Portinari, Volpi, Lygia Clark viraram pornografia para MBL

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Milton Kurtz. Foto: Santander Cultural/Divulgação

Por Ivana Bentes.

A pressão veio de movimentos como o MBL que postou no seu site e página do Facebook, matéria incitando o ódio, acusando o curador de perversão, ameaçando e agredindo verbalmente os visitantes e artistas (ver relato no FB) em nome da moral e dos bons costumes!

O mais espantoso, a exposição “QueerMuseu: Cartografias das diferenças na arte brasileira”, com curadoria de Gaudêncio Fidelis, que foi curador-chefe da 10ª Bienal do Mercosul, em 2015, simplesmente traz obras de Volpi, Portinari, Flávio de Carvalho, Ligia Clark, Alair Gomes, Adriana Varejão, artistas mais que consagrados, e uma série de fotografias, esculturas, pinturas, filmes e vídeos, colagens gravuras de artistas contemporâneos e de todos os tempos.

Ou seja, os pseudos “liberais” atacam não só a liberdade de expressão, mas demostram uma vasta ignorância em relação as formas disruptivas da arte falar de comportamento, crenças, valores. O nome disso não é liberalismo é fascismo, literalmente.

A patrulha fundamentalista e de “ódioartivismo” repete o Partido Nazista da Alemanha, nos anos 30, que passou a perseguir o que considerava uma “arte degenerada”, ligada aos movimentos vanguardistas modernos.

Picasso, Matisse, Mondrian, glórias da arte mundial, foram considerados “degenerados” e execrados em exposições pelos nazis. Repete-se no Brasil de 2017 o ridículo histórico.

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Obra de Allair Gomes exposta na mostra do Santander

 

“Arte Degenerada” foi o título de uma mostra, montada pelos nazistas em Munique, em 1937, em que as obras modernistas eram acompanhadas de faixas e rótulos ridicularizando as peças expostas, inflamando e produzindo ódio na opinião pública.

O MBL está usando a mesma estratégia nas redes, alimentando um exército de zumbis que vêem “pornografia” e “depravação” em qualquer proposta que trate de diversidade, gênero, questões de comportamento, temáticas LGBT.

No meio de uma exposição gigantesca, com mulheres de Portinari e fotos de Alair Gomes, trabalhos de Leonilson, com 85 artistas e todas as linguagens, o exército de zumbis só vê “pedofilia”, “pornografia”, “depravação”, “imoralidade” , “blasfêmia”.

As imagens degeneradas? Uma figura de Jesus Cristo com várias pernas e mãos, como o Buda de mil braços, imagens com a inscrição “Criança viada travesti da lambada” e “Criança viada deusa das águas”, e o desenho de uma pessoa tendo relação sexual com um animal (coisa que no Brasil já virou até história em quadrinhos, só lembrar de Carlos Zéfiro, e seus “catecismos” eróticos, fora o conteúdo “adulto” na internet, na TV a cabo, no youtube, liberado para quem quiser ver).

Os novos moralistas também acusam o Santander Cultural de utilizar a Lei Rouanet (sempre ela!) para financiar a “arte denegerada” segundo a vasta ignorância cultural do MBL e seu exército teleguiado. Mas é justamente o contrário, em um momento extraordinário da cultura brasileira, essas obras e esse tipo de exposição nos fazem pensar, refletir questionar sobre a intolerância, o preconceito, a violência diante do outro e diante das diferenças.

Na sua Nota de cancelamento o Santander Cultural, que diz repudiar todo tipo de preconceito, e tinha apresentado a exposição QueerMuseu como um incentivo a “uma mudança no modo de pensar, em sintonia com uma sociedade diversa e democrática”, recuou lamentavelmente e cancelou a mostra que já tinha sido visitada por milhares de pessoas e ficaria em cartaz até outubro.

A máquina de retrocessos que está operando no Brasil é primária e boçal, esse ato de ódio e intolerância contra artistas, contra obras, contra sujeitos que lutam para se expressar é o signo não de uma “arte degenerada” mas de uma sociedade doente que não suporta a democracia, que não suporta a existência dos outros! Mas estão mexendo com o mais potente e poderoso: o “parlamento dos corpos”, a lei do desejo e essa é difícil de censurar ou calar.

 

Fonte: Mídia Ninja.

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