“Prefiro ser um trabalhador braçal vivo no Brasil, a ser um intelectual morto na África”, diz refugiado

Reagan Mukimalio
Reagan Mukimalio

Por Fabio Pagotto.

O engenheiro agrônomo Reagan Mukimalio, 24 anos, do Congo, trabalha há quatro meses na Inova, na usina de compostagem na Lapa (zona oeste de SP); em seu país, ele comandava equipe na mesma área.
Engenheiros de diversas áreas, professores universitários e até um médico e um psicólogo estão varrendo as ruas de São Paulo. Ao menos 50 dos 311 estrangeiros contratados pela Inova, empresa responsável pela limpeza pública de parte da cidade, possuem diploma superior.
Fugindo do caos político de Angola e da República Democrática do Congo e Nigéria, na África, esses estrangeiros têm vindo ao Brasil em busca de uma vida mais estável e sonham em trazer para cá suas famílias. No caso dos congoleses, muitos não conseguem contato com parentes desde que estão no Brasil, alguns há dois anos.
O Congo está imerso em uma violenta guerra civil há 20 anos, com saldo de mais de seis milhões de mortos. Uma recente reviravolta política provocou uma onda de imigração rumo ao Brasil.
Foi assim que o engenheiro agrônomo Reagan Mukimalio, 24 anos, desembarcou no país. Ele está aqui há nove meses e há quatro trabalha para a Inova.
Em seu país, Mukimalio trabalhava para a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), no comando de uma equipe que produzia adubo a partir de compostagem, o reaproveitamento de restos de alimentos e outros tipos de detritos. Em São Paulo, o engenheiro passou a pegar no pesado, no programa de compostagem da Inova na Lapa (zona oeste), produzindo adubo a partir dos restos das 26 feiras do bairro.
“No meu país sou perseguido político. Prefiro ser trabalhador braçal vivo aqui do que um intelectual morto na África”, diz Mukimalio.
Ele diz que está mais feliz aqui. “Amo o Brasil, terra abençoada, aqui há paz. Aqui o estado funciona, há garantias para o cidadão que não existem em meu país. Quero trazer minha família”, contou o engenheiro. Ele tem mulher e um filho de 10 meses em Kinshasa, capital do Congo. “Preciso juntar 6.000 dólares para isso”, falou Mukimalio, que ganha R$ 1.059 por mês.
Foto: Robson Ventura/Folhapress

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