Produzido pelo casal Obama, “Indústria Americana” leva Oscar de melhor documentário

Longa era favorito para levar estatueta na categoria, que tinha filme brasileiro entre os indicados

Diretores de “Indústria Americana” discursam após vitória do longa como melhor documentário no Oscar 2020 – Mark Ralston/AFP

O documentário Indústria Americana (American Factory) foi o grande vencedor da categoria de melhor documentário do Oscar 2020, realizado neste domingo (9). Entre os concorrentes do longa vitorioso estava o brasileiro Democracia em Vertigem, dirigido por Petra Costa.

A codiretora do documentário vencedor Julia Reichert fez um discurso político. “Nosso filme é de Ohio, mas também da China, e poderia ser de qualquer lugar onde as pessoas vestem um uniforme e vão trabalhar para trazer uma vida melhor para sua família. Trabalhadores e operários têm uma vida cada vez mais difícil. E nós acreditamos que a vida vai melhorar quando os trabalhadores do mundo se unirem”, afirmou no palco da cerimônia.

Além de superar a produção brasileira, Indústria Americana também desbancou dois documentários sobre a guerra da Síria e um longa da Macedônia que também concorre a melhor filme internacional na cerimônia desta noite.

Brasileiro no Oscar

A comitiva brasileira no Oscar fez uma manifestação, empunhando cartazes no saguão da cerimônia. Petra Costa mostrou um cartaz em defesa da Amazônia, a líder indígena Sonia Guajajara levou a pauta indígena para a Califórnia e outros integrantes da equipe do documentário também marcaram os 697 dias de impunidade no caso Marielle Franco.


A comitiva brasileira no Oscar 2020 fez manifestação em defesa da Amazônia, da pauta indígena e pelo fim da impunidade no caso Marielle / Divulgação/Instagram Petra Costa

Mesmo sem ter levado a estatueta, o documentário brasileiro Democracia em Vertigem ganhou grande repercussão com a indicação, despertando paixões e expondo, ainda mais, a polarização que vive hoje o país.

O longa de Petra Costa, que concorreu na categoria, faz um relato pessoal costurado com acontecimentos políticos do Brasil desde a redemocratização até o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a ascensão da figura de Jair Bolsonaro. O título chegou a entrar na lista de melhores filmes de 2019 do jornal estadunidense The New York Times.

Depois de ser indicado ao Oscar, em janeiro, o documentário passou a ser alvo de ataques e críticas, inclusive do governo de Jair Bolsonaro.

Na semana passada, o perfil oficial da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da presidência no Twitter afirmou que Petra assumiu o “papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do país no exterior”.

Em resposta aos ataques institucionais contra a diretora, a ex-presidenta Dilma Rousseff declarou que Petra foi vítima de “intolerável agressão do governo Bolsonaro”.

“A Secom usa a máquina pública para incitar ódio contra uma artista. Mas Petra nos enche de orgulho. Por ser mulher, talentosa, representar o país no Oscar e ter feito um filme que desmascara o golpe do impeachment ilegal de 2016 que levou o Brasil ao desastre chamado Bolsonaro”, disse a ex-presidenta na ocasião.

Neste domingo, horas antes do início da cerimônia, o perfil oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma homenagem ao longa.

Democracia em Vertigem é um documento histórico urgente e necessário para todos aqueles que ousam defender a verdade em tempos de pregação da mentira. Hoje, o filme de Petra Costa ganha o mundo, indicado na categoria de melhor documentário”, afirma o post.


Joaquim Castro, da equipe de edição de “Democracia em Vertigem”, com boné do MST na cerimônia do Oscar 2020 / Divulgação/Instagram Joaquim Castro

Representatividade

A academia foi muito criticada — inclusive pelos apresentadores da cerimônia deste ano, Chris Rock e Steve Martin — pela falta de representatividade de mulheres e pessoas negras entre os indicados. Cynthia Erivo, por exemplo, é a única atriz negra nas categorias de atuação.

Antes do início da premiação deste domingo (9), no tapete vermelho, Petra Costa celebrou o fato de estar “representando o Brasil em 2020 nessa cerimônia em homenagem à cultura, que é o que faz as civilizações se curarem”. Ela elogiou a categoria de melhor documentário por ser a “mais de vanguarda” da academia, por conseguir paridade de gênero. “Temos tantas mulheres representando — quatro filmes dirigidos por mulheres [entre os indicados], e também quatro estrangeiros. Houve muito esforço para levar mais mulheres para esse braço da academia”, afirmou ao G1.

Apresentando o prêmio de documentário em longa-metragem, o ator Mark Ruffalo destacou o fato de que quatro títulos na categoria foram dirigidos ou codirigidos por mulheres.

O prêmio de melhor documentário foi o sétimo a ser anunciado na noite deste domingo. Antes, o ator Brad Pitt saiu vitorioso na categoria de ator coadjuvante por sua atuação no filme Era Uma Vez Em… Hollywood.

Na categoria de melhor longa de animação, o título vencedor foi Toy Story 4. Entre os indicados de melhor curta de animação, a estatueta ficou com Hair Love. No discurso de agradecimento, a produtora Karen Rupert Toliver e o diretor Matthew A. Cherry falaram sobre a importância de representação e a importância simbólica do cabelo para crianças negras.

O Oscar de roteiro original ficou com os coreanos Bong Joon-Ho e Han Jin Won, responsáveis pelo filme Parasita, que concorreu em mais 10 categorias. A obra também levou a estatueta nas categorias de melhor direção e melhor filme estrangeiro.

Já a estatueta de melhor ator foi para Joaquin Phoenix, estrela do filme Coringa, que ganhou na categoria melhor trilha sonora.

A atriz Renée Zellweger também foi premiada como melhor atriz, devido sua atuação em Judy: Muito Além do Arco-Íris

Melhor roteiro adaptado ficou com Jojo Rabbit, de Taika Waititi. Melhor curta de ficção ficou com The Neighbor’s Widow.

O prêmio de direção de arte foi para Era Uma Vez Em… Hollywood.

Lauren Dern levou a estatueta de atriz coadjuvante pelo papel que interpretou em História de Um Casamento.

Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina) conquistou o prêmio de melhor documentário em curta-metragem.

O longa 1917, que retrata a atuação de soldados britânicos na Primeira Guerra Mundial, foi premiado em três categorias: melhor fotografia, melhor mixagem de som e melhor efeitos visuais.

Já a estatueta de melhor montagem foi para Ford vs Ferrari. 

O prêmio de melhor cabelo e maquiagem ficou com o drama O Escândalo e Adoráveis Mulheres foi premiado como melhor figurino.

A estatueta de melhor canção original foi para Elton John, com I’m Gonna Love Me Again, composta para a trilha de Rocketman. É o segundo Oscar do cantor na mesma categoria.

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