Região de fronteira e famílias pobres sofrem impacto com desmatamento

Os ganhos ambientais do fim do desmatamento no país seriam inegáveis, mas as consequências negativas recairiam sobre o PIB regional de Estados de fronteira e os trabalhadores com menor qualificação, geralmente de famílias mais pobres.

A reportagem é de Everton Lopes Batista e Thaiza Pauluze, publicada por Folha de São Paulo, 31-10-2017.

“É nosso papel compensar os grupos afetados. Não é justo quem está no interior de Mato Grosso pagar a conta de um benefício que é de todos”, disse Marcos Lisboa, presidente do Insper, durante a apresentação dos resultados do estudo “Qual o Impacto do Desmatamento Zero no Brasil?”, patrocinado pela ONG Instituto Escolhas.

No cenário mais radical, no qual o desflorestamento pararia imediatamente, os salários de trabalhadores menos qualificados poderiam sofrer redução acumulada de 2,61% até 2030. Isso porque esse tipo de mão de obra é mais presente na agropecuária do que em outros setores.

No mesmo cenário, o PIB acumulado entre 2016 e 2030 do Acre, outro Estado de fronteira, sofreria uma queda de 4,53%. São Paulo, por exemplo, teria redução de 0,38%.

“É uma perda assimétrica para as regiões onde a expansão da fronteira agrícola é maior”, disse Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, engenheiro agrônomo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

Para Lisboa, o emprego que um produtor perdeu no interior do Pará surgirá em Belém, mas com um alto custo de transição, porque as comunidades são distantes. “Quando a atividade econômica vai embora, cria-se um cinturão de pobreza, contaminando o próprio ambiente.”

Nova discussão

Segundo a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-AC), que estava na plateia do evento, para cessar completamente o desmatamento são necessários incentivos e assistência técnica para pequenos produtores. “Precisamos de regras que sejam perenes, que não fiquem mudando ao sabor dos ventos das fragilidades políticas e eleitorais.”

Fernando Sampaio, diretor-executivo do projeto PCI (Produzir, Conservar e Incluir), do governo do Estado de Mato Grosso, que também compareceu ao debate, considera que o estudo precisa ser aprofundado pelos municípios interessados.

“Há cidades que enxergam a abertura de áreas para a agropecuária como a única oportunidade de desenvolvimento e ninguém oferece uma alternativa econômica que gere renda com a floresta de pé.”

Para Sérgio Leitão, diretor-executivo do Instituto Escolhas, o estudo fornece material que pode dar início a essa discussão.

“Ele foi feito para conversar com o produtor rural, com quem toma a decisão de fazer o desmatamento pela necessidade da sua atividade econômica”, declarou.

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