educação Física da UNB. A abertura da manhã contou com a exposição de fotos da América Latina, registradas por Ricardo Casarini.

O professor Garrido apresentou aspectos da educação física cubana destacando pontos fundamentais que a distinguem dos demais países, com ampla preparação para jogos olímpicos. O papel do treinador como liderança e estudioso da técnica, pedagogia, teoria e psicologia; e do atleta como engajado na superação e no alto rendimento – assim como responsabilidades e desafios de ambos num país com desenvolvimento tecnológico restrito – foram apresentados pelo cubano. Além disso, destacou a transmissão de valores dos treinadores aos atletas, sugerindo a formação humana para a prática de esportes, em detrimento da lógica mercadológica dos megaeventos.

fernando mascarenhasSob o título “O Estado, os Movimentos Sociais, as Políticas Públicas de Esporte e Lazer e os Direitos Sociais frente aos Megaeventos Esportivos”, Fernando Mascarenhas apresentou aspectos relevantes para o entendimento do contexto político e econômico do Brasil para o recebimento da Copa do Mundo em 2014, Olimpíadas em 2016 e Copa América em 2017. Para o professor, e seguindo a argumentação de Jaime Breilh da mesa anterior das Jornadas, realizada nesta terça-feira, a escolha de Brasil, China e África do Sul – países membro dos BRICS – não foi mero acaso. A necessidade de alto investimento para viabilização dos megaeventos esportivos foi condição para a escolha de países “em vias de desenvolvimento”, que podem sustentar tais acontecimentos. A partir disso, o papel do então presidente Lula foi fundamental ao usar seu carisma e “política de conciliação” para agradar aos grandes empresários nacionais com alto volume de investimentos, e a população com a realização de grandes eventos “em casa”.

Mascarenhas lembrou também o discurso emocionado de Lula em Copenhagen ao dizer que o Brasil, como palco de tais eventos, realizava uma “mobilidade” nacional no cenário internacional. Para o professor, esta política condiz com o neodesenvolvimentismo do governo do Partido dos Trabalhadores, que vêem nos jogos um catalisador de obras e investimentos dinamizadores da economia nacional. A aliança com a burguesia é estratégica, desde a candidatura do Brasil como país sede dos jogos, pois, segundo Mascarenhas, dos R$ 137 milhões investidos na ocasião, R$ 34 milhões foram provenientes da iniciativa privada distribuídas entre as empresas EBX (grupo do empresário Eike Batista da área de mineração, petrolífera, redes hoteleiras, portos e energia), Bradesco (concessão de seguros), Odebrecht (construção civil, responsável por obras de estádios), TAM (transporte aéreos) e Embratel (linhas telefônicas).

O professor da UnB ainda criticou a ausência de movimentos sociais no debate sobre os megaeventos esportivos. Para Mascarenhas, agora que o assunto se faz presente, o debate não foi devidamente desenvolvido. Por fim, afirmou que outro modelo de esporte é possível; citou o modelo dos 4S (esporte Sustentável, Soberano, Saudável e Solidário) apresentado por Breilh e as Olimpíadas Populares de Barcelona em 1936 interrompidas pela invasão dos grupos franquistas na Espanha. Além de possível, este esporte é necessário por uma nova lógica de prática esportiva.

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