Querida Vizinha

Foto: Pexels

Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info. 

Querida vizinha,

Acredito que pelo aproximar dos festejos natalinos eu esteja mais sensível. As luzes de natal mexem um pouco comigo e deve ser por isso que me meto a colocar cor e brilho em tudo. Sei lá. É como se meu corpo fizesse parte das vinhetas televisivas na qual um monte de gente se reúne pra cantar uma música batida e rir enquanto vestidas de branco. Bonito, não? E praticar o perdão. O perdão é tão difundido por aí que precisei praticá-lo. Fui tomado pelo receio de ser condenado no juízo final. Não quero que uma caneta me mande para uma morada eterna de sofrimento só por não ter te perdoado por ser grosseira, incoerente e fanática quando defendia seu afeto pelo se candidato. Pratique o perdão! Pratique o perdão! É natal! Pratique o perdão! Abrace e perdoe seu semelhante. Veja só! Você foi escolhida! Tá tudo bem! Vamos nos desfazer do constrangimento de nos encontrar na fila do supermercado e nos determos ao “oi”. Vamos partilhar nossa convivência cotidiana. Seguirei tendo empatia pelos seus excessos e desacordos. Eita natal abençoado, gente! Podemos falar da vida como outrora. Por que não? O que passou, passou! Se foi como meu salário em meados do dia 10 de cada santo mês. Daqui pra frente trocaremos piadas nos breves momentos em que a saída do seu carro da garagem cruza com a saída do meu. É uma boa, não? Esquece que na sua defesa de um fascista, você se meteu a agredir virtualmente os meus. Esquece que você se dispôs ao lugar de lutar com unhas e dentes pelo homem que tem posições de extermínio, inclusive, em relação ao seu existir. Passou! Celebremos o final de ano, o que acha? Quero que o Papai Noel entre primeiro na sua casa. Até te ajudo na construção de uma chaminé. Quero que o Papai Noel entre primeiro na sua casa. Olha que honra te dou. De todos os lugares do mundo, desejo que o bom velhinho saiu de sua casa gelada, engate a primeira marcha no seu trenó e o primeiro endereço escolhido no gps seja o seu, vizinha maravilhosa. E quando ele chegar, te traga presentes maravilhosos. Quem sabe ele não leva um prato pra deixar sua ceia ainda mais farta, não? Por exemplo, uma torta de balas. Não de revólver, mulher. Calma! Balas de goma ou a que você preferir. E quando ele abrir seu saco de presentes, te deixe os melhores. Um bom plano de saúde. Uma segurança em relação ao seu futuro profissional e a tão sonhada aposentadoria no interior. Te desejo um 2019 contrário ao que seu presidente prometeu. Você disse e é verdade. Ele tá mentindo. Magina prometer o que ele prometeu, né. Cabeça quente é foda e ele vive assim. Sem mais cabeças quentes. Agora nossa vida será envolta de paz e conquistas. Saúde, felicidade, glórias… quero ver, viu? Aplaudir! Porque passou! Juro! Passou! Foi momento. A gente tem que ser o mais breve possível na tragédia. E aproveitar a alegria. A minha começa aqui. Neste ciclo de fim de ano. Natal, ano novo… tempos novos de alegria. Tempos novos de mudança. 4 anos. 4 anos!

 

Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor, autor do livro “O Dia e o Dia Que o Mundo Acabou”, disponível em Clube de Autores.

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