Portal Desacato acende velas e festeja cinco anos de existência

Por Celso Martins.

O Portal Desacato completa cinco anos de existência com direito a bolo, velinhas e parabéns-a-você no próximo dia 24.8, sexta-feira, no Sobrado Encena da travessa Ratclif, 184, esquina com Tiradentes, no Centro de Florianópolis. O ronco começa às 19 horas. Duas horas depois haverá a apresentação do grupo uruguaio “La Chorona”.

O histórico do surgimento e consolidação do Desacato no dia 25 de agosto de 2007, motivou entrevista com um dos coordenadores do projeto, o jornalista Raul Fitipaldi, através dos meios característicos da atividade: o e-mail e o Skype. (Celso Martins)

Como surgiu o projeto do Desacato? Quem esteve presente?

Desacato surgiu da impossibilidade que sentimos, quatro ou cinco militantes da esquerda de Florianópolis, de continuar dentro dos partidos políticos (primeiro do PT em 2002 e depois do PSOL em 2005), pelos desvios ideológicos e metodológicos que observamos. Sendo companheiros vinculados ao jornalismo e à cultura, foi natural que procurássemos servir à sociedade (sem pretensão de sucesso ou eficácia alguma), na área vocacional do coletivo, comunicando o que pensávamos. Decidimos fazer um sítio virtual, como poderíamos ter decidido por outra ferramenta. Não se tinha um propósito muito claro em 2007, como temos agora, e agíamos de forma ousada, incidental e “irresponsável”. Era para nós e entre nós mesmos e morrer à míngua, mas, com o direito de espernear mais ou menos exercido. Porém, acabou virando um veículo de comunicação. Acasos acontecem… também à esquerda do paraíso.

Os nomes dos companheiros fundadores do veículo: Tali Feld Gleiser, atual diretora geral, Juan Luis Berterretche, Vanessa Bortucan (única não militante política), Marco Arenhart e este servidor.

Qual é a linha editorial do trabalho do Desacato?

O Portal é de contracorrente. Transita desde a teologia da libertação até o anarquismo, passando pelo socialismo, o comunismo, o humanismo, a defesa ambiental e ecológica, a cultura informal e a formal alheia ao sistema. Digamos, é um veículo progressista, apartidário, latino-americanista e internacionalista. Em franco resumo: anticapitalista e antiimperialista, pela Soberania Comunicacional Popular. E claro, é um portal parcial. Tem lógica, toda a mídia monopólica é parcial também. Apenas que escolhemos o outro lado, o lado dos invisíveis.

Qual é o dia-a-dia de alimentação/manutenção do portal?

Ainda o voluntariado. Mas, é uma fase em transição. Não há menor possibilidade de continuar fazendo o que fazemos de forma voluntária. São bem mais de 10 mil artigos publicados em cinco anos. Milhares de fotos, imagens, centenas de charges maravilhosas, traduções, entrevistas, vídeos, é muita coisa. Hoje se acrescentam os serviços de Boletim Semanal, Twitter, Facebook, não feitos a esmo, senão dirigidos a necessidades diferentes de público, assim como links especiais sobre direitos humanos, cultura etc. Inclusive com a quarta fase em desenvolvimento e uma surpresa em cultura que em algumas semanas estará no ar. Agregue transmissões ao vivo, eventos, encontros: é muita coisa para ser mantida voluntariamente. Seria um atentado à seriedade e à qualidade mínima que a cada dia se nos exige.

Já a alimentação de conteúdos conta com uma lista maravilhosa de colaboradores em todos os continentes, que não nos deixaram nunca e também com uma escolha apurada da informação republicada que completa nossos conteúdos próprios. Hoje temos no grupo base sete jornalistas e três comunicadoras sociais, sem contar o resto da estrutura técnica e social do coletivo. Somos 23 pessoas só em Florianópolis, nenhuma em tempo integral. Parece muito, mas não é nada para a demanda diária. Hoje tem três plantões por dia, das 8 até as 23 horas, os sete dias da semana. Começa o dia em República Dominicana e termina na madrugada de País Basco. Em Florianópolis os plantões vão de 9 a 22 h. Em 24 de agosto festejamos nosso 5º aniversário, se há cinco anos tivessem falado que isto cresceria deste modo, eu teria desistido (risos…)

O Desacato tem sido molestado de alguma forma devido a sua posição editorial/jornalística independente?

