Quando Washington curtia Mussolini

Benito Mussolini, Italian dictator, speaks at the dedication ceremonies of Sabandia, central Italy, on Sept. 24, 1934. (AP Photo)

Por Antonio Martins.

 Às vezes, parece incongruente. Como os Estados Unidos, que se orgulham de quase 250 anos de história democrática, passaram a registrar cada ligação telefônica de seus cidadãos e de estrangeiros; cada operação com cartão de crédito; cada livro emprestado numa biblioteca — e a cruzar estes dados para controle social? Por que voltaram a apoiar golpes de Estado na América Latina e mantêm relações cordialíssimas com ditaduras brutais como a da Arábia Saudita?

Entrevistado ha dias a este respeito, por uma webTV independente de Munique (Alemanha) — a acTVism –, o linguista e filósofo Noam Chomsky respondeu de forma surpreendente. Ele observou, sempre amparado em farta quantidade de dados, que o apoio a práticas e regimes ultra-autoritários está inscrito na história norte-americana. Não exclui sequer personagens como o ditador italiano Benito Mussolini.

O Duce era admirado pelo presidente Franklin Roosevelt, contou Chomsky. Já em 1925, o fascismo italiano havia mostrado sua face real — com assassinatos, perseguição implacável aos sindicatos e à esquerda, supressão das liberdades. Mas em 1933, Roosevelt escreveu, numa carta sobre Mussolini a um amigo: “não me incomodo de confidenciar que me mantenho em contato próximo com o admirável cavalheiro italiano”. Em outra correspondência, à mesma época, afirmou: “Estou muito interessado e profundamente impressioando por aquilo que ele conseguiu e por seu propósito honesto de recuperar a Itália e evitar um grande problema europeu”.

Roosevelt acabaria decepcionando-se com o Duce, devido à proximidade deste com Hitler. Porém, nota Chomsky, o mesmo não ocorreru com a elite empresarial e política dos EUA. “O sistema de poder dos EUA apoiava fortemente Mussolini, o que também ocorria com parte da burocracia sindical. A revista de negócios mais importante Fortune, publicou, possivelmente em 1932 uma edição com o título: ‘Os wops estão se deswopizando’. ‘Wop‘ era um termo pejorativo usado para referir-se aos italianos, e a revista procurava dizer que, sob Mussolini, eles passavam a fazer parte do mundo civilizado”.

Embora esta atitude não envolvesse Roosevelt, o flerte de establishment norte-americano com o fascismo estendeu-se inclusive… a Hitler”. No momento em que ele chegou ao poder, conta Chomsky, “o Departamento de Estado descreveu-o como um moderado capaz de conter as forças, as perigosas forças da esquerda — representadas pelos bolcheviques e o movimento dos trabalhadores — e da direita, em especial os nazistas”… Segundo o Departamento de Estado, termina o filósofo, “Hitler era uma espécie de centro, e portanto os EUA deveriam apoiá-lo”.

Fonte: Outras Palavras

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