Qual o modus operandi na Reformulação Curricular do Ensino Médio no IFBA?

Caro/a leitor/a, como ativista socioambiental, envolvo-me com discussões amplas de análise acerca de vários temas, haja vista que as questões socioambientais são transdisciplinares. Feita essa elucidação, é importante esclarecer que a entrevista, a seguir, à primeira vista, parece não possuir relação direta com a sustentabilidade e com o meio-ambiente, no entanto, a partir de uma percepção mais apurada, é possível reconhecer que a discussão encontra, sim, intersecção com as temáticas socioambientais, dado que tudo está interconectado com a educação. Diante dessa concepção, resolvi entrevistar Igor Brandão, discente do 3º ano do curso técnico de/em Edificações do IFBA, para apresentar à população informações no tangente à proposta de implantação da Instrução Normativa para a Reformulação Curricular da Educação Profissional Técnica de Nível Médio no Instituto Federal da Bahia mostrando a percepção discente sobre o fato em baila.

Abaixo, segue a entrevista, especial para Desacato.info.:

Elissandro Santana:

Caro Igor Brandão, o Senhor pode discorrer sobre o que está acontecendo no Instituto Federal da Bahia, em especial, no campus de Eunápolis, acerca da reformulação dos cursos integrados de nível médio?

Igor Brandão:

Então, a proposta de reformulação foi feita em conjunto com a PROEN – Pró-Reitoria de Ensino, o DEPTNM – Departamento Profissional de Educação Técnica de Nível Médio, docentes, pedagogos e diretores, com a finalidade de integrar os cursos às cargas horárias redigidas em lei. Mas essa proposta não foi feita pensando na realidade de cada campus. Ao contrário, deu-se de forma fechada, sem a participação da comunidade, havendo sido imposta de forma arbitrária e ditatorial pelo reitor Renato Anunciação Filho, que a definiu como sendo uma “instrução normativa” – e não mais uma proposta a ser discutida – na Resolução 30 do Conselho Superior. Ou seja, é um pacote fechado de ideias que estão nos impondo.

Elissandro Santana:

Dessa forma, pode-se mencionar que o problema reside no fato de que o Instituto está pensando a questão de forma vertical e universalizando questões, sem levar em consideração os pressupostos e realidades de cada campus e região?

Igor Brandão:

Sim! Nós, estudantes, somos, sim, favoráveis à reformulação dos nossos cursos, mas, nessa proposta imposta, está contida uma série de fatores que não condizem com a nossa realidade. De acordo com a referida proposta, haverá o aumento de carga horária, e, ainda assim, teremos que sair do regime de 4 para 3 anos de duração de curso. Vejo como uma situação impossível, já que nós não temos estrutura para aguentar turmas nos dois turnos, com 7 ou 10 horários de aula por dia. Isso poderá acabar com vários setores de ensino do nosso Instituto, como a pesquisa e a extensão e a questão de estágio. Ademais, poderia, também, aumentar ainda mais a evasão de alunos, que é um dos motivos apresentados para a criação dessa instrução normativa, já que os cursos ficariam mais pesados.

Elissandro Santana:

Já houve alguma tentativa de diálogo com a direção do campus de Eunápolis e com a Reitoria, em Salvador, com vistas a mostrar que é inviável a mudança curricular da forma como está sendo feita, de maneira hierarquizante?

Igor Brandão:

Essa semana, tivemos a visita de duas técnicas da PROEN para que essa proposta fosse “discutida” através de oficinas. Mas isso soa como uma maquiagem que está sendo feita, pois como mencionado, já não é mais uma “proposta” e sim uma instrução normativa, ou seja, vai acontecer de uma forma ou de outra. E, ainda, segundo essa Resolução 30, a reformulação, do modo como está elaborada, deverá ser implantada em todos os campi a partir do ano que vem. Estamos passando por um momento de autoritarismo por parte do nosso Reitor, que faz as coisas sem consultar quem deve ser consultado. É realmente um mandato vertical e autocrático.

Elissandro Santana:

Quais os fatores insustentáveis na condução do processo de reformulação dos cursos de Ensino Médio do Instituto Federal da Bahia?

Igor Brandão:

Resolvemos iniciar o movimento estudantil, porque nos sentimos prejudicados. Nossa voz é a menos ouvida em toda essa situação.

