Reflexões sobre o aspecto cultural do movimento “O Sul é o meu país”

Por Edinaldo Enoque, de São Miguel do Oeste, para Desacato. info.

A identidade cultural é um tema que vem sendo muito debatido nos últimos anos nos meios acadêmicos das mais diversas áreas. Está relacionada em grande medida ao processo de globalização, que segundo alguns autores como Bauman e Hall, acelera o processo de fragmentação das culturas, dando espaço a uma suposta homogeneização verticalizadora oriunda dos centros decisórios, tanto economicamente como culturalmente, EUA e Europa. O aspecto da homogeneização cultural pelo qual passa o mundo a partir dos meios de comunicação de massa, estaria dessa forma, destruindo as culturas tradicionalmente estabelecidas.

Duas questões podem ser levantadas a partir da hipótese homogeneizante: a primeira é a aceitação desse processo no qual culminaria na ideia de “crise de identidade” no qual defendi em meu livro sobre a identidade regional, a segunda está atrelada aos processos de resistência que se aproximaria daquilo que a ciência social chama de comunitarização, ou seja, o processo de recrudescimento e defesa da suposta identidade tradicional.

O “Movimento o Sul é Meu País” pode ser analisado dentro da segunda perspectiva. A perspectiva de que o processo de globalização afeta sobremaneira uma suposta cultura tradicional tida gaúcha-ítalo-germânica. Vale lembrar que o movimento apresenta quatro grandes demandas para justificar sua separação do restante do Brasil: econômica, política, social e cultural. No qual aqui me detenho mesmo que sucintamente ao aspecto cultural.

Mas fugindo um pouco da voga globalizante da cultura a partir dos media e da economia mundial, é preciso jogar um pouco de luz nos aspectos da formação da própria identidade “do ser” brasileiro. Nesse sentido, é preciso compreender a formação do próprio estado nacional brasileiro e constatar que a formação de uma identidade brasílica não se configurou a partir dos grandes movimentos históricos, como a Independência ou a Proclamação da República, como aconteceu com a França, EUA, Alemanha ou Itália, por exemplo.

Minha hipótese é que a verticalização, o modo como esses dois eventos se constituíram, sem participação popular, impossibilitou a constituição de uma identidade sólida, o que acho bom, mas assunto para outro artigo, mas ao mesmo tempo, desencorajou maior engajamento do povo em questões políticas que repercutem até hoje. Acovardamento político.

Diversos movimentos separatistas aconteceram ao longo da História do Brasil (Balaiada, Sabinada, Malês), para citarmos alguns exemplos. Mas nenhum desses movimentos alegaram em sua demanda o aspecto cultural identitário para separarem-se, sua preocupação era econômica e política.

O Movimento “O Sul é Meu País” traz o aspecto cultural muito presente. Há um inconsciente coletivo dentro do movimento onde o elemento europeu italiano e alemão (culturalmente superiores, dentro de uma lógica darwinista social) faria da região separada melhor.

Esses movimentos separatistas de cunho cultural espalhados pelo mundo recebem desse modo a caracterização de comunitarista, apregoam a formação de uma comunidade étnica. Bauman chama-os de sonho de pureza, alguns de xenofóbicos, neonazistas, etc. O que temos que procurar compreender dentro do processo de fechamento identitário é a separação “nós” e “eles”. E o que nisso culminaria a médio e longo prazo.

O Movimento “O Sul é o Meu País” implícita, eu digo, não em suas cartilhas, que fique claro, mas notadamente, quando ao conversar com pessoas favoráveis a separação, ouvimos rotineiramente a ideia de que o Sul sustenta os ‘vadios’ do Nordeste. Se isso não é xenofobia, o que é?

Sobre a Foto de Capa:

Ela faz uma alusão ao filme: “O menino do pijama listrado”, que reporta ao movimento segregacionista perpetrado pela Alemanha no século XX.

Fonte da Foto de Capa: http://integracaocinema.blogspot.com.br/.

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