Portugal: Unir a esquerda, para que o fim do governo seja irrevogável

130813_masPortugal – MAS – Os malabarismos governamentais, de Passos, Portas, Cavaco e companhia deixaram todo o país estupefacto.


Portas disse que a sua saída era irrevogável, mas voltou. Passos mostrou que só faz o que Cavaco deixa, o que a Troika manda e ainda tem de manter Portas por perto. Cavaco Silva mostrou a consideração que tem pelo povo português e a democracia quando disse que, mesmo que Passos e Portas se demitissem, o governo continuava. Todos eles estão nas mãos da Troika e a Troika diz: há que continuar a esmagar os trabalhadores e o povo e para isso o governo tem de continuar.

Tanto assim é que com o “novo” governo foi anunciado um novo resgate. E da mesma forma que o Governo nada tem de novo, a política do BCE e da Comissão Europeia também nada têm de novo: roubar o povo para pagar uma dívida corrupta e salvar o euro, para a Alemanha e os grandes bancos continuarem na mó de cima.

Crise do governo vem do 15 de Setembro e da greve dos professores

Foi Gaspar quem o confessou na sua carta: o recuo na TSU – imposto pelas grandes manifestações de 15 de Setembro – enfraqueceu-o a ele e à sua linha dura de austeridade permanente. O Tribunal Constitucional, em Março, deu outro golpe na austeridade sem limites, empurrado pela mobilização popular e pelas grandes manifestações que anunciavam que, se continuasse a este ritmo, Portugal tornar-se ia num Brasil ou numa Turquia. Por fim, foi a heróica greve dos professores às avaliações que fez adiar milhares de despedimentos nas escolas que deitou por terra, pelo menos temporariamente, a “reforma do estado”, que era um novo plano de austeridade. Perante tantos recuos a Troika zangou-se e Gaspar saiu.

Portas e os que, no governo, preferem avançar com os cortes mais devagar, já a pensar nas eleições e em impedir que a direita seja excessivamente castigada, viram na demissão de Gaspar uma oportunidade. Mas a nomeação de Maria Luís Albuquerque mostrou que mudavam as caras mas nas finanças continuava a política do “doa a quem doer” e “que se lixem as eleições”, mesmo que isso ponha a direita fora de jogo por uns anos. E aí Portas reagiu histérica mas não irrevogavelmente, criando uma crise política para tentar escapar do governo, como quem abandona uma navio que se afunda.

Após dias de reuniões, boatos e desmentidos, que afundaram um pouco mais o país, fazendo subir os juros da dívida, uma nova “fórmula” foi encontrada. Portas continua no Governo, com mais poderes, Maria Luís Albuquerque continua nas finanças mas sob a alçada de Portas e o CDS ganha a pasta da economia. A ferida está longe de ter sarado, pelo contrário. O governo ficou mais dividido e frágil, e terá ainda mais dificuldades para avançar com novos ataques e medidas de austeridade. À primeira contrariedade, à primeira greve forte ou mobilização que tenha de enfrentar, este governo arrisca-se a desconjuntar-se definitivamente.

Não há resgates brandos

A União Europeia e Merkel estão atentos. Por um lado a Troika inicia dia 15 de julho a sua oitava avaliação em que vem exigir mais cortes, no valor de 4.700 milhões de euros. Mas por outro lado sabe que o governo não tem força para avançar com essas medidas. Terá que ser mais brando, que ter mais tempo – isso já é resultado das mobilizações populares. Para possibilitar que o governo português possa avançar sem rebentar pelas costuras, Bruxelas já prepara um segundo resgate a Portugal, desta vez sem o FMI, capitaneado apenas pela Comissão Europeia e o BCE, leia-se, pela Sra. Merkel.

O objetivo é evitar novas crises que levantem cenários como os que se deram em Chipre e na Grécia, que puseram em causa a moeda única, que a Alemanha quer preservar a todo o custo. E ao mesmo tempo avançar com a austeridade, tão rápido quanto possível. Se hoje Bruxelas prepara este resgate, que chama de “resgate brando” ou “linha de crédito”, e pondera implementar a austeridade mais devagar, não é porque se aperceberam que a sua política é calamitosa e assassina, mas porque ela foi parcialmente travada pelas mobilizações populares, que, em Portugal, com a vitória sobre a TSU e a greve dos professores, na Grécia, com a reabertura da televisão ERT e mesmo em Espanha e Itália, levam os governos da austeridade quase ao tapete.

Mas não nos enganemos, não há “resgates brandos”, o segundo resgate pode e deve ser derrotado e negado por novas mobilizações e por outro lado, se as lutas recuarem, ele não será nada brando mas pior ainda que anterior. Derrotar o governo, recusar o segundo resgate e expulsar a troika continuam a ser necessidade prementes. Fazer uma moratória aos juros da dívida e fazer um referendo ao euro são as medidas que permitiriam voltar a ter soberania, emprego e crescimento.

E porque não caiu já o governo?

O que é impressionante é como, num país em que já vimos grandes lutas e até algumas vitórias, com o governo mais descredibilizado que há memória, como é que Portas e Passos protagonizam esta dança das cadeiras sem que ninguém lhes dê um último empurrão! Alguém duvida que um novo 15 de Setembro, neste momento, arrumava com este governo de vez? Porque não saiu massivamente à rua todo o povo como noutras ocasiões?

Antes de mais porque ninguém o convocou devidamente. PCP e BE preferiram, nesta conjuntura, marcar arruadas próprias – ou seja, só para bloquistas e comunistas – mais preocupados com eleições do que em dar o golpe final a este governo e à sua política. O movimento Que Se Lixe a Troika mostrou não ter agenda e iniciativa própria, não por falta de vontade e de empenho dos muitos ativistas independentes que estão neste movimento, mas porque continua atado ao BE e PCP, que neste momento preferem angariar votos. Já CGTP voltou a convocar uma manifestação para o Mosteiro dos Jerónimos – não percebemos a insistência com este local a não ser levar os protestos para longe dos órgãos de poder.

Imaginemos que não era assim, que todos estes movimentos e partidos, mais ativistas independentes, outros movimentos e personalidades, enquanto Portas e Passos brincavam aos desgovernos, convocassem conjuntamente grandes manifestações para em frente a S.Bento, diárias se necessário e possível, à semelhança do Egipto e do Brasil. Alguém tem dúvidas que o Governo caía, ou pelo menos, que não teria tanta facilidade em enganar tão impunemente o povo e os trabalhadores? Mas não, todos estes sectores estão mais preocupados com as agendas eleitorais do que em mobilizar todo o povo para derrubar o governo. É isso que explica que Portas e Passos se possam dar ao luxo de fazer estas manobras, como um bêbado que dança no topo do telhado sem medo de cair: eles fazem-no porque sabem que quem pode não os irá empurrar para que caiam.

Não há alternativas?

Pode parecer que não é assim, que existem convocatórias para mobilizações, mas as pessoas não aparecem. E porque será? É patente que o povo odeia o governo, porque não quer eleições, porque não se mobiliza para derrotar Passos e Portas? Será falta de inteligência, ou será, pelo contrário, alguma sabedoria popular?

Uma conversa com um trabalhador comum responde a estas questões. “Correr com estes para quê? Para virem outros iguais?”. Esta é a resposta mais fácil de obter à porta de uma empresa ou de um centro de emprego. Os trabalhadores e o povo sabem que quem está na calha para governar é o PS de António José Seguro, que fará igual ou pior que a direita. Existe a sensação de que não há alternativas, mas não é só a direita e o PS, a televisão e os jornais que o dizem… é também a esquerda. BE e PCP ao dizerem “eleições já” sem que se unam para ser alternativa ao PS e à direita, estão a estender a passadeira vermelha para que Seguro governe, para mais anos de roubo, corrupção e austeridade.

A esquerda pode ser alternativa, sem o PS nem a Troika. Podia repetir-se em Portugal o fenómeno do Syriza. Não se repete porque a esquerda não quer, porque BE e PCP são tímidos e conservadores e estão mais preocupados com a sua quota parte de eleitorado que em mudar realmente a vida de milhões de jovens, reformados e trabalhadores.

Por isso é que é preciso uma nova esquerda. Por isso é que é preciso novas alternativas como o MAS. Para dizer que a esquerda se pode unir para derrotar quem nos governa há 40 anos e roubou o país. Para dizer que o euro afunda o país e que é preciso perguntar ao povo se quer a moeda da austeridade e do desemprego. Para dizer que sem suspender o pagamento da dívida não podemos pôr o país a produzir e criar empregos. É para que isto seja dito bem alto, para que não haja só alternância mas também alternativa, para que as ruas do país se encham como as do Brasil, Turquia ou Egipto, que é preciso dar força ao MAS. Contacta-nos!

Fonte: Diário Liberdade.

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