Elissandro Santana:

O corpo discente está encontrando apoio do corpo docente no campus de Eunápolis no que tange à crítica ao modus operandi do processo de mudança dos currículos?

Igor Brandão:

Sim, os docentes estão apoiando o movimento. Ademais, estamos apoiando uns aos outros, para que nossa voz fique mais forte! Precisamos atingir a Reitoria, e, para alcança-la, temos um caminho a percorrer e vamos precisar também do apoio dos outros campi, já que essa mudança diz respeito a todos.

Elissandro Santana:

O Senhor acabou de mencionar a questão de atingir os outros campi, acerca disso, como pretendem fazer isso?

Igor Brandão:

Esse é um ponto complicado, já que nossos meios oficiais de comunicação são censurados. Então, estamos tentando mobilizá-los de todas as outras formas possíveis. Começamos com nossa manifestação essa semana, gravamos vídeos e pedimos que a imprensa local publicasse o que está acontecendo. Enfim, estamos coletando informações sobre como o assunto está sendo tratado em outros campi e temos, também, o SINASEFE contra o Reitor, que promove caravanas a Salvador-BA, quando ocorre alguma reunião mais importante como a que se realizará na semana que vem, dia 28 do corrente mês e ano. Como mencionado, é complicado, mas, desde a divulgação que fizemos da nossa manifestação, recebemos alguns comentários de apoio de docentes e alunos de outros campi, sendo assim, acho que já estamos saindo da zona eunapolitana para áreas maiores.

Elissandro Santana:

Sobre a carta aberta à comunidade local do IFBA Eunápolis e a carta aberta à Reitoria do Instituto Federal da Bahia, qual foi o posicionamento oficial?

Igor Brandão:

Durante a visita da PROEN, as duas foram lidas por nós, mas nenhum posicionamento por parte da direção do campus de Eunápolis e da Reitoria foi dado. O nosso diretor não tem ou não quer dar um posicionamento para dizer se é contra ou a favor. Quanto à Reitoria, não sei se a carta chegou por lá, porque como não podemos divulgar no site do nosso Instituto e não temos outro meio de comunicação direta, sem a ajuda da direção geral, a situação fica mais complicada.

Elissandro Santana:

Os discentes e docentes do campus de Eunápolis já recorreram a jornais e outros meios de comunicação da Bahia para o relato do que está acontecendo? Como a mídia noticiou os fatos?

Igor Brandão:

Estamos correndo atrás disso. Procuramos sites, rádios e até TV para nos ajudar, mas, até agora, só duas matérias foram publicadas, e uma delas foi completamente equivocada, ocultando os fatos.

Elissandro Santana:

Para fins de reiteração, pergunto o seguinte: o problema não é a mudança curricular dos cursos, mas o modus operandi na forma como foi pensado o projeto de reformulação e como isso está sendo feito?

Igor Brandão:

Sim, é isso! Nós queremos a reformulação sim, pois ela é necessária para a adaptação aos dias atuais. No entanto, os problemas maiores são o autoritarismo e a gestão antidemocrática do nosso Reitor. Não é a primeira vez que Ele impõe alguma mudança importante sem antes consultar a comunidade do IFBA. Sobre isso, temos o exemplo da implantação do ponto eletrônico, que foi motivo de greve no ano passado. Enfim, em relação à situação atual, mais uma vez tudo está sendo feito sem a devida democracia e, consequentemente, com a extrapolação dos limites de atuação.

Elissandro Santana:

Como a direção do campus de Eunápolis e a Reitoria do IFBA se comportam em relação a manifestações como as que os discentes estão fazendo no que tange à crítica à forma como está sendo feita a reformulação curricular nos cursos do Ensino Médio do Instituto?

Igor Brandão:

Corremos o risco de receber processos administrativos disciplinares, PAD, além do risco de expulsão sem motivo respaldado, pois, no ano passado, por questões de protestos, há casos de alunos que foram expulsos do campus de Camaçari. Então, é uma questão de “botar a cara no jogo” mesmo.

Elissandro dos Santos Santana é especialista em sustentabilidade, desenvolvimento e gestão de projetos sociais. Ademais, é membro do Conselho Editorial da Revista Letrando.

Contato: [email protected]

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