Por que os EUA tentaram boicotar resolução da ONU que incentiva a amamentação

Foto: Freepik

Por Débora Melo.

Os Estados Unidos tentaram enfraquecer uma resolução de incentivo à amamentação apresentada durante reunião da Assembleia Mundial da Saúde, promovida em maio pela OMS (Organização Mundial da Saúde), órgão da ONU. A revelação foi feita pelo jornal norte-americano The New York Times.

De acordo com a reportagem, por trás da investida contra o aleitamento materno está a defesa, pelo governo de Donald Trump, de interesses da indústria alimentícia.

O mercado de alimentos para bebês, diz o NYT, movimenta cerca de US$ 70 bilhões (R$ 266 bilhões) por ano e é dominado por empresas norte-americanas e europeias. Para 2018, é estimado um crescimento de 4% para o setor, segundo cálculos da Euromonitor International, empresa de inteligência estratégica de mercado.

A resolução apresentada na Assembleia baseou-se em 4 décadas de pesquisa e concluiu que o leite materno é mais saudável para crianças. O texto recomenda que os países limitem o “marketing impreciso ou enganoso” de métodos substitutos ao leite materno.

Os EUA tentaram eliminar do texto o trecho que diz que os governos devem “proteger, promover e apoiar a amamentação“. Diante dos esforços diplomáticos em vão para modificar a resolução, passaram a intimidar outras nações.

Ameaças

As ameaças foram relatadas à reportagem do NYT por diplomatas e funcionários do governo dos EUA e confirmadas por “mais de uma dúzia de participantes de vários países”, muitos na condição de anonimato.

O Equador, que apresentaria a resolução na Assembleia, foi o primeiro alvo. Representantes de Washington prometeram sanções comerciais a Quito, e os equatorianos desistiram de apoiar o texto.

As autoridades também sugeriram que os EUA deixassem de contribuir com a OMS. Com US$ 845 milhões (R$ 3,2 bilhões) repassados em 2017, o governo norte-americano é fonte de 15% do orçamento da organização.

Desfecho

Ao final da Assembleia, coube à Rússia apresentar a resolução, e os norte-americanos não os ameaçaram, relata o NYT. Os EUA não tiveram muito sucesso em suas investidas, e o texto final acabou preservando a maior parte da resolução original.

Os norte-americanos conseguiram alterar, porém, o trecho que afirmava que a OMS daria suporte técnico aos países que buscam enfrentar a promoção inapropriada de alimentos para crianças.

À reportagem, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, agência que liderou o esforço para alterar a resolução, negou envolvimento nas ameaças ao Equador, mas afirmou que a resolução original “colocou obstáculos desnecessários para as mães que buscam fornecer nutrição para seus filhos”.

“Nós reconhecemos que nem todas as mulheres são capazes de amamentarpor uma série de razões. Elas devem ter a escolha e o acesso a alternativas para a saúde de seus bebês e não devem ser estigmatizadas por isso”, disse ao NYT um porta-voz da agência, por e-mail.

Alegando que não poderia discutir conversas diplomáticas privadas, o Departamento de Estado dos EUA não se pronunciou.

O leite materno é rico em nutrientes essenciais e anticorpos que protegem os recém-nascidos contra doenças infecciosas. De acordo com estudo publicado em 2016 pela revista científica The Lancet, o aumento expressivo dos índices de amamentação evitaria 800 mil mortes de crianças por ano no mundo e geraria uma economia de US$ 300 bilhões.

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