Primeira prefeita mulher e negra de Cachoeira (BA), Eliana Gonzaga denuncia ameaças

O caso gerou revolta nos movimentos negros que cobram investigação imediata por meio de nota de repúdio assinada por diversas instituições; ataques racistas e misóginos já eram comuns no período da campanha eleitoral

Primeira prefeita mulher e negra da cidade de Cachoeira, na Bahia, Eliana Gonzaga denunciou que vem sofrendo uma série de ameaças. Ataques racistas e misóginos já eram comuns desde o período da campanha eleitoral. O último episódio ocorreu no dia 11 de abril, quando a prefeita participava de uma ação de rua e percebeu uma motocicleta com dois homens à espreita. A presença chamou a atenção dos policiais que acompanham a agenda, mas os suspeitos empreenderam fuga. Uma reunião com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia deve acontecer nesta quinta-feira (22).

Conhecida pelo ativismo sindical, Eliana foi eleita com 55,94% dos votos, derrotando o oponente Tato (PSD). “A nossa sensação foi de muita satisfação com o êxito da nossa campanha, que foi construída com muito diálogo. Tivemos uma resposta muito positiva da sociedade cachoeirana e ficamos tristes com a covardia de uma partícula da mínima da sociedade que não ficou muio satisfeita com a nossa vitória”, pontua a prefeita.  De acordo com ela, as intimidações têm relação com o resultado das urnas já que algumas mensagens pedem pela sua renúncia para que as ameaças cessem.

O caso gerou revolta nos movimentos negros que cobram providências em uma nota de repúdia assinada por diversas instituições. Na segunda-feira passada, diversos deputados baianos subscreveram Moção de Apoio na Assembleia Legislativa da Bahia à Eliana Gonzaga. O deputado estadual Niltinho (PP), que deu entrada na moção, foi acompanhado pelos deputados (as) estaduais Fabíola Mansur (PSB), Fátima Nunes (PT), Jacó (PT), Maria Del Carmen (PT), Osni Cardoso (PT), Rogério Andrade Filho (PSD); Soldado Prisco (PSC), Hilton Coelho (PSOL), Jurailton Santos (Republicanos) e Pastor Isidório Filho (Avante).

O documento, que indica que os fatos “sejam apurados com todo o rigor”, foi encaminhado para a Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa da Bahia, para a Secretaria de Segurança Pública, ao Comando Geral da Polícia Militar do Estado da Bahia e ao Delegado Geral da Polícia Civil da Bahia.

Procurada pela Alma Preta, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia informou que, no início deste ano, recebeu a prefeita e reforçou o patrulhamento com equipes da Polícia Militar nas áreas próximas à sua residência, local de trabalho e agendas externas. Destacou também que, após o encontro, a Polícia Civil deflagrou a Operação Cidade Heroica, que culminou nas localizações de dois criminosos apontados como autores de ameças.

“Consideramos um absurdo inaceitável que uma mulher negra democrática e legitimamente eleita, seja mais uma vez alvo da violência de grupos autoritários e violentos que não aceitam a vontade do povo expressa pelo voto”, negrita a carta assinada por mais de 30 entidades representativas das pautas de gênero, classe e raça.

Eliana, que é mãe de três filhos e ficou muito conhecida por seu ativismo em prol da luta por terra e dereitos básicos para a população mais pobre, teve de deixar sua residência por questão de segurança. Apesar dos sustos, ela conta que não vai recuar. “Seguimos de cabeeça erguida. Vamos trabalhar fortemente cada vez mais. O povo não elegeu uma covarde. Elegeu uma mulher de luta e vamos devolver toda confiança depositada no nosso mandato com um governo de excelência. Cachoeira é uma cidade de guerreiros que lutaram pela independência. A minha ancestralidade grita”.

Edição: Lenne Ferreira

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