Quando o absurdo chega ao fim?

Por Raúl Longo

O Brasil tem mais de oito mil quilômetros de costa atlântica. Nem toda ela ideal para atividades portuárias, evidente, mas há diversas infelizmente já degradadas, carentes de alguma atividade profissional para sua população e de empreendimentos que não violentem ninguém.

Foi exatamente isso que se tentou-se demonstrar aos diretores do Grupo EBX de Mister Eike Batista, quando pretendeu instalar seu estaleiro de plataformas marítimas e cargueiros petrolíferos, na baía da Grande Florianópolis. O próprio Ministério Público cobrou-lhes explicações por preterirem regiões do litoral de Santa Catarina, onde já se desenvolvem estas mesmas atividades, como Itajaí ou Imbituba, onde a população amarga dificuldades pela inexistência de meios de aproveitamento da mão de obra excedente.

Nunca explicaram coisa alguma e Mister Eike, como menino babão, se limitou em ameaças de que seria onde bem entendesse ou levaria seu estaleiro para o Rio de Janeiro.

Meu orgulho carioca — pois tenho de todos os estados e cidades onde vivi e são maiores dos que o do Eike por seu dinheiro – não se conforma em continuar recebendo imagens como as do link dessa mensagem. Será que terei de convocar aqueles amigos paulistas que nos anos 80 lutaram em defesa dos trindadeiros contra o hoje extinto Banco Auxiliar?

Trindade é composta de um conjunto de belas praias no Sul do Rio de Janeiro, na divisa com São Paulo, e evitamos que aquele grupo empresarial expulsasse seus tradicionais moradores para construir ali mais um condomínio fechado como o de Laranjeiras, ao lado. Foi uma grande mobilização ao longo de vários anos de participação majoritariamente de paulistanos, mas também com adesão de cariocas, mineiros, jovens, estudantes e ambientalistas de outros estados do Brasil.

Quem é que está se mobilizando para defender o povo de Campos dos Goytacazes, região de uma das mais ricas culturas regionais do Brasil?

Palco e cenário de importante obra da literatura regional, é ali que se desenvolve a trama de “O Coronel e o Lobisomem”, de José Cândido de Carvalho. Campos dos Goytacazes ainda é uma das poucas resistências de nossa tão vilipendiada cultura litorânea, caiçara, capixaba.

Tão inconsequentes quanto aqueles que imaginam lutar pela preservação tentando impedir realizações vitais para o desenvolvimento e manutenção econômica da população, sem perceber que na ausência do desenvolvimento a degradação se acelera como em diversos infelizes exemplos pelo mundo, notadamente em África; são aqueles que não intercedem contra os caprichos empresarias de irresponsáveis que não conseguem superar a mesquinhez de seus egos insuflados por ridículos anseios de acúmulo de capital.

E é neste momento e ocasião que o estado tem a obrigação e o dever de interceder, evitando que o necessário desenvolvimento econômico do país se transforme em farsa e promova a destruição das identidades e sobrevivência de um povo. De nada interessa o desenvolvimento que não promova civilização ou a destrua, como vemos ser a proposta para os personagens reais aí documentados.

Por mais atento, não se pode exigir que num país com o tamanho e com as premências do nosso, o Estado detecte e avalie todas as particularidades ocorridas no território nacional. E foi exatamente o que ocorreu aqui, em Santa Catarina, por ocasião do ensejo do Grupo EBX em instalar seu megaestaleiro, que se anunciava como o maior do continente, afetando milhares de pescadores, maricultores e profissionais das áreas de Turismo e Gastronomia.

Ingenuidade esperar que políticos, seja de qual partido for, não se sensibilizem pelo financiamento de suas campanhas eleitorais e, evidentemente, que os líderes do governo brasileiro acreditariam nos conhecimentos de seus assessores naturais desta região. Estes chegaram até a alardear pela imprensa uma falsa ausência de atividade pesqueira na região.

