Quem foram as mulheres afro-americanas que participaram da conquista do espaço nos EUA

Por Juliana Domingos de Lima.

O filme “Estrelas Além do Tempo” (2016), de Theodore Melfi, recebeu três indicações ao Oscar deste ano: a de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz Coadjuvante pela performance da atriz Octavia Spencer.

Entre tantas produções sobre a conquista espacial americana, a adaptação do livro “Hidden Figures”, de Margot Lee Shetterly, conta uma história um pouco diferente: trata da contribuição fundamental, nos bastidores, dos trabalhadores que, por meio de cálculos precisos (e feitos a mão) tiraram os foguetes do chão. Mais especificamente, traz a história de três mulheres afro-americanas, parte de um grupo de algumas dezenas de negras que trabalhavam para a Nasa, a agência espacial norte-americana, nos anos 1960.

Essas mulheres trabalhavam em um prédio separado na ala oeste do centro de pesquisa de Langley, o mais antigo da Nasa, localizada em Hampton, no estado da Virginia, sudeste dos EUA. Na época, ainda estavam em vigor no Estados do sul as leis de segregação racial que separavam os espaços de negros e brancos.

No filme, isso é ilustrado pelas cenas onde a personagem Katherine Johnson cruza centenas de metros entre um prédio e outro para usar o banheiro ou é obrigada a beber café de uma cafeteira separada da que seus colegas brancos usam. A luta pelos direitos civis dos negros em curso na década de 1960, assim como a Guerra Fria, é o pano de fundo político da narrativa.

Quem são as ‘figuras escondidas’ da conquista espacial

Katherine Johnson

Interpretada no filme pela atriz Taraji Henson, Johnson nasceu em 1918 e ainda criança, pulou várias séries escolares por conta de sua capacidade excepcional com os números, de acordo com sua biografia no site da Nasa. Ela concluiu seus estudos na Universidade de West Virginia, uma instituição de ensino para negros, em 1937.

Em 1953, a matemática, física e cientista espacial começou a trabalhar no laboratório de Langley, na ala oeste de computação, uma seção onde só trabalhavam  negros. A partir de 1957, com o lançamento do satélite soviético Sputnik, o acirramento da corrida espacial entre URSS e EUA mudou a trajetória profissional de Johnson. Ela faria os cálculos para as trajetórias de lançamento no “Space Task Group”, a divisão da agência espacial que estava tentando levar a primeira pessoa à Lua no início dos anos 1960.

A contribuição mais lembrada da cientista, que é também um dos eixos principais do enredo de “Estrelas Além do Tempo”, está ligada à missão espacial Friendship 7, que colocou o primeiro astronauta americano – John Glenn – na órbita da Terra. Os primeiros computadores IBM controlavam a trajetória da cápsula por meio de equações matemáticas, mas Glenn só sairia do solo sob a condição de que Katherine Johnson conferisse pessoalmente os cálculos da trajetória.

Johnson o fez e a missão não só foi bem sucedida como marcou um ponto de virada na competição com os russos, que vinham na frente até então.

Ela trabalhou para a Nasa até meados dos anos 1980. Em 2015, aos 97 anos, foi condecorada pelo ex-presidente Barack Obama com a Medalha Presidencial da Liberdade.

FOTO: REPRODUÇÃO/NASA

KATHERINE JOHNSON FOI INTERPRETADA POR TARAJI HENSON

Mary Jackson

Vivida no cinema pela atriz e cantora Janelle Monáe, Jackson nasceu em 1921 em Hampton, na Virginia. Formou-se em 1942 no Instituto Hampton com um diploma duplo em Matemática e Ciências Físicas. Em 1951, também se tornou parte do time da ala oeste de computação de Langley, coordenado pela supervisora Dorothy Vaughan.

Depois de dois anos, foi chamada para trabalhar diretamente com o engenheiro Kazimierz Czarnecki, que conduzia experimentos nas cápsulas que estavam sendo desenvolvidas para ir para o espaço. Para ser promovida de matemática a engenheira, Jackson precisava frequentar aulas da Universidade da Virginia, ainda segregada entre brancos e negros. Jackson enfrentou uma batalha legal com a cidade de Hampton pelo direito de cursar as aulas, e conseguiu a permissão. Em 1958, tornou-se a primeira engenheira negra da Nasa.

Em 1979, Jackson deixou a posição de engenheira para gerenciar o programa federal direcionado às mulheres em Langley, onde trabalhou pela contratação e promoção das gerações seguintes de matemáticas, engenheiras e cientistas mulheres. Mary Jackson morreu em 2005.

FOTO: REPRODUÇÃO/NASA

MARY JACKSON FOI INTERPRETADA POR JANELLE MONÁE

Dorothy Vaughan

FOTO: REPRODUÇÃO /NASA

DOROTHY VAUGHAN É INTERPRETADA POR OCTAVIA SPENCER

A atriz Octavia Spencer foi indicada ao Oscar por sua performance na pele de Vaughan. Nascida em 1910 e formada em matemática na Universidade Wilberforce em 1929, a cientista chegou ao laboratório de aeronáutica de Langley ainda durante a 2ª Guerra Mundial, em 1943.

A escritora Margot Lee Shetterly, autora das biografias das cientistas no site da Nasa, lembra que a força de trabalho e os cargos de liderança não eram nada diversos na primeira metade do século 20. Mas Vaughan se tornou supervisora da ala oeste de computação, o que fez dela a primeira supervisora negra de Langley e uma das poucas mulheres a ocuparem a posição na época. Depois de dez anos no cargo, ela se tornou programadora e passou a integrar um grupo misto (em gênero e raça) pioneiro de computação eletrônica. Vaughan trabalhou na Nasa até 1971 e seu apoio foi fundamental para as carreiras de Johnson e Jackson, assim como de outras mulheres que integraram a ala oeste de Langley.

Fonte: Nexo. 

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