Reajuste de tarifas intermunicipais não traz benefícios para usuários

Texto e foto: Ana Carolina Fernandes e Bruno da Silva.

As tarifas dos ônibus intermunicipais foram reajustadas na meia noite do dia 30 de agosto. A autorização do acréscimo de 6,4% foi concedida pelo Departamento de Transporte e Terminais (DETER). Os passageiros das empresas Estrela, Biguaçu, Imperatriz, Jotur, Santa Terezinha e Paulotur tiveram que desembolsar de 0,20 a 0,40 centavos a mais desde então. A licitação vigente, que concede a exploração do serviço a estas empresas há mais de 20 anos, não prevê nenhum tipo de contra partida das companhias para seus funcionários, clientes e melhoramento de frota. As empresas pediram o aumento da tarifa devido a inflação de 7,42% acumulada no período.

De acordo com o agente fiscal de transportes do DETER, Luís Carlos Faísca, as empresas solicitaram aumento de 10% na tarifa, mas após a análise de documentos enviados pelas companhias, o departamento decidiu autorizar o reajuste de 6,4% para cada patamar. “Do que as empresas pediram, nós demos quase a metade. Tudo o que eles não provarem e que não acharmos fundamento, não liberamos no valor do reajuste. Geralmente temos dado menos do que as empresas pedem”, explica.

Em nota, o Movimento Passe Livre questiona porque as empresas não retiraram o valor necessário para cobrir suas despesas de seus lucros. “Todo aumento de tarifa é ilegítimo e faz crescer o número de pessoas que deixam de acessar a cidade. Quanto mais longe a pessoa mora do centro, mais prejudicada ela fica. Aumentar a tarifa é um ato de violência inaceitável contra essas pessoas”, afirmam.

Os preços que agora variam de R$ 3,20 a R$ 6,20 reacende os questionamentos acerca da qualidade dos serviços prestados pelas empresas.

“Nesse momento está previsto que o transporte intermunicipal tenha ar condicionado e uma maior frequência de linhas. Mas no contrato que originou essas concessões isso não era contemplado. Não podemos onerar o concessionário do que não está previsto no contrato, a não ser que seja feito um termo aditivo. Mas como esses contratos vencem em 2016/17, só a nova lei da licitação que poderá mudar a situação”, explicou o agente fiscal do DETER.


Empresa Estrela

Tatiana Armsbrust, 41 anos, assustou-se com o aumento repentino da tarifa: “Foi um aumento muito grande e de repente. Até fiz uma postagem no Facebook para falar sobre isso. Eu acho bem abusivo”. Tatiana, que trabalha com marketing, não utiliza o ônibus diariamente, mas reclama dos horários. “Eles são muito juntos e isso só piora nos finais de semana”.

Richard Machado mora no bairro Abraão, mas utiliza o transporte intermunicipal para ir até a Faculdade de Publicidade e Propaganda em Barreiros. “Soube do aumento da passagem quando estava na fila pra pegar o ônibus. Eu pagava R$ 3,40 e foi para R$ 3,60. Isso pesa no bolso da gente no final do mês. Vou à casa dos meus amigos e para a faculdade de ônibus. Com o aumento se eu for na casa deles, não vou pra aula. Estou deixando de pegar o ônibus que me deixaria na frente da Estácio de Sá. Pego outro, mais barato que vai até um pedaço e ando um pouco a pé até a faculdade”.

Juliana Prim, 21, estudante de Arquitetura, sai de Forquilinhas e vai para o centro de Florianópolis todos os dias. “Me incomoda ficar cada vez mais pobre e o ônibus não melhorar em nada. Ele está sempre estralando, sempre detonado e, às vezes, quebra. Não posso deixar de fazer nada por conta do aumento, sou obrigada a trabalhar e ir para aula”, reclama.


Imperatriz

Morando em Santo Amaro da Imperatriz os habitantes estão acostumados com o preço elevado da passagem, mas Elisa Rosa, estudante do curso de Edificações do Instituto Federal de Santa Catarina, se sente atormentada com o valor do serviço.

“Me incomoda que a passagem já passou de R$ 6.. E cara, isso é muita coisa! Ainda mais que tenho que pegar ônibus todos os dias. E não por causa do aumento, mas por causa do preço absurdo que é a passagem, eu tento pegar carona sempre.

E quando isso acontece chego 1h mais cedo no colégio: 6h30 da manhã, horário que ainda nem sol tem”

Renato Muller tem condições de ir de moto para o trabalho e é o que vem fazendo depois que soube do aumento das tarifas. “O que mais me incomodou foi não ter visto nada sobre o aumento. Talvez por falta de busca minha, mas realmente não sabia sobre o aumento”. Mesmo tendo uma alternativa para não andar de ônibus, Muller se queixa da qualidade do transporte. “Os ônibus em geral são bem precários, o sistema de cartão implementado é falho. Existem sistemas prontos que fazem o mesmo serviço de forma melhor, não sei se foi redução de custo ou coisa do gênero. Os horários não são melhorados para atender à população e os ônibus em horários de pico saem lotados”.


Santa Terezinha

A faxineira Valdira Batista, 53, avaliou como um “absurdo” o aumento de R$3,40 para R$3,60 na sua passagem. Ela mora no Estreito e não utiliza o ônibus todos os dias, mas sempre “pensa se não vale a pena vir a pé”. Valdira também reclama dos horários. “Só passa de hora em hora. Se a gente perde um, tem que ficar esperando muito tempo no ponto e acaba se atrasando para os compromissos”.


Biguaçu

O itinerário do cinegrafista Marne Medeiros, 43, teve a tarifa aumentada de R$3,20 para R$3,40. Medeiros, que é gaúcho e morou alguns anos nos Estados Unidos, acha que o transporte público da região de Florianópolis não é satisfatório. “A tarifa aumenta, mas o serviço não melhora. Está péssimo. Assim como tudo nessa cidade, o ônibus está muito caro”.

Renata Maçaneiro, 23, que faz o curso de Pedagogia na UFSC soube do aumento através do comentário do amigo em rede social. “Ao pegar o ônibus já fui preparada com 0,25 centavos a mais. O valor é abusivo. Nos horários de pico, os ônibus ultrapassam a quantidade de pessoas permitida”, afirma.


Jotur

Ana Paula Hoog, estudante de Redes de Telecomunicações no Instituto Federal de Santa Catariana, que mora “desde sempre” na Palhoça teve um aumento de 0,80 centavos por dia na despesa de transporte. “Fiquei sabendo sobre o aumento no susto, quando fui pegar o ônibus e o dinheiro não foi o suficiente. O aumento só serve para compensar os gastos da empresa e nunca uma melhoria no serviço. Ainda andamos em pé no ônibus e eles estão em péssimas condições. Sempre há um ônibus quebrado. Dependo dos ônibus e infelizmente temos que engolir o que estão nos impondo”, afirma.

André Felipe Machado e Roberto da Silva utilizam há dois anos o transporte da empresa e perceberam, muito antes do aumento das tarifas, que a incomodação dos passageiros não era restrita ao valor das passagens. Foi então que criaram a página “As aventuras de Jotur” que traz relatos dos usuários sobre as dificuldades enfrentadas. Segundo eles, o aumento do valor da passagem gerou indignação. “A autorização do aumento da tarifa é uma grande rasteira na população e um retrocesso a tudo que os usuários postam na página, como se de nada adiantasse já que o serviço é péssimo e ainda é autorizado o aumento. O valor da passagem não condiz com o serviço prestado. Já se pagava caro antes, agora se paga mais caro ainda pelo serviço que a cada dia piora”, afirmam.


Paulotur

A estudante de Design, Sônia Klann, 20, mora em Palhoça, aproximadamente 27 km do Centro de Florianópolis, e teve sua tarifa aumentada em R$0,35. “Me incomoda porque a passagem aumenta, mas a qualidade e disponibilidade de horário continua ruim. Acho que precisa melhorar tudo. Disponibilizar mais linhas. Tirar aqueles ônibus que parecem que vão rachar ao meio de tanto barulho”, reclamou.


Ana Carolina Fernandes [email protected]

Bruno da Silva [email protected]

Fonte: Zero Hora.

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