Unimo-nos numa mobilização suprapartidária com militantes das mais diversas linhas ideológicas e representantes de todos os segmentos sociais, desde o empresário hoteleiro e o dono de mansão beira mar até o pescador e maricultor com seu ranchinho de tábuas. De minha parte me incumbi em distribuir alertas ao máximo de endereços eletrônicos de políticos e militantes partidários. Recebi ampla repercussão exatamente pelos que apoiavam a candidatura do governo.

Evidente não ter sido esta ação a que definiu a transferência do projeto de Eike Batista para outra parte, mas é preciso que os militantes do PT do Rio de Janeiro também alardeiem para a presidente Dilma Rousseff o absurdo que Eike Batista deixou de perpetrar aqui, para agora levar essa nobre gente dos Campos dos Goytacazes ao desespero que se vê nestas imagens.

Lembrem-se do anunciado pelo presidente Lula: “Não faço o que faço porque quero. Faço o que a sociedade diz querer que eu faça!” Se isso é ser um governo do PT, temos de cumprir com nossa parte de militantes, ajudando o governo a detectar o erro e debelá-lo antes que se instaure, pois sabemos muito bem que o outro lado sempre transfere seus próprios erros para a responsabilidade dos dirigentes petistas.”

A atual presidente é do Partido dos Trabalhadores, não dos Coronéis mimados que sob pele de cordeiro escondem reais Lobisomens, como faz Eike na entrevista à mídia que inicia este vídeo.

Com um litoral muito menor do que o nosso e uma das mais ativas indústrias náuticas do mundo, afora outras atividades industriais, o Japão tem o litoral de todo o arquipélago que o constitui planejado, a despeito da intensa ocupação humana do país e das trágicas incidências de terremotos e maremotos como os recentemente ocorridos.

Exatamente por se apoiar este governo, temos de exigir um estudo detalhado de todo o litoral brasileiro, estado por estado, e por meio de equipe multidisciplinar especializada: antropólogos, sociólogos, ambientalistas, engenheiros náuticos, oceanógrafos, biólogos, etc., definir quais áreas são indicadas para cada tipo de projeto e proposta.

Não é possível ficar por conta de empresas de consultorias que forjam laudos de acordo com os interesses de seus contratantes, como ocorreu aqui na Baía da Ilha de Santa Catarina, onde das mais de 200 espécies de peixe, se identificou apenas menos da metade embora no estudo de impacto ambiental tenham incluído até espécies inexistentes, que apenas sobrevivem em cursos de água doce.

Companheiros militantes do PT e do governo Dilma, façam alguma coisa pelos capixabas de Campos de Goytacazes! Alertem nossa presidente e lembrem-se de que o PT não é igreja. Mesmo que o fosse, todas elas estão cheias de santos do pau-oco. Não permitam que, em situação alguma, o PT deixe de ser partido dos trabalhadores e das vítimas de manhosos coronéis a brincar de lobisomens.

E quem não apoia ou não concorda com o governo Dilma, de qualquer forma, incentive seus amigos e correspondentes brasileiros a lutar contra esse descalabro, pois seja qual for o governo, temos de ser um país. Nenhuma nação pode ser considerada como tal, se permite a ocorrência de descalabros como esses aqui documentados por meio do link abaixo.

Temos de definitivamente deixar de ser um absurdo para nos tornarmos e nos orgulharmos de um país. E isso talvez dependa mais de nós do que do governo.

***

É um absurdo o que estão fazendo com as familias apresentadas na matéria abaixo. Em Santa Catarina, o Eike foi enxotado. Será que não conseguem o mesmo no Rio de Janeiro? Mandem o Eike montar a OSX em Marte. Não, talvez seja melhor Netuno, assim ele ficaria bem mais distante.

Carlos Castro.

Clique aqui e assista o vídeo.

(imagem do site racismoambiental)

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