Não, ainda não, tudo chega, não temos pressa por isso (risos). Acho que em algum momento incomodamos mais no exterior do que aqui, mas não fomos incomodados por ninguém. Desde dezembro de 2011, quando surgiu a 1ª Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura, à luz da evolução e amadurecimento da idéia original, começamos a focar mais intensamente nossa cidade e nosso Estado. Já incomodamos alguns, mas, é só o começo. Se vingarmos como cooperativa não teremos como não molestar. Pedimos desculpas por antecipado. Não nos incomodem, só diremos a verdade!

A posição de independência é decisiva para nosso empreendimento informativo, cultural e social. A credibilidade é inegociável. Fazemos jornalismo e cultura, isso exige independência. É nossa decisão política, como veículo e como Cooperativa, somos independentes. Não existe outro caminho e esse foi e continuará sendo transitado, alargado, aprofundado e aperfeiçoado. Quem sabe um dia nos molestem por isso, mas, acredito que a democracia evolua e a independência se manifeste sem pedir permissão, nas bases do respeito e da obrigação de informar.E aí ninguém vai se sentir incomodado e ninguém vai molestar um veículo por ser independente.

Quem acompanha o Desacato?

No Brasil só a partir deste ano, desde janeiro, ou melhor, desde que se fundou a Cooperativa em 9 de dezembro de 2011, Florianópolis começou a ser a cidade com mais leitores em termos proporcionais. Antes, de 2007 a 2010, sempre fomos mais lidos, por ordem decrescente: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e, Santa Catarina era um dos estados do meio da lista. Agora isso mudou, muito rápido. Hoje estamos orgulhosos de dizer que na nossa cidade base, Florianópolis, tem o maior número de leitores, e muito assíduos, alguns em grau de torcedor fanático. Também Santa Catarina melhorou, aparece só atrás do Rio, São Paulo e Rio Grande, bem grudadinho.

O perfil é contraditório, talvez. Na verdade sofremos o dilema das candidaturas de esquerda atuais na cidade, nos seguem as classes A e B (risos…). De fato, temos o desafio e o estamos aceitando e topando, de chegar aos lugares onde não há computador. Não é maluquice, temos que encontrar uma solução, porque nosso fim são os invisibilizados. No entanto, chegamos a dois grupos centrais de formadores de opinião, profissionais autônomos (a maioria universitários, ou com secundário terminado) e os estudantes. Também a setores discriminados como as pessoas de opções diversas, especialmente em nível sexual, que nos honram a cada dia mais com sua leitura e comentários. No entanto, é nas comunidades carentes, pobres, nos morros e nas vilas, onde precisamos servir no âmbito da cidade. Já em nível geral, nos lêem em muitos países, todos os gêneros e faixas etárias, em geral os universitários, os militantes sociais, muitíssimo os jornalistas e os comunicadores, os artistas e os políticos. Eles também… muito.

Soberania Comunicacional

Uma consideração final. Desacato, mas, sobretudo a Cooperativa, crescerão úteis e saudáveis, entanto e enquanto, todos os meios de comunicação independentes entendamos que precisamos lavorar juntos, nos organizarmos, e juntos ampliarmos as fronteiras da mensagem e a inserção na luta pela transformação dos hábitos comunicacionais impostos pelo modelo único. Sozinhos podemos até fazer muito barulho, mas, não mudar a correlação de forças entre os monopólios e o jornalismo independente. De modo que só seremos úteis com todos os meios unidos, diversos, livres e consistentes, ou ninguém será alternativa aos veículos do sistema. A Soberania Comunicacional, quem conquista é a massa, não um grupo de sonhadores ou uma turma de iluminados. Há que chegar na massa então. Esse desafio é de todos, não do Desacato ou da nossa pequena Cooperativa. Há que se formar novos jornalistas, novos comunicadores sociais, novos atores culturais, novas linguagens, livres e soberanas.

Fonte: Daqui na Rede.

2 COMENTÁRIOS

  1. é uma grande alegria saber/ler desacato e poder dizer parabéns e agradecer. Que floresça por todos os caminhos!

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