Presos políticos nos EUA

Por Breno Altman.

Série é composta por quatro blocos com reportagens feitas pelo jornalista Breno Altman, que esteve em 17 cidades dos EUA e entrevistou mais de 40 pessoas, entre advogados e líderes de organizações humanitárias. O dossiê “Presos Políticos nos EUA” conta histórias de pessoas que estão presas por motivos políticos no país que se autoproclama campeão de liberdade e terra dos direitos civis.

Para além dos relatos, a série especial também busca expor o aparato repressor construído pelos Estados Unidos para reprimir dissidentes, mostrando tanto o papel do FBI na perseguição a lideranças do movimento negro na década de 1960, quanto a repressão seletiva contra muçulmanos na esteira da política antiterror após o 11 de Setembro.

Ao longo de três semanas, o jornalista Breno Altman esteve em 17 cidades e entrevistou mais de 40 pessoas, entre advogados e líderes de organizações humanitárias. Ele também visitou o sistema carcerário norte-americano e conversou com condenados políticos para produzir o dossiê especial.

A série é composta por quatro blocos, a serem publicados ao longo do mês de agosto de 2016, e todos os textos serão traduzidos e disponibilizados em inglês; parte deles também será traduzida para o espanhol.

Veja, abaixo, as reportagens:

Primeiro Bloco

OS EUA ocultam informação sobre seus presos políticos

Os Estados Unidos ocultam informação sobre presos políticos. Dos 54 condenados identificados por organizações de direitos civis, maior parte vem de minorias raciais e está encarcerada há mais de 40 anos.

O diplomata Andrew Jackson Young foi figura de destaque quando Jimmy Carter governava os Estados Unidos, entre 1977 e 1980. Nascido em Nova Orleans, negro e democrata, iria completar 45 anos quando assumiu o posto de embaixador nas Nações Unidas. Era este o cargo que desempenhava quando deu, em julho de 1978, célebre entrevista ao jornal francês Le Matin. “Ainda temos centenas de pessoas, em nossas cadeias, que poderia classificar como prisioneiros políticos”, afirmou Young, a respeito de ativistas que tinham sido encarcerados nos anos 60 e 70.

Os Estados Unidos continuam a ocultar que mantêm presos políticos, pois não fica bem para a imagem de uma nação que se autoafirma líder do mundo livre e democrático. Aliás, que explica a ação de seus tanques e aviões ao redor do planeta como exportação da liberdade. Das centenas de presos reconhecidos pelo ex-embaixador, algumas dezenas ainda permanecem em calabouço. Muitos morreram ou cumpriram suas penas. Mas novos dissidentes foram capturados ao longo do tempo.

Cartaz no estado sulista do Alabama convoca população às eleições e remonta às origens dos Panteras Negras. Foto: Bob Fletcher/Smithsonian Museum

Panteras Negras foram vanguarda dos anos 60. O grupo que desafiou o racismo e o Estado no país mais poderoso do mundo.

“Eles são a maior ameaça para a segurança interna do país”, sentenciou John Edgar Hoover, o lendário chefe do FBI, durante reunião na qual declarou guerra aberta ao partido de jovens afro-americanos que, no final dos anos 1960, ousava promover motins e enfrentar a polícia.

Os Panteras Negras brotavam como cogumelos nas principais cidades norte-americanas. Rapidamente, viravam o símbolo e a direção de quem não aceitava mais oferecer a outra face perante à agressividade das forças racistas.

Um homem que não queria mais senhores

Seu nome é Sekou Odinga. Pegou em armas porque acreditava que os afro-americanos são escravos modernos e têm o direito à rebelião

A prisão de Clinton, integrante da rede penitenciária do estado de Nova York, fica quase na fronteira com o Canadá. Foi construída no vilarejo de Dannemora, em 1845, para abrigar prisioneiros que trabalhavam nas minas locais. Os muros brancos, cravejados com torres de vigilância, parecem furar a paisagem aprazível de casas simples e bem-cuidadas da vizinhança. Até hoje é o principal edifício da cidade, ladeado por um hospital de tijolos aparentes que pertence ao mesmo complexo prisional.

Tornou-se o destino de rebeldes e revolucionários que se chocaram contra o poder. Um deles é Nathaniel Burns. Aliás, Sekou Odinga, o nome africano que adotou em 1965, quando se encantou com os discursos de Malcom X e aderiu ao movimento de libertação dos negros norte-americanos.

Sekou Odinga: “Não me arrependo de nada, continuo acreditando nas mesmas ideias e nos mesmos sonhos”

Levantamento feito por ONGs humanitárias contabiliza 54 pessoas encarceradas por motivos políticos nos EUA.

A compilação leva em conta dados dos levantamentos realizados por organizações norte-americanas de direitos humanos, como o Movimento Jericó e a Aliança pela Justiça Global. Não inclui os presos de Guantánamo ou estrangeiros julgados nos Estados Unidos por crimes cometidos no exterior.

Fonte: Opera Mundi

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