Povos indígenas buscam alternativas de resistência pela comunicação

Por: Diego Teófilo e Augusto Ramos, do Virajovem Belém (PA)

Recentemente, foi aprovada no Congresso Nacional a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que transfere do Poder Executivo para o próprio Congresso a prerrogativa de demarcações de terras indígenas, a titulação dos territórios quilombolas e a criação de unidades de conservação ambiental. Isso quer dizer que deputados e senadores, muitos dos quais são latifundiários e possuem interesses diretos na exploração destas áreas e na expulsão dessas populações, podem passar a decidir sobre o destino dos povos indígenas futuramente.

Vivemos em um momento histórico em que o atual Congresso Nacional é o mais conservador desde 1964, e possui representação ruralista de mais de 50%, com 257 deputados nesta bancada. São eles os maiores responsáveis pela violência nos conflitos que envolvem as disputas por áreas de terras indígenas e, sobretudo, pela omissão e ausência do Estado no sentido de garantir direitos desses povos.

A pesquisa Indígenas no Brasil – Demandas dos Povos e Percepções da Opinião Pública, realizada pela Fundação Perseu Abramo e Instituto Rosa Luxemburgo Stiftung, com etnias indígenas de todas as regiões do país, revela que os maiores problemas dos povos indígenas da atualidade são relacionados a terra como os conflitos, invasão, perda e abandono, seguido de falta de acesso a saúde e educação, respectivamente.

Para superar este cenário, onde o processo de invisibilização é pautado no campo da educação quando o mesmo tem as suas narrativas negadas nos livros didáticos, deturpadas pelos grandes meios de comunicação e pouco assistido pelo Estado brasileiro, os povos indígenas, assim como outros segmentos, buscam alternativas para se comunicarem.

Um dos estereótipos que precisam sair do imaginário da sociedade é que as populações indígenas vivem somente isoladas e que ao terem contato com as novas tecnologias passam a perder sua identidade enquanto populações indígenas. É preciso, portanto, compreender que os próprios índios construíram por anos suas formas de se comunicar e que a comunicação também é essencial na manutenção das relações.

Resistência na rede

Seguir avançando é o grande desafio, criar as condições de acesso e apropriação de novas tecnologias e instrumentalizá-la para emancipação coletiva e enfrentamento de violações de direitos é a alternativa inteligente para superar as desigualdades e construir parcerias estratégicas com outros parentes de etnias irmãs para sobrevivência de nossa cultura, assim surge o portal Índios Online, uma rede que reúne diferentes etnias num canal de diálogo, encontro e troca. Um de seus objetivos é facilitar o acesso à informação e comunicação para diferentes povos indígenas, estimular o diálogo intercultural, conhecer e refletir sobre a nossa situação atual. Ou seja, um espaço virtual para comunicar e construir um outro olhar sobre as populações indígenas rompendo com a visão colonizadora.

Para o integrante da Rede Índios OnlineFabrício Titiah, da etnia Pataxó Hahãhãe, “os usuários da rede usam o portal para esclarecer determinados assuntos, fazer denúncias de determinadas coisas que não estão funcionado na comunidade e para dar visibilidade às suas comunidades. Nas retomadas de nossas terras, as mídias, em geral, criam uma outra visão, distorcendo nossa imagem, transmitindo uma péssima ideia aos expectadores. É nesse momento que a atuação dos jovens indígenas com a rede Índios Online nos ajuda fortemente a divulgar o que está acontecendo e quem somos realmente”, afirma.

Desde quando entrou no ar em 2004, o portal da Rede Índios Online teve mais de 5 milhões de visualizações, 4.252 matérias publicadas, participação de 921 usuários de 35 etnias de 16 estados Trata-se de uma rede composta por voluntários que buscam o desenvolvimento humano, cultural, social e econômico de suas nações e benefícios para todos os seres vivos sem distinção de nacionalidade, raça, cor, crenças. Trabalhando constantemente para sua qualificação e conquista de autonomia, a rede conta com apoio da ONG Thydêwá, de Ilhéus (BA), do Ministério da Cultura e outros parceiros.

* Essa matéria foi publicada originalmente na Revista Viração edição 110

Foto: Jéssica Delcarro/Acervo Viração

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