Reflexões num dia triste

Por Igor Fuser.

12 de julho de 2017. O golpe se consuma. Mais um dia que viverá para sempre na infâmia. Desmanche das leis trabalhistas + condenação do Lula, assim, em sequência, sem a menor sutileza, sem o menor cuidado em disfarçar que o segundo fato estava apenas à espera do primeiro, pra não atrapalhar…

Eis aqui mais uma chance para a classe trabalhadora e a esquerda em geral darem adeus, de uma vez por todas, a qualquer ilusão, ao menor devaneio que seja, quanto ao que se pode esperar da burguesia.

Nem a burguesia como um todo nem qualquer dos seus componentes ou frações não é e nem nunca foi aliada de nenhuma causa progressista neste país, em momento algum.

É uma burguesia colonial, herdeira direta dos senhores e dos traficantes de escravos, dos exterminadores dos povos originários, dos usurpadores das terras, dos estupradores de negras e de índias.

Uma classe dominante que já nasceu a serviço do capitalismo global e que, por isso mesmo, é incapaz de conceber sua própria existência longe do guarda-chuva protetor do imperialismo, ainda que em condição dependente, subalterna, servil.

Nós, brasileiros, tivemos a sorte de ter tido, entre nós, gigantes do pensamento social do século 20, como Caio Prado Jr., Rui Mauro Marini, Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes, que iluminaram o entendimento sobre a luta de classes no nosso país. Infelizmente, esses ensinamentos, desprezados pelos atores políticos aos quais eles poderiam ter sido úteis, não nos salvaram do nosso terrível destino.

No período de 13 anos encerrado com o golpe (os anos do 13), a burguesia brasileira fingiu que aceitava a “alternância no poder”, o convívio civilizado com políticas públicas (limitadíssimas) de “inclusão social”, enquanto enchia os bolsos (e as contas em paraísos fiscais) e esperava o momento adequado para dar o bote. Este momento veio e agora é o tempo das punhaladas, o tempo da infâmia, do cinismo, da traição, do escárnio e da perversidade.

Alguma surpresa?

Simplesmente, a burguesia é nossa inimiga de classe e está agindo como tal, utilizando como seu instrumento um punhado de políticos corruptos e outro punhado de magistrados fascistas, no embalo de uma mídia desonesta.

Que este pão amargo que estamos mastigando sirva ao menos como lição. Nunca mais conciliação de classe, nunca mais ilusões no neodesenvolvimentismo, essa grande fraude política e intelectual.

* Igor Fuser é doutor em Ciência Política pela USP e professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC)

Fonte: Revista Fórum.

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