Rappers LGBT resistem à onda conservadora com cultura e arte

Através da poesia e da batalha de rimas, MCs enfrentam o preconceito e criam redes de apoio

Por Vanessa Gonzaga

Letras incorporam denúncia da opressão sofrida no cotidiano e a necessidade da luta contra a LGBTfobia / Agência Brasil

Conquistando espaços nos slams, recitais, eventos e nas redes sociais, a temática da violência contra a comunidade LGBT e a sua resistência têm ganhado cada vez mais repercussão. A discussão sobre identidade de gênero e sexualidade está nas letras de músicas, performances, poemas e rimas que alcançam destaque não apenas pela temática, mas também pela qualidade do material produzido.

Assim é “Crucifica”, single do DJ Soffio, que vem sendo reconhecido como o primeiro MC gay do Recife (PE) a aproximar a temática LGBT do Hip Hop, se propondo a quebrar com a constante combinação de machismo e homofobia nas letras do ritmo. No videoclipe da música, ele usa um pijama listrado com um triângulo rosa colado no peito, uma referência a identificação dos gays em campos de concentração nazistas durante a segunda guerra mundial, como forma de denunciar que o tratamento diferenciado continua até hoje.

“A história do rap é uma história de libertação. Eu escrevi ‘Crucifica’ quando estava muito chateado com essas situações e por saber que o rap também é um ambiente machista e homofóbico eu pensei em falar sobre o tipo de repressão que eu sofro dentro do canal que eles usam”, explica Soffio, que relembra que desde o começo teve o apoio de outros rappers da cena, mas que percebe a homofobia especialmente no ambiente mercadológico.

Crucifica, single de MC Soffio, está disponível nas redes sociais. (Foto: Divulgação)

Bixarte atua desde os nove anos de idade com teatro. Para ela, o rap tem um papel político: “Nós vivemos numa conjuntura em que nossos corpos são alvos o tempo todo, seja dos eleitores do Bolsonaro que abominam a feminilidade, seja da polícia que nos mira todo dia. Nosso grande desafio é nos manter vivos e ao mesmo tempo conscientizar”, afirma.

Bixarte atua desde os nove anos e tem um EP lançado. (Foto: Gabriel Lucena)

Seu primeiro EP, “Revolução”, traz ritmos como o rap, jazz e blues, ritmos norte-americanos originalmente negros. Agora, Bixarte está na preparação do EP Faces e ressalta que suas inspirações são as mulheres rappers. “Minhas referências andam comigo. São as MC’s que estão comigo nas batalhas, e também Mona brutal, Lucas Bombite, Bione, são pessoas que me inspiram e que estão no corre como eu”.

Soffio ressalta que o rap nessa onda conservadora é uma ferramenta necessária: “Quando você vê pessoas colocando arte na rua, que é o que eu também estou me propondo a fazer, é pra gente dialogar que existem outras realidades além daquelas onde o conservadorismo quer nos ajustar”, finaliza.

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