Reflexão crítica sobre a experiência materna

“A criação artística e a criação de filhos se dá no meio de um turbilhão de emoções, tarefas, dores, frustrações, culpas, preocupações, incertezas e desejos”, diz Silvana Macêdo

Até os anos 1960, a maternidade era um tema inquestionável. O trabalho da pensadora francesa Elisabeth Badinter estabelece um divisor no modo de analisar tamanha complexidade. A artista Silvana Macêdo que abre hoje, às 19h, a exposição Teia de Afetos em O Sítio, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis faz uma reflexão crítica sobre a realidade da experiência materna.

Pesquisadora do maternalismo, expressão inglesa que investiga a representação do maternal na arte contemporânea e sua relação com os debates feministas, ela aproveita o Dia das Mães para apresentar uma poética que se contrapõe à imagem idealizada da mãe e os mitos patriarcais explorados nessa data quase que exclusivamente para fins comerciais. A intenção é neutralizar visões simplistas e abrir espaço para discussões sobre os problemas, os desafios e as alegrias envolvidas na maternidade.

 A mostra reúne a série fotográfica Devoção e a videoinstalação multicanal Sombra de Névoa.  O projeto expositivo, que tem a curadoria de Juliana Crispe, ainda contempla outras ações, uma conversa com a artista e a curadora na noite inaugural, um convite de obra participativa e uma roda de conversa que reunirá seis pensadoras. No dia 17 de maio, as doulas Gabriela Zanella e Virginia Vianna, as artistas Ana Sabiá, Bruna Mansani e a pesquisadora de dança Ida Mara Freire abordarão o tema Mitos e Verdades sobre a Experiência Materna Contemporânea. A mediação será da artista e da curadora.

O trabalho Devoção se constitui de fragmentos de sua experiência materna em diálogo com o cotidiano de outras duas amigas, também mães artistas. Ao dar visibilidade ao espaço íntimo da moradias, a série fotográfica revela atos diários devocionais que sugerem de modo subjacente uma negociação constante entre necessidades pessoais e profissionais, com o tempo e o cuidado dedicados aos filhos. Na teia invisível de afetos se constitui o elo estruturante da criação. “A criação artística e a criação de filho se dá no meio de um turbilhão de emoções, tarefas, dores, frustrações, culpas, preocupações, incertezas e desejos”, diz Silvana.

A delicada teia entre mãe e filho transcende até mesmo a vida material. A resiliência é o tema central da videoinstalação Sombra de Névoa, que, através de um sonho, revela o momento traumático da perda da mãe por uma criança, que penetra num espaço que separa a vida e a morte, tenta compreender o grande abismo estabelecido. A fluidez da memória e dos espaços subconscientes são refletidos nas imagens subaquáticas que compõem os vídeos. O título do trabalho se baseia em um verso do poema Eu, de Florbela Espanca: “(…) Sombra de névoa tênue e esvaecida,/E que o destino amargo,/triste e forte,/Impele brutalmente para a morte!/Alma de luto sempre incompreendida!…”.

Sobre a artista:

Silvana Macêdo – artista visual que pesquisa o diálogo entre arte, ciência, natureza e tecnologia. Mais recentemente desenvolve pesquisas na área de maternalismos, gênero e feminismos. Professora do Departamento de Artes Visuais e Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), atua nas áreas de pintura, vídeo, instalação e fotografia. Doutorado em Artes Visuais, UNN – Northumbria University, Newcastle Upon Tyne, UK (2003). Aprofundou suas pesquisas sobre tecnologia de telepresença em seu trabalho de pós-doutorado sob orientação da professora doutora Diana Domingues na Universidade de Caxias do Sul, em 2005.

Sobre a curadora:

Juliana Crispe – artista visual, professora, arte educadora. Professora do Centro de Artes (Ceart) da Universidade de Santa Catarina. Realiza pesquisas, exposições, oficinas, workshops, orientações artísticas, curadorias, projetos educativos, cursos de educação continuada. É doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-doutoranda no PPGAV da Udesc. Diretora do Espaço Cultural Armazém – Coletivo Elza.

Sobre as convidadas:

Ana Sabiá – artista visual, fotógrafa e pesquisadora. Doutoranda em artes visuais pela Udesc. Mestra em psicologia social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como fotógrafa vem participando de exposições e festivais de fotografia em São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Atualmente, desenvolve pesquisas abrangendo corpo e autorrepresentação como estratégia de problematização do feminino através da fotografia contemporânea.

https://www.facebook.com/anasabiafotografia

https://www.anasabia.com/

 Bruna Mansani – atua principalmente nos temas: situação, performativo, procedimento. Mãe da Cibele, professora de artes visuais pela rede municipal de ensino, mestre em artes visuais pelo Centro de Artes da Udesc. Atualmente, com a experiência de um ano e dez meses de maternidade, tem buscado abranger, incorporar, assimilar e se relacionar em real interesse com as outras atividades do mundo, ao mesmo tempo em que percebe a possibilidade da arte como expressão da intensidade da própria experiência.

https://www.facebook.com/bruna.mansani.5

Gabriela Zanella – doula, presidente da Associação de Doulas de Santa Catarina (Adosc), fisioterapeuta, pós-graduada em saúde coletiva e graduanda em enfermagem. https://www.facebook.com/gabidoula

http://gabidoula.blogspot.com.br/

Ida Mara Freire – graduação em pedagogia pela Universidade Metodista de Piracicaba (1984), especialização em dança cênica pela Udesc, mestrado em educação especial (Educação do Indivíduo Especial) pela Universidade Federal de São Carlos, doutorado em psicologia (Psicologia Experimental) pela Universidade de São Paulo (1995), pós-doutorado em tópicos específicos da educação (Disability Arts) pela University of Nottingham (2002). Pós-doutorado na área de dança na Universitiy of Cape Town (2011-2012). Professora aposentada da UFSC. Tem experiência na área de educação e dança. Pesquisa sobre os temas: alteridade, arte, cegueira, corpo, dança, África do Sul e teologia contemporânea. Autora do site Danças Invisíveis e Outras Corpografias. www.idamarafreire.com.br

https://www.facebook.com/idamara.freire

Virginia Vianna – mãe de João, Augusto e Maria Luiza. Doula, Educadora perinatal, militante pela humanização do parto e nascimento e dos direitos sexuais e reprodutivos. Psicóloga com experiência em estudos de corpo e gênero, saúde mental e psicologia perinatal. Coordenadora de rodas de acolhimento e informação sobre temas relacionados à sexualidade, maternidade e puerpério. Co-fundadora e membra da diretoria da Adosc.

Serviço:

O quê: Conversa com Artista e Curadora – Silvana Macêdo e Juliana Crispe (curadora)

Quando: 10.5.2018, 20h

Onde: O Sítio, rua Francisca Luísa Vieira, 53, Lagoa da Conceição, Florianópolis, tel.: (48) 3065-5792

Quanto: Gratuito

Serviço:

O quê: Exposição Teia de Afetos, de Silvana Macêdo

Quando: 10.5.2018, 19h (abertura). Visitação: até 26.5.2018, quartas, quintas e sextas 10h às 21h; sábados, 14h às 20h

Onde: O Sítio, rua Francisca Luísa Vieira, 53, Lagoa da Conceição, Florianópolis, tel.: (48) 3065-5792

Quanto: Gratuito

Serviço:

O quê: Roda de Conversa Mitos e Verdades sobre a Experiência Materna Contemporânea

Quando: 17.5.2018, 19h30 às 21h30

Onde: O Sítio, rua Francisca Luísa Viêira, 53, Lagoa da Conceição, Florianópolis

Quanto: Gratuito

Organização: O Sítio

Apoio: Programa de Pós-graduação de Artes Visuais (PPGAV), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)

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