Quem lucra com as bombas dos EUA na Síria?

Por Mário Augusto Jakobskind.

De repente, não mais do que de repente, a mídia comercial conservadora mudou da água para o vinho em relação ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Motivo foi o bombardeio dos mísseis Tomahawk, disparados do mar Mediterrâneo contra uma base militar síria. E tudo teve por base uma suposta utilização de armas químicas pelos militares sírios, tornando-se o fato uma verdade inquestionável, ou seja, de que os sírios utilizaram armas químicas – gás sarin – provocando dezenas de mortes, entre elas crianças. O episódio de alguma forma lembra a primeira invasão norte-americana no Iraque quando o então Secretário de Defesa, Collin Powell foi ao Congresso revelar uma mentira, comprovada posteriormente, de que o Iraque de Saddam Hussein não tinha as tais armas de destruição em massa. A diferença é que hoje o mundo pôde assistir, com justa indignação, as imagens das vítimas. E que o Congresso estadunidense na época foi consultado para promover a invasão, o que não aconteceu agora.

De antemão, sem nenhum tipo de questionamento por parte dos Estados Unidos e de outros governos, Bashar Al Assada foi considerado o único culpado pela tragédia. A negativa da responsabilidade por parte do governo sírio não foi praticamente considerada, prevalecendo a única acusação, que se tornou a única verdade. Nem foi cobrada uma investigação sobre quem está correto.

Trump deixou de lado o seu slogan “América primeiro”, para ordenar o bombardeio, cujo custo não foi revelado pela mídia comercial conservadora, que visivelmente aproveitou o embalo para dar a guinada em apoio ao presidente. Há quem garanta que ele apenas cedeu aos interesses do complexo industrial militar, que exigiu a ação contra o governo sírio.

Obrigado ou não, o bombardeio foi realizado com muito poucos questionamentos, um deles por parte da Rússia, que já se prontificou a oferecer mais garantias militares aos sírios. A ação norte-americana, segundo opinam observadores independentes foi inócua em termos de resolução do conflito iniciado em 2011, não passando de mais uma jogada de puro marketing, que governos impopulares realizam para tentar reverter desgastes. Foi o que fez Trump, obrigado ou não a dar a guinada de 180 graus. Quem pode afirmar com absoluta razão que os sírios utilizaram as armas químicas, se as mesmas já tinham sido banidas há algum tempo, inclusive com supervisão internacional? A primeira pergunta que deve ser feita: a quem interessava o uso das armas químicas e a efetivação da tragédia? O menos interessado no caso é o próprio governo de Bashar Al Assad que com a ajuda da Rússia tinha o controle da maior parte do território com o enfraquecimento dos terroristas, que, por sinal, a mídia comercial conservadora nos últimos dias não mais o designavam como terroristas, mas como rebeles. Ou seja, a al Qaeda e outras organizações do gênero passaram a ser consideradas “rebeldes”.

E assim caminha o noticiário internacional, cuja repercussão na carta dos leitores dos jornalões só acusa o governo sírio pela barbaridade acontecida. Inventadas ou não, as cartas são um dos sintomas do bombardeio midiático no sentido de queimar de vez o “ditador” Bashar Al Assad, mas colocando agora Donald Trump nas alturas.

É explicável, na medida em que ele se enquadrou ou foi enquadrado para seguir o que interessa a um segmento da indústria estadunidense, o complexo industrial militar, a imagem midiática de Trump passa a entrar em novo patamar de aprovação. No plano internacional, países europeus, entre os quais a Inglaterra, Alemanha e França já o aplaudiram tendo por base a única versão aceita, qual seja a de que a Síria usou armas químicas contra a população civil. Como comprovação de que a hipocrisia é um dos componentes da atualidade em termos de pronunciamento, vale assinalar o apoio efusivo do primeiro ministro de Israel, o belicista Benjamin Netanyahu, que provavelmente vai aproveitar o embalo no sentido de Trump apoiar uma eventual aventura bélica contra o Irã, algo que o governante extremista nunca deixou de lado.

Por estas e outras, depois do bombardeio com os mísseis lançados do Mar Mediterrâneo, a situação na região tornou-se ainda mais grave, com possibilidade até mesmo de aumento da tensão nos mais diversos quadrantes do planeta. Uma pergunta que não quer calar: quem lucra com isso? A resposta é óbvia: o complexo industrial militar que se sente contemplado com a guinada de Trump.

Desestabilização na Venezuela

Luis Almagro, o secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) que está a serviço de Washington e faz o possível e o impossível para derrubar o Presidente constitucional da Venezuela se reuniu em Brasília com o Ministro do governo golpista brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira. E mais uma vez procuraram desestabilizar o governo venezuelano. Na nota que divulgaram foi dito que a “crise” por lá se resolveria com a convocação imediata de eleições.

Que moral tem Almagro, já desmoralizado por ter feito com que a OEA voltasse a ser uma entidade gênero Ministério das colônias, por atender as pressões do Departamento de Estado norte-americano? E que moral tem Nunes Ferreira prestando serviço a um governo ilegítimo-golpista e que ao assumir depois de um golpe parlamentar não aceita convocar os eleitores imediatamente para uma eleição presidencial objetivando decidir o futuro ocupante do Palácio do Planalto? E quando se efetivou o golpe no Brasil, a mesma OEA simplesmente se calou diante do que aconteceu, na prática chancelando o acontecido.

Agora, as duas figuras mencionadas se somam ao coro das forças retrógradas em ação na América Latina para derrubar o governo bolivariano, com o respaldo integral da mídia comercial, que não se cansa em diariamente apresentar matérias encomendadas contra o Presidente Nicolas Maduro. A meta é enganar a opinião pública com o objetivo de fazer com que incautos caiam nas mentiras e meias verdades esparramadas diariamente nos jornalões e telejornalões.

Vale recordar que nestes dias completam 15 anos de uma tentativa de golpe contra o Presidente Hugo Chávez que vale lembrar voltou nos braços do povo. Um empresário golpista, Pedro Carmona, que pode ser encontrado hoje no lixo da história assumiu o governo por poucas horas, tendo sido reconhecido por Washington, então sob a Presidência de uma figura de triste memória chamada George W. Bush. Desde então o governo venezuelano, seja nos tempos de Hugo Chávez e do atual Presidente Nicolas Maduro, tem sofrido violentas pressões, tanto seguidamente por parte dos Estados Unidos, como na atualidade por governos como o do golpista Michel Temer ou do argentino Maurício Macri, passando por Horacio Cartes, do Paraguai.

Nos últimos dias as pressões se intensificaram, inclusive com matérias com o claro objetivo de queimar a Revolução Bolivariana. Atualmente o governo dos EUA é ocupado por Donald Trump, que com o bombardeio realizado contra a Síria está assumindo as diretrizes de Hillary Clinton, que também nunca deu sossego ao governo venezuelano em seus pronunciamentos como senadora ou quando ocupava a Secretaria de Estado. Trocando em miúdos, Wall Street que apoiou Hillary Clinton, está agora fazendo as pazes com Trump, se é que os anteriores pronunciamentos do magnata que hoje ocupa a Casa Branca foram em algum momento para valer.

No caso da América Latina é relevante neutralizar de todas as formas possíveis as pressões externas e internas que tentam – como tentaram em 2002 – dar um golpe e colocar no governo forças defensoras dos interesses estadunidenses, inclusive sequiosas pelo petróleo que a Venezuela é grande produtora.

Em outras partes do planeta, como na Síria, o governo Trump na prática tenta fazer o mesmo que foi feito contra a Líbia pela gestão anterior de Barak Obama, que tinha durante algum tempo como Secretária de Estado nada mais nada menos que Hillary Clinton. Ela nunca escondeu sua vibração quando ocorreu o assassinato do líder Muammar Khadafi, transformando-se o pais também rico em petróleo numa região sob o controle de terroristas que ganharam espaços com os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que alguns jornalões e telejornalões seguem denominando como aliança ocidental. É claro que tais fatos apresentados resumidamente nesta reflexão não são divulgados pelos jornalões e telejornalões, que se intitulam defensores da liberdade de imprensa, escondendo também a verdadeira defesa, ou seja, da liberdade de empresa.

Fonte: Blog Altamiro Borges